Arborizando Arranha-céus: entrevista com Lloyd Alter

Com conclusão prevista para o fim do ano, Bosco Verticale, do Boeri Studio, será a primeira floresta vertical do mundo. O projeto conquistou diversos adeptos, assim como detratores. Sobre essa polêmica, Lloyd Alter - arquiteto, entusiasta do design sustentável e editor-chefe do site Treehugger, chamou-o de "o render que gerou mil posts em blogs".

E talvez nenhum outro blogueiro tenha causado tanta comoção na comunidade arquitetônica quanto Tim De Chant, que implorou "podemos, por favor, parar de colocar árvores em arranha-céus”? O artigo de De Chant iniciou um turbilhão de comentários dos leitores do ArchDaily, debatendo vigorosamente, contra e a favor, a ideia de colocar árvores em edifícios.

Para chegar ao centro da questão conversamos com o próprio Lloyd Alter sobre florestas verticais e os verdadeiros desafio e ganhos que apresentam. Lloyd é um contribuidor frequente para publicações como Inhabitat e The Huffington Post; Também leciona na Ryerson University of Interior Design.

Lloyd Alter, via Treehugger

Quais são os maiores desafios da construção de florestas verticais e como esses obstáculos podem ser superados, se é que podem?

Árvores e o solo na qual vivem são pesados. As jardineiras de concreto que as suportam são pesadas. Pergunto-me qual será o tempo necessário para que o CO2 correspondente à fabricação desses elementos seja absorvido pelas árvores. Suspeito que nunca.

Quais são os prós e contras?

O maior benefício é o sombreamento. Trepadeiras e árvores são os dispositivos perfeitos porque suas folhas caem, deixando o sol passar no inverno, e sombreando no verão. Obviamente elas absorvem CO2 e limpam o ar. Há poucas desvantagens.

A maior delas que posso apontar é a adequação das árvores em comparação a trepadeiras e outras plantas. Se estivesse convencido que o resultado seria igual ao render, não teria ressalva alguma.

Você acha que Bosco Verticale, uma floresta vertical em Milão, está no caminho para prosperar onde tantos outros falharam?

Não tenho certeza se está no caminho do sucesso. Espere dez anos. Pessoalmente, adoro a ideia. Eu simplesmente espero que funcione.

Bosco Verticale. Image © Marco Garofalo

Como você acha que Bosco Verticale será daqui a dez anos?

Suspeito que não muito diferente do que será um ano após o plantio das árvores, Elas podem não morrer, mas não vão transformar-se na floresta mostrada na renderização. Simplesmente não há espaço para as raízes. Vê-se isso em árvores das cidades o tempo todo; elas sobrevivem, mas crescem realmente, não têm espaço suficiente.

Milão é uma das cidades mais poluídas do mundo, e parte do objetivo do Bosco Verticale é usar suas árvores para limpar o ar. Haverá um efeito sensível na qualidade do ar e como isso afetará as próprias árvores?

Estou certo de que haverá um efeito perceptível na qualidade do ar para as pessoas que vivem no edifício; apenas sentar em baixo de uma árvore é adorável e fresco por conta da sombra e da evapotranspiração. Árvores são os guarda-sóis perfeitos. De diversas maneiras, é absolutamente a coisa mais lógica a fazer em um edifício, são o aparato de sombreamento sazonal perfeito. Minha maior preocupação é que a realidade nunca se equipare à ideia porque, novamente, não estão no solo, mas em uma jardineira de tamanho limitado.

Existem considerações adicionais quanto à segurança da construção de florestas verticais?

Peso e a quebra de galhos em tempestades. Isso ocorre no nível do solo e os galhos chegam a matar pessoas. O que acontecerá quando caírem de cima de um prédio?

Você escreveu que plantar árvores em edifícios é fazer uma embalagem verde. Pode elaborar isso?

Por "embalagem verde" me refiro a usar algo ecológico, como um telhado-jardim ou painéis solares, para disfarçar ou tentar minimizar o impacto de um uso nocivo ou algo que não se encaixa. Esse não é caso deste edifício, as árvores são parte importante dele, sua característica mais marcante.

Você possui projetos de florestas verticais preferidos?

Veja o trabalho de Eduoard François, que começou com a Flower Tower e prosseguiu com projetos maiores. Ele não faz paredes verdes, mas fachadas vivas, plantadas no solo e que crescem para cobrir o edifício. The Building that Grows é o meu favorito, onde os muros foram projetados como uma colina natural, de gabião, que promove um crescimento natural.

Flower Tower. © Edouard François

Do site de Eduoard François:

"Uma manhã, trabalhando com pedras, tela de alambrado e concreto, inventado uma pele viva. Ela tinha de crescer, brotar. Colocamos sacos de terra vegetal e plantas por detrás das pedras. Regamos com fertilizante orgânico. A semeadura foi feita por alpinistas. Em seguida, instalamos um sistema de irrigação automático na fachada.

O edifício cresce. Lentamente. Sua pele tornou-se um tipo de miniecossistema. A alga se deposita nos interstícios, algas nascem e morrem, musgos crescem e ervas colonizam o composto resultante. Dispersos, traços físicos refletem essas transformações".

The Building that Grows / Eduard Francois © Nicolas Borel

Existem projetos promissores de florestas verticais em andamento?

Tenho visto diversos deles, mas não me lembro se são utopias da Evolo ou realidade.

Você acha que florestas verticais serão uma realidade?

Tenho sérias dúvidas.

Quanto do problema vem das árvores? Edifícios cobertos de outras formas de vegetação seriam mais sensatos? Se sim, qual tipo de vegetação?

Essa é parte do problema; árvores evoluíram para existirem no solo. Há todo tipo de planta que evoluiu para subir e rastejar. Alguns deles nascem nas menores fendas e se prendem nas menores pedras. Acho que existem muitas espécies de plantas que poderiam facilmente serem incorporadas a edifícios.

Que conselho você daria para arquitetos interessados em trabalhar nessa área?

Almocei com um advogado que tinha um problema: seu cliente queria construir casas em vielas sem esgoto e água encanada e ele se perguntou: haviam alternativas? Na verdade existem várias, de coleta de água pluvial a vasos sanitários com compostagem, é possível ficar de fora dos canos bem como dos fios. Telhados verdes e florestas verticais proporcionam um aumento da nossa independência e invulnerabilidade; eu adoraria uma laranjeira na minha varanda para adoçar meu café da manhã. Temos de procurar maneiras de tornar a vida verticalizada tão agradável quanto a térrea, e isto significa: mais ecológica.

Que conselho você daria para pessoas que vivem em cidades e querem uma vida mais verde?

Primeiro, invista em seu telhado. As leis de zoneamento deveriam obrigar todas as coberturas a serem verdes, e não quero dizer só uma fina camada de vegetação, mas um terraço realmente habitável, servindo para arborização e agricultura.

Em seguida precisamos recuperar as ruas. É um crime uma pessoa poder ocupar quase 20 m² para estacionar um carro, quando se pode cultivar alimentos equivalentes a $1400 nesse espaço. Quem deu esse espaço todo aos carros? Talvez não precisaríamos pensar sobre florestas e agricultura verticais se usássemos apropriadamente o espaço horizontal dos terraços e ruas.

Morador do Brookling, Nova Iorque, Alex Levin é escritor, e está se especializando em design sustentável. Para mais informações sobre arborização, visite Sherrill Tree Learning Center.

Sobre este autor
Cita: Alex Levin . "Arborizando Arranha-céus: entrevista com Lloyd Alter" [Putting Trees on Skyscrapers: An Interview with Lloyd Alter] 18 Jul 2013. ArchDaily Brasil. (Trad. Arruda, Murilo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-128248/arborizando-arranha-ceus-entrevista-com-lloyd-alter> ISSN 0719-8906

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