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Arquitetos: Gabriel Kogan, Guilherme Pianca
- Área: 977 m²
- Ano: 2025
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Fotografias:Pedro Kok
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Fabricantes: Artsteel, Belas Artes, D'França, Dellano, Florense, NS Brasil, Neobambu, Plancus, mado

Descrição enviada pela equipe de projeto. A arquitetura vista de pontos nodais - Buscamos, na implantação da casa, deixar livre uma porção do terreno que perpassa praticamente toda a profundidade do lote de 42 por 15m. Disso se conformou uma situação em que, ao se adentrar no lote, o jardim se releva na frente e a casa, paralela a extensão do jardim, à esquerda. Essa vista externa da casa logo na entrada do lote, foi pensada como um ponto nodal de percepção do espaço. O percurso pela obra se faz, daí em diante, a partir da construção de uma sequência de vistas que exploram a frontalidade e a profundidade do espaço, minimizando diagonais.

Uma seção de um grid infinito - Os módulos de concreto da fachada, cada um com 2,90 metros de largura e 3,00 de altura, se repetem perpendicularmente ao longo de praticamente todo o terreno, em dois andares. Imaginamos que a casa fosse uma espécie de ocupações prototípica que poderia percorrer todo o território. As empenas cegas, no fundo e na frente, marcam um corte, abrupto, nessa continuidade, e sinalizam uma continuação infinita. A repetição está no cerne da ideia do minimalismo, mas aqui propomos uma reinterpretação dessa questão.


Acabamentos como elementos estruturadores - Procuramos ir em direção oposta às tendências de decoração que procuram construir os espaços a partir de sobreposições ornamentais de materiais em diversas camadas, como acabamentos desconectados das funções da arquitetura. Há nessa casa uma confluência entre função, materiais e acabamentos. Os painéis de madeira cumprem seu papel como portas ou biblioteca, por exemplo. O piso cimentício é o próprio piso. O vidro do caixilho, a própria janela. O concreto, a própria estrutura e assim por diante. Mesmo em espaços como banheiros e cozinha, a escolha do material levou em conta facilidade de manutenção e limpeza, além de durabilidade. Procuramos minimizar decisões arbitrárias.


O rebaixo da sala - Ao se sentar no sofá na sala, é possível olhar para o jardim na mesma altura do solo exterior. Isso confere uma relação pouco usual, surpreendente, entre interior e exterior. Além disso, conseguimos, com o rebaixo, um pé direito 55 centímetros mais alto na área social da casa para dar maior sensação de amplitude ao espaço, sem que tivéssemos que alterar o módulo da fachada, e sem criar uma casa "pernalta". Mantem-se assim tanto as proporções horizontais do conjunto como um todo e a proporção quadrada dos módulos externos.

O forro "sem nada" - Arquitetos geralmente estabelecem premissas em suas obras. Entre elas, para esse projeto, a mais complexa foi certamente a de manter o forro de madeira da sala inteiramente uniforme, sem nenhum ruído ou buraco, sem luminárias ou insufladores de ar-condicionado. Além de conferir uma atmosfera per se para a casa, isso induz o uso de iluminação indireta, rebatida – sempre mais agradável e aconchegante. O insuflamento do ar vem pelo piso e o retorno por uma tabica junto do caixilho. A sala se tornou uma espécie de caixa de madeira pura inserida dentro de uma grelha de concreto.


Um jardim de arbustos, árvores e pedras - A sala faceia inteiramente o jardim desenhado por Rodrigo Oliveira: pedras brutas e pesadas abrem caminhos entre a vegetação tropical. Olhando do ambiente social para fora, tem-se a impressão de que o verde é lançado, projetado para dentro, como uma viagem interior e introspectiva, como um jardim contemplativo. A construção de concreto estabelece uma relação ao mesmo tempo de tensão e harmonia com o jardim. Pensamos o jardim como uma envoltória controlada da casa, uma espécie de promenade arquitetônico que possibilita perspectivas específicas e cuidadosamente pensadas.

Uma confluência de arquiteturas - Trouxemos nosso repertório de trabalho anteriores, mas também nossos estudos de arquiteturas de outros países, tal como o Japão, Inglaterra, Suíça e Portugal. Entendemos que o projeto representa essa espécie de encontro de Escolas, algo que a nova geração de arquitetos no Brasil, não apenas nós, tem tentado desenvolver. Não se trata mais da Escola Paulista como foi entendida durante décadas e calcada em desdobramentos formais das obras dos mestres modernos.


Mais um andar - Sobre a dupla grelha vertical de concreto na fachada, há mais um andar, recuado. Calculamos as linhas de visibilidade para que esse volume não fosse perceptível do jardim. A ideia é que a sensação de horizontalidade da grelha da fachada não fosse rompida por esse último pavimento, que atendia a demanda programática dos clientes.


Uma transposição de sistemas estruturais - Curiosamente, as primeiras versões desse projeto foram feitas em estrutura de madeira. No entanto, por uma requisição do cliente, mudamos para concreto. Pode-se dizer que a noção concepção em madeira já trazia um certo raciocínio típico do concreto. No entanto, alguns detalhes que havíamos pensado para a madeira, como os pilares soltos do piso, se mantiveram na nova concepção arquitetônica.

Paleta de materiais - Construímos ao longo do desenvolvimento do projeto, uma paleta de materiais. O concreto da fachada foi feito com uma pequena quantidade de pigmento, o que trouxe uma tonalidade mais quente para o material. A partir daí, a paleta se adequou a uma atmosfera puxada para o vermelho que estabelece um contraste com o exterior verde escuro. Fizemos inúmeros protótipos de elementos in loco para entender como os materiais realmente se comportariam no lugar, buscando uma articulação meticulosa de tons.
