As pessoas queer sempre estiveram presentes, encontrando formas de existir, se reunir e celebrar. Embora sua visibilidade nem sempre tenha sido destacada ao longo da história, por terem que se submeter estritamente à heteronormatividade no passado, não significa que antes não tinham espaços próprios para chamar de seus. Espaços queer, no passado e no presente, têm sido categorizados como locais fortes, vibrantes, vigorosos e dignos de ocuparem seu próprio lugar na história. São lugares seguros para identificação de individualidades, convivência, entretenimento e até oferta de moradia comunitária. Sendo assim, sempre haverá a necessidade de espaços queer.
Apesar dos avanços sociais e da crescente aceitação das comunidades queer recentemente, alguns ainda podem achar difícil aceitar uma narrativa que não seja cisgênero e heterossexual, mesmo no século XXI, resultando em desacordo, exclusão social e violência comunitária. Nosso presente, no entanto, mais do que nunca, lança luz sobre a necessidade de que os membros da comunidade LGBTQIA+ tenham espaços onde possam reivindicar e existir sem medo, para além das portas fechadas, especialmente num ambiente construído dominado principalmente por projetos orientados pelo gênero. Christopher Reed, autor de Imminent Domain: Queer Space in the Built Environment (1996), afirma que "o espaço queer existe potencialmente em todos os lugares do domínio público".
Aqui, pretendemos refletir sobre os espaços queer existentes, celebrar seus triunfos e considerar como garantir que o futuro do espaço público e da arquitetura sempre priorize a segurança, a hospitalidade e a inclusão de todos.
Antes de mais nada, muitos de vocês podem estar se perguntando o que é um espaço queer. Um espaço queer pode ser simplesmente colocado como um espaço ou estratégia que intrinsecamente conecta ou vincula a arquitetura com a sexualidade e a identidade de gênero de uma pessoa. Os espaços queer são projetados com a intenção de que os corpos das pessoas queer estejam lá, definindo a necessidade de iterar sua verdadeira identidade, sexualidade e a necessidade de se conectar, seja no nível físico ou através da perspectiva da comunidade.
Quando pensamos em espaço queer, talvez possamos primeiro ser atraídos para as metáforas arquitetônicas há muito entrelaçadas com a identidade não heterossexual: o armário e o banheiro. A frase "sair do armário" tem sido amplamente utilizada desde a década de 1960 para descrever um indivíduo queer tornando sua identidade e preferências explicitamente conhecidas.
Era a construção arquitetônica e a ideia do armário que se assemelhava aos desejos mais profundos, vontades e roupas que essas pessoas usavam quando estavam na companhia de amigues. A noção de "estar dentro do armário" significava privacidade e segurança, protegida do público, mas à medida que progredimos continuamente com os avanços sociais, o armário está lentamente deixando de ser um dos únicos lugares onde pessoas queer podem experimentar segurança e liberdade.
Com a intenção de promover a inclusão de gênero nos espaços públicos, a implementação de banheiros de gênero neutro tem sido cada vez mais frequente. O banheiro moderno e de gênero neutro é simplesmente um banheiro público acessível e projetado para o uso de pessoas de qualquer gênero. Tais projetos têm sido bem sucedidos ao manter a privacidade e a segurança de quem os usa, ajudando a aliviar o desconforto e o risco que vem com a decisão de usar o banheiro masculino ou feminino para pessoas transgêneras ou não-binárias.
Além dos espaços público-privados dos banheiros, também existem espaços queer para entretenimento e celebração, como boates, bares e pistas de dança. Nesses espaços, as pessoas LGBTQIA+ também encontram um senso de comunidade e pertencimento. Locais de vida noturna para pessoas queer facilitaram o início de relacionamentos, a reunião de ativistas e a 'mesa redonda' para discussões políticas. Muitos desses espaços simbolizavam liberdade e segurança, mas frequentemente sofrem com incidentes envolvendo tumulto e violência armada.
Assim como em tantos espaços queer, arquitetos, comunidades, contextos e contribuições da vida noturna para o ambiente construído estão ausentes na história da arquitetura. Alguns desses icônicos espaços queer não estão nos livros de história, mas seu impacto na comunidade permanece. Apesar de alguns dos mais conhecidos bares e discotecas já não estarem em funcionamento, os novos locais de diversão noturna das metrópoles e a paisagem urbana continuam entre nós e em plena expansão.
Além disso, espaços queer como as habitações comunitárias continuam a ser cada vez mais procuradas devido à falta de aceitação social nas famílias e bairros, bem como ao âmbito dos indivíduos, sujeitos à exclusão e violência. A LGBT Youth Commission (2016) realizou uma pesquisa e também a revisão por pares de pesquisas existentes realizadas pelo Albert Kennedy Trust, e descobriu que até 24% dos jovens são LGBT, 69% dos jovens LGBT sem-teto sofreram violência, abuso ou rejeição da família em casa, e 77% afirmam que sua identidade LGBT foi um fator decisivo para se tornarem sem-teto. Com esta pesquisa em mente, o acesso à moradia adequada para pessoas queer é uma questão ainda mais urgente.
O Leong Leong and Killefer Flammang Architects' LGBT Center em Los Angeles é uma nova tipologia para o desenvolvimento urbano baseado na comunidade, que inclui diversos programas de habitação social e acessível. O campus urbano aberto e voltado para pedestres conta com uma praça pública e uma série de pátios que unem vários serviços sociais, bem como programas culturais e institucionais. O resultado é uma nova plataforma integrada para viver como uma comunidade intergeracional LGBTQIA+.
Embora possa parecer que o foco de habitação seja para jovens queer, também há uma necessidade de habitação para pessoas idosas queer. Pesquisas relatam que até 53% dos LGBTQ+ vivenciam isolamento social. Em dezembro de 2019, outro equipamento queer-friendly abriu suas portas. Apelidada de Stonewall House como uma homenagem ao famoso Stonewall Inn, a estrutura de uso misto de 17 andares e 115.200 metros quadrados projetada pela Marvel Architects é o maior conjunto habitacional para pessoas idosas LGBT dos EUA.
Tais espaços são primordiais para a oferta de ambientes para a construção de comunidades significativas para a convergência da existência queer e mudanças no modo de vida doméstico. Esses são apenas alguns exemplos que destacam os espaços queer-positivos e a inclusão presente em seus respectivos projetos. Os designers devem sempre consultar as comunidades marginalizadas durante todo o planejamento e projeto da arquitetura e do espaço público. Pippa Catterall, da Universidade de Westminster, diz que "temos que ir além da ideia de projetar espaços públicos de uma forma em que eles não compreendam a diversidade dos usuários, ou, ainda, como as pessoas serão possivelmente visadas nesses espaços."
Adam Nathaniel Furman, coautor de Queer Spaces: An Atlas of LGBTQIA+ Places and Stories, afirma que "crescer queer significa experimentar a ausência desestabilizadora de uma história queer ampla e acessível, principalmente, no nosso caso, em relação ao design espacial". É de suma importância que haja um destaque para a comunidade de colaboradores que trazem novas perspectivas para o campo da arquitetura e compartilhem histórias de espaços que desafiam a moral cis-heteronormativa, abrigando vidas que buscam viver suas próprias verdades. Christopher Reed sugere ainda que "fundamentalmente, o espaço queer é o espaço no processo de, literalmente, acontecer, de reivindicar o território".
À medida que continuamos a trabalhar até os dias atuais com o conhecimento do poder que os espaços queer possuem e sua importância na sociedade, na esfera pública e no ambiente construído, podemos ter esperança de que essas informações continuamente abram e ampliem os horizontes de arquitetos e designers que não são queer. No entanto, no caso de você também se identificar queer, o reconhecimento de que você existe deve te encorajar a ocupar mais espaço, a ter mais orgulho, e produzir um trabalho que seja totalmente queer, sem medo, consciente da história gloriosa da qual seu trabalho fará parte.