Clássicos da Arquitetura: Banco de Londres em Buenos Aires / Clorindo Testa

Por Carlos Candia

Numa cêntrica esquina da cidade portenha, produto de um concurso restrito convocado em 1959, se eleva o edifício do Bando de Londres, hoje Banco Hipotecário Nacional. Chama a atenção pelo tratamento plástico de suas fachadas, compostas por grandes peças de concreto aparente, que parecem escorrer desde a coberta até a rua, se fazendo às vezes de sustentação estrutural e de tela perfurada, de membrana concreta que articula o generoso e expansivo espaço interior com o estreito espaço urbano, materializando uma particular intenção de continuidade entre ambos âmbitos. Esta continuidade foi uma das premissas da proposta de Testa, com a clara intenção de penetrar com as estreitas ruas no interior do edifício, conformando uma espécie de praça coberta, segundo suas próprias palavras. O ingresso do público se realiza pela esquina, retrocedendo as portas e armando um espaço intermédio entre interior e exterior, que fica limitado virtualmente por uma grande empena de concreto sobre a esquina.

© E. Colombo

O edifício surge do lápis de um jovem Testa, que se associa com um escritório de maior experiência, o SEPRA (Sánchez Elía, Peralta Ramos, Agostini), para sua concretização. O projeto começa a subverter muitos dos supostos que se tinham como chaves para um edifício bancário e que deram resposta à necessidade de renovar a imagem da instituição que convocava o concurso. A usual envolvente mural, opaca e pesada, é agora muito transparente para os parâmetros da época, com o vidro conformando uma segunda pele que corre por detrás das proteções de concreto.

© E. Colombo

O espaço interior, produto de uma audaz operação estrutural, é múltiplo, complexo, diáfano, com intenção urbana. Permite vistas cruzadas de dentro a fora, de um nível a outro, de cima a baixo. O público e os empregados circulam por espaços generosos, confortáveis. A luz ingressa difusa pelas estruturas perfuradas e se derrama pelas superfícies de concreto aparente elegantemente tratado, que materializa todo o edifício.

© E. Colombo

Nas fachadas, o concreto aparece fragmentado, quase desarmado, sua lógica parece invertida. Esse material, protagonista excludente da obra, está conformado por formas de tábuas de madeira, cuja textura ainda se pode apreciar em todas suas superfícies. Não há pré-fabricação, não há repetição, o material é tratado plástica e artesanalmente. No entanto, os elementos de alumínio e os grande panos de vidro, de alguma maneira referenciam um incipiente desenvolvimento industrial, plasmando a condição de identidade da América Latina em progresso.

© flickr ekainj

Um grande coluna de concreto organiza o espaço central do edifício, tanto espacial como estruturalmente. Um escada se enrosca escultoricamente num de seus lados; mas esse elemento é também a caixa de elevadores. As quatros lajes superiores (para uso interno do banco) se suspendem mediante tensores de aço que partem da laje de coberta, os dois níveis inferiores (de uso público) são bandejas que estão sustentadas por colunas fungiformes, despejando o espaço central em múltiplas alturas. Nem as lajes superiores nem as bandejas tocam a grande coluna central, as fachadas ou as paredes intermédias. Com essas operações, Testa libera as plantas e flexibiliza o espaço.

© Julios Schulman

Um observação detalhada dessas plantas mostram a presença tácita de malhas ordenadoras, mas que permanecem em profundidade, que não são claramente visíveis, contaminadas por uma liberdade compositiva pouco usual e liberadas de ataduras geométricas rigorosas, ainda que funcionais por razões estritamente programáticas.

© Julios Schulman

Convertido num edifício icônico de uma já madura modernidade rio-platense, o Banco de Londres é Monumento Histórico Nacional desde 1999.

Croquis

Ficha técnica:

  • Arquitetos:Clorindo Testa
  • Ano: 1966
  • Tipo de projeto: Institucional
  • Status:Construído
  • Materialidade: Concreto
  • Estrutura: Concreto
  • Localização: Buenos Aires, Argentina

Sobre este escritório
Cita: Igor Fracalossi. "Clássicos da Arquitetura: Banco de Londres em Buenos Aires / Clorindo Testa" 20 Abr 2013. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-39798/classicos-da-arquitetura-banco-de-londres-em-buenos-aires-clorindo-testa> ISSN 0719-8906

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