Madeira bruta em fachadas: dicas e exemplos

No momento em que uma árvore é cortada e seus processos biológicos são interrompidos, pode-se dizer que se inicia também o processo de deterioração da madeira. Etapas como o corte correto do tronco, a secagem e armazenamento ou a especificação certeira das melhores espécies para cada uso determinarão a durabilidade da mesma. Formada basicamente por celulose, hemicelulose e lignina, cada espécie de madeira apresenta uma determinada durabilidade natural, influenciada também pelas condições ambientais de onde ela está inserida, como a temperatura, a umidade, o teor de oxigênio, e os microrganismos e insetos ali presentes. Geralmente, utilizam-se tratamentos na superfícies para aumentar a proteção das peças, como vernizes, óleos e outros processos químicos. Mas há situações em que madeiras sem tratamento podem ser utilizadas em exteriores, alcançando uma estética acinzentada e sóbria que se mescla ao exterior e traz personalidade à edificação.

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Günter Richard Wett. Image © Günter Richard Wett

Quando a radiação ultravioleta do sol entra em contato com a superfície desprotegida da madeira, ela decompõe a lignina na celulose, causando degradação fotoquímica. O resultado é uma mudança na aparência da madeira de sua cor original para um brilho cinza prateado gradual. Como aponta Rebecca Ellison, em seu artigo sobre os efeitos da luz nos materiais, algumas das longas cadeias moleculares se rompem, diminuindo o grau de polimerização e enfraquecendo o material. No entanto, ela aponta que “é improvável que a deterioração tenha um efeito significativo na integridade estrutural já que a auto-oxidação ocorre apenas na superfície.” Ou seja, se a madeira é adequada para tal, ela ficará quase intacta por trás de sua aparência áspera e cinza.

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Bohicket House / Habitable Form. Image © Form Photography & Design

Ainda que o efeito estético resultante agrade a muitos, há alguns cuidados a serem tomados para que a fachada não se torne uma decepção. Primeiramente, nem todas as espécies de madeira são adequadas para serem utilizadas externamente e, principalmente, sem tratamento. Falar sobre tipos de madeira é sempre delicado, pois há diferenças significativas entre os países, climas e mesmo onde a árvore cresceu. O importante é buscar nos guias de espécies locais quais suportam melhor ao ataque de fungos e que tenham maior resistência ao apodrecimento. Ao estudarmos alguns dos projetos publicados no site, observamos que algumas espécies figuram com mais frequência. São elas o Freixo, o Lariço, o Cedro e o Cipreste, cada qual. Mas há exemplos com carvalho e nogueira também. Madeiras mais moles, como o Pinus ou o Abeto demandam tratamento. Segundo algumas fontes na internet e pesquisas acadêmicas, há madeiras que aguentam até 40 anos sob as intempéries.

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Summer House Gravråk / Carl-Viggo Hølmebakk. Image Cortesia de Carl-Viggo Hølmebakk
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Annandale Scrubby Bay / Pattersons. Image © Stephen Goodenough

Outro ponto importante para a utilização de madeiras sem tratamento, seja qualquer uma das espécies, é dar preferência à parte do cerne, sempre que possível. Trata-se da parte mais escura e madura do tronco, que é mais rígida e dura devido ao seu alto teor de lignina. O alburno, por sua vez, consiste em partes mais jovens da árvore, são mais claras e em formação, contêm mais água e pouca lignina, tornando-se mais propensos ao ataque de xilófagos e apodrecimento.

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Maritime and Beachcombers Museum / Mecanoo. Image Cortesia de Mecanoo
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Wauhaus Cabin / Hello Wood. Image © Máté Lakos

Este artigo de Wade Shaddy traz algumas boas dicas para a utilização de madeira bruta nas fachadas. Além das já citadas espécies mais adequadas, ele aponta que manter a madeira sombreada e seca manterá os fungos longe por mais tempo. Como eles preferem se multiplicar em cantos úmidos, é importante que as águas sejam escoadas o mais rápido possível, sem acumular em nenhum ponto. Por isso é importante atentar para detalhes de pingadeiras e, sobretudo, que a madeira não permaneça em contato com o solo. Quanto mais quente e úmido for o local, maior preocupação deve ser dada quanto aos insetos e fungos. É por isso que observamos muito mais exemplos de fachadas de madeira sem tratamento em locais frios e secos, inclusive em edificações sem beirais. Mas isso não é uma regra. Por exemplo, na Vila Taguaí, projeto de Cristina Xavier Arquitetura, em Carapicuíba, a madeira de cumaru foi utilizada aparente. Ainda que seja uma espécie altamente resinosa e resistente, um beiral pronunciado protege todas as fachadas.

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Casa Gianin / Clinicaurbana. Image © Valentino Nicola
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Vila Taguai / Cristina Xavier Arquitetura. Image © Daniel Ducci

Para além das preocupações com a aparência e resistência das fachadas sem tratamento, há recomendações para quaisquer trabalhos com madeira. Quando uma árvore é derrubada, ela ainda contém uma grande proporção de água / umidade - geralmente entre quarenta a cinquenta por cento do conteúdo de água. É importante que as peças sejam secas antes de serem instaladas, para que mantenham sua integridade física e dimensional. Madeiras bem secas não envergam ou descolam e são mais duráveis. Outra coisa a se levar em conta são os conectores - pregos e parafusos - que, preferencialmente, devem ser inoxidáveis e não deixem manchas nas peças se oxidarem.

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Stoaninger Mühlviertel Destillation / HPSA. Image © Dietmar Hammerschmid

Ainda que as fachadas sem tratamento não requeiram manutenção ou processamento das peças, é importante notar que espécies e partes da madeira mais nobres devem ser priorizadas. E o aspecto visual, em poucos anos, torna-se um atrativo à edificação, para os amantes dos materiais aparentes. Conheça mais alguns exemplos de fachadas com tábuas de madeira sem tratamento nesta pasta do My ArchDaily.

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Haus am Stürcherwald / Bernardo Bader Architekten. Image © Gustav Willeit Guworld

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Sobre este autor
Cita: Eduardo Souza. "Madeira bruta em fachadas: dicas e exemplos" 29 Jan 2022. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/974569/madeira-bruta-em-fachadas-dicas-e-exemplos> ISSN 0719-8906

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