Como fazer arquitetura, não arte

Dessen Hillman é um estudante de pós-graduação no MIT, em busca de um título de mestre em Arquitetura e Urbanismo. Ele tem interesse em investigar o papel da arquitetura em diversas configurações urbanas através da esfera do projeto arquitetônico.

Desde o movimento moderno na arquitetura (no início do século XX), o projeto de edifícios tem seu foco voltado para a sua expressão como uma entidade única, tornando-se mais arte que arquitetura. Edifícios são formalmente mais expressivos agora do que jamais foram. Após ponderar as diferenças entre os dois, cheguei à conclusão de que há uma diferença fundamental:

Arte é uma forma de auto-expressão sem absolutamente nenhuma responsabilidade com alguém ou algo. Arquitetura pode ser uma obra de arte, mas deve se responsabilizar pelas pessoas e seu contexto.

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Isto não significa dizer que a arte não possa causar impacto nas pessoas. É exatamente o contrário. Diversas obras de arte se tornam muito influentes e, até mesmo, politicamente poderosas. Muitas delas, de fato, são concebidas como uma forma de crítica a algum evento, governo, movimento, etc. Por exemplo, a série de fotografias do artista chinês Ai WeiWei sabiamente intitulada "Estudo em Perspectiva" mostra diversos edifícios politicamente importantes com um braço estendido em direção aos mesmos mostrando o dedo médio erguido.

Como uma ferramenta poderosa que a arte é, ter potencial não é o mesmo que ter responsabilidade.

Arquitetura, antes de ser uma arte, deve ter consciência das pessoas. Pouco vale explorar formas e criar estes arquitetônicos como arquitetura sem estar constantemente ciente da experiência e percepção das pessoas. Entretanto, é muito comum nestas experimentações formais, definir a arquitetura em função do desenho e da tectônica. 

Como fora mencionado, a arquitetura pode ser uma obra de arte. De fato, muitas arquiteturas bem sucedidas são magníficas obras de arte a seus próprios modos (formalmente ativas ou passivas). Ao ter a responsabilidade de responder às pessoas, arquitetura é, de fato, uma tarefa mais desafiadora que a arte. Ela é sem dúvida mais limitada e menos expressiva. 

Eu não sou de forma alguma um entusiasta da arquitetura banal. Estou simplesmente tentando me lembrar, e espero lembrar a outros arquitetos, que arquitetura deve iniciar a partir de sua tarefa fundamental. Ela deve proporcionar uma boa experiência para as pessoas dentro e fora dela. Deve ser responsável ao menos pelo seu contexto imediato e por seus habitantes. Neste ponto, então, ela se torna uma impressionante obra arquitetônica, quando ela é também uma obra de arte e se responsabiliza pelo ambiente de alguma forma. 

Asakusa Culture Tourist Information Center by Kengo Kuma. Right: Audi Forum Tokyo by Creative Designers International. Image © Dessen Hillman

Por exemplo, a imagem acima à esquerda mostra uma obra arquitetônica em Asakusa, relacionando-se com sua esquina através de sua forma e fachada. Não é fácil imaginar este edifício em qualquer outro lugar. Seus planos exteriores estão alinhados com os edifícios de seu entorno e os materiais utilizados estão apropriados para o contexto do tradicional distrito de Asakusa. 

A imagem à direta mostra uma obra escultórica próxima a Harajuku que se encontra isolada e grita por atenção (note que ela se agita no espaço entre os dois edifícios sem tocá-los). Este edifício pode facilmente ser "transportado" e implantado em qualquer outro lugar do mundo e ainda assim estaria tão contextualizado quanto está na realidade. 

Eu descobri um modo muito simples e fácil de testar se um edifício tende mais para a arquitetura ou para uma obra de arte através das lentes de uma câmera. Eu percebi que a maioria das pessoas (arquitetos, estudantes de arquitetura, assim como não-arquitetos) olham para arquiteturas assim como olham para objetos. Elas olham os edifícios enquanto esculturas. Percebe-se isso pelo modo como elas fotografam os edifícios. Frequentemente, vejo pessoas centralizando a arquitetura nas fotografias, os edifícios recebem o foco nas composições através do visor da câmera. É compreensível e instintivo como somos atraídos por objetos belos.

No entanto, enquanto arquitetos, devemos estar cientes de que este processo de pensamento altera fundamentalmente nossos próprios projetos. Se vemos os edifícios como objetos esculturais (frequentemente inconscientemente), nós, sem dúvida, projetaremos eles como esculturas. Isto é muito visível quando olhamos as telas dos computadores de arquitetos e estudantes. É uma prática comum hoje em dia um arquiteto projetar um objeto (a arquitetura) isolado em um mundo virtual 3D, flutuando no espaço, tendo especial atenção aos detalhes, formas e estruturas. É muito raro observar o contexto sendo levado a sério no processo de projeto. No máximo é feita uma "análise" do local que é tratada separadamente e incorporada ao projeto em uma via de mão única. Arquitetos raramente prestam atenção no contexto do edifício que estão projetando. 

National Museum of Art, Osaka - Arata Isozaki. Image © Dessen Hillman.

Através de fotografias panorâmicas, podemos incluir muito mais do contexto em volta da arquitetura que estamos observando. Embora distorcida, imagens panorâmicas são ótimas maneiras de se observar o contexto de um edifício (formal, programático e cultural). É um modo fácil que permite ver como uma estrutura qualifica uma arquitetura, transformando-a em uma obra de arte. Através das panorâmicas, podemos adiquirir o hábito de questionar e criticar a relação entre a arquitetura e o seu contexto, levando-nos, se espera, a uma melhor arquitetura. 

Afinal, o que resta à arquitetura sem o seu contexto?

Sobre este autor
Cita: Quirk, Vanessa. "Como fazer arquitetura, não arte" [How To Make Architecture, Not Art] 13 Mar 2013. ArchDaily Brasil. (Trad. Britto, Fernanda) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-102066/como-fazer-arquitetura-nao-arte> ISSN 0719-8906

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