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Arquitetos: Wonder Architects
- Área: 500 m²
- Ano: 2023
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Fotografias:Yumeng Zhu

Descrição enviada pela equipe de projeto. No início do século XV, a cidade de Huanghuazhen, então sob a jurisdição da Prefeitura de Changping, fervilhava com as obras da Grande Muralha. Perto da região de Xishuiyu, em um vale sem nome, foi aberta uma plataforma no meio da montanha, onde incontáveis pedras amarelas rústicas foram empilhadas. Supõe-se que ali se pretendia erguer um muro para fechar o vale, mas por razões desconhecidas o projeto foi abandonado, restando apenas um longo amontoado de pedras. Ao longo dos séculos, muitos castanheiros foram plantados nessa área. Pessoas viviam e trabalhavam sob sua sombra densa, e a cada outono os vales num raio de cem li se cobriam de ouriços felpudos de castanha. Em 2019, quando chegamos, uma equipe de construção ocupava a plataforma. Três ou quatro barracos improvisados haviam sido erguidos, com materiais e equipamentos espalhados por toda parte. Em meio à desordem, dezenas de antigos castanheiros resistiam firmes. O maior deles só podia ser abraçado por três pessoas juntas.


Aprendendo com os Barracos - O proprietário queria transformar o local em um acampamento, instalando grupos de tendas nos terraços em degraus. Para atender o espaço, eram necessárias instalações fixas na plataforma. No entanto, devido às restrições de construção, os primeiros barracos, erguidos aleatoriamente, acabaram delimitando o contorno das novas edificações. Para arquitetos ansiosos por liberdade de traço, isso pareceu inicialmente frustrante. Mas, ao observarmos melhor, ficou claro que aqueles trabalhadores eram especialistas em viver na montanha. Eles sabiam onde o solo era firme, onde a luz do sol entrava melhor e onde se proteger dos ventos fortes. Além disso, respeitavam os velhos castanheiros, acomodando os barracos entre suas copas com naturalidade.


Inspirados por essa lógica, reimaginamos o lugar. A visão do chão coberto de ouriços de castanha no outono era marcante — uma expressão rara e abundante da região de Yanshan. Assim, batizamos a nova estrutura de Terraço das Castanhas (Full Chestnut Terrace). Na China antiga, “terraço” era um conceito arquitetônico amplo, podendo significar tanto um mirante quanto um espaço de interação com a paisagem. Nosso objetivo foi restabelecer esse vínculo entre pessoas e natureza, a partir dos vestígios deixados pelos barracos originais.



Em muitos aspectos, a construção daqueles abrigos era bastante espontânea. O telhado, por exemplo, seguia a direção predominante da chuva e da neve, escolhendo a inclinação mais eficiente para o escoamento. Quanto aos materiais, adotava-se o que estava à mão: restos de outras obras serviam para erguer fachadas improvisadas. Mas dessas soluções práticas nasceu uma leveza inesperada, uma simplicidade que transmitia liberdade à arquitetura da montanha. Havia muito a aprender ali. Por isso, preferimos chamar o processo de reconstrução.


Estruturas de Madeira e Novas Relíquias - Limitados pelo terreno acidentado, todo o conjunto foi construído em madeira, combinando pórticos estruturais com paredes de contraventamento, em edificações de escala compacta. Nos módulos estruturados em madeira evitamos formas tradicionais: a planta adota número par de vãos, as fachadas são assimétricas e, nos beirais projetados, trocamos a madeira pelo aço, mais leve e autêntico.



As paredes de contraventamento foram pensadas segundo a lógica do “envolvimento”, conferindo peso e solidez ao conjunto. O telhado recebeu chapas metálicas onduladas, redefinindo sua silhueta. Os detalhes retomam a linguagem dos barracos originais, fazendo com que esse envoltório dialogasse melhor com o contexto construtivo dos materiais.

O Terraço das Castanhas foi concebido como uma estrutura de madeira contemporânea, com a tecnologia moderna como fio condutor. Quando ainda havia apenas os barracos, os trabalhadores recolhiam pedras amarelas dos montes antigos para erguer muros de fundação. Na reconstrução, usamos tijolos vermelhos reaproveitados de vilas vizinhas para unificar os volumes no nível do solo. Diversos muros inclinados redesenham o contorno, conectando o planalto ao bosque, criando uma camada artificial distinta das casas de madeira. Esse gesto confere um caráter memorial, como uma “relíquia” do nosso tempo.


Reconstruindo o Sentido Poético - Há mais de mil anos, o pintor Fan Kuan contemplou as montanhas e rios invernais do Norte e criou Paisagem Nevada em Floresta Fria. Um milênio depois, cena semelhante reapareceu em um vale das montanhas Yanshan. Não foi obra de planejamento deliberado, mas dos construtores dos barracos, que encontraram a composição perfeita para a arquitetura. O sentido poético nasce desse olhar — condensando inúmeras experiências —, e buscamos trazer novas formas ao edifício sem perder sua integração natural com a terra.



Tenho particular apreço por Contemplando a Pintura, de Li Shizhuo, pintor da dinastia Qing. Nela, dois eruditos erguem as taças, como se brindassem ao personagem retratado. O artista dispôs as figuras em um eixo ascendente, sugerindo um leve olhar para cima — uma maneira engenhosa de ver a paisagem. Nos espaços do Terraço das Castanhas, inserimos relações semelhantes. Curiosamente, antes mesmo de Li Shizhuo, o poeta Nalan Xingde já observava estas montanhas. Por volta de 1680, ele provavelmente esteve na região de Huanghuacheng, cumprindo a função de pastorear cavalos do imperador. É plausível que tenha passado pelo vale aos pés do Terraço das Castanhas, quando os castanhais eram ainda mais densos do que hoje.

Naquele inverno, escreveu o célebre poema “Dian Jiang Chun · Amanhecer em Huanghuacheng”:
Nas horas quietas após a primeira neve,
a geada nivela-se com o parapeito ao romper da aurora.
O vento do oeste sopra sem limites,
ergo-me e visto meu manto para contemplar a cena.
Nesse vasto horizonte,
sem querer, deixo escapar um suspiro profundo.
O amanhecer se aproxima,
as estrelas da madrugada se desfazem,
e gansos riscam o branco imenso dos céus.

Eu também esperei pelo amanhecer no Terraço das Castanhas, mas nunca vi gansos alçando voo das margens distantes. Às vezes me pergunto: como teria reagido o poeta, aos vinte e seis anos, se naquela manhã clara tivesse encontrado esta casa entre as trilhas da montanha?








































