A ficção científica de After Yang e o futuro da arquitetura

After Yang é um filme de ficção científica escrito, dirigido e editado por Kogonada — cineasta americano nascido na Coréia do Sul conhecido por seus ensaios em vídeo sobre análise de conteúdo audiovisual. A trama principal do filme segue a história de uma família tentando reparar sua inteligência artificial danificada em um mundo pós-apocalíptico conectado pela tecnologia e natureza.

Alexandra Schaller, responsável pelo projeto de produção e, portanto, pelo visual dos cenários, imaginou um futuro que traduz estas considerações: desde a casa da família que recupera o projeto original de uma casa Joseph Eichler da década de 1960, à importância do espaço ao ar livre ao lado de uma grande árvore que captura as atenções, até cada um dos materiais presentes que tinham como premissa não serem descartáveis, mas renováveis ou biodegradáveis.

Entrevistamos Schaller para descobrir o que este novo mundo pode nos ensinar sobre o futuro da arquitetura.

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Cortesía de Alexandra Schaller

Fabian Dejtiar (FD): Em "After Yang" você criou um mundo de ficção científica baseado na natureza. Tanto os materiais naturais quanto os ambientes fazem parte do projeto narrativo. Qual é a inspiração por trás disso?

Alexandra Schaller (AS): Em nossas primeiras conversas criativas, (o diretor) Kogonada e eu discutimos o mundo visual do filme que queríamos criar. O filme é intencionalmente ambientado em tempo e lugar não especificados, mas o pano de fundo do mundo é um período pós-apocalíptico. A ideia era partir da ocorrência de uma grande calamidade natural, a partir da qual a humanidade passou por algum tipo de ajuste e agora vivemos em um mundo com menos destruição do ambiente natural e mais simbiose entre os humanos e a natureza.

Um dos temas centrais do filme é a ideia de conexão. A conexão com outros, mas também uma meditação sobre nossa própria conexão com o mundo ao nosso redor, com algo maior do que nós mesmos. Como se trata de um filme bastante interior, tanto existencial quanto espacialmente, procuramos todas as oportunidades no projeto para incorporar o mundo externo, a fim de reforçar a ideia de interconexão.

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Como resultado, foi importante para nós incorporar a vida vegetal em todos os contextos, assim como como a forma com que coisas específicas foram desenhadas para trabalhar com a natureza. Essa ideia geral infundiu todo o projeto do filme: criamos um carro autônomo movido por plantas e árvores iluminadas no Museu de Tecnologia. Kira, uma das personagens, trabalha em um laboratório botânico e a peça central da casa da família é uma bela árvore que pode ser vista de qualquer parte da residência. Um pequeno detalhe que pode passar despercebido é que todas as tábuas do piso da casa foram projetadas em um padrão onde parecem magnetizadas em direção ao pátio central e à árvore.

O maravilhoso de projetar um filme ambientado no futuro, que é um período de tempo que não existe, é que isso permite criar uma versão de um mundo futuro que você deseja ver, então foi isso que fizemos!

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FD: Entendo que vocês criaram algumas "regras internas" deste mundo para guiar o processo de desenho a fim de ter um filme criativamente harmonioso. Quais eram essas regras?

AS: Tomei o respeito pela natureza como meu guia. Estabeleci apenas uma regra estrita para a estética geral do filme, que era a de que não deveria haver adereços ou cenários que fossem imediatamente descartáveis e tudo tinha que ser renovável ou biodegradável, para que não houvesse plástico neste mundo. Embora o efeito seja bastante sutil, acho que é possível sentir isso no design do filme, pois esse conceito também se funde com o maravilhoso desenho de figurino de Arjun Bhasin, assim como muitos dos acessórios e o cenários que criamos para o filme.

Para os cenários, utilizamos muitas madeiras naturais e não tratadas, e para os detalhes metálicos, usamos cobre, pois esse material tem uma vida reciclável infinita. A decoração da casa também inclui muitos elementos orgânicos, como tecidos de fibras naturais e cerâmica de barro. Escolhas como essa foram incorporadas no projeto, o que acredito ter contribuido para a sensação geral de textura e calor.

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FD: Você poderia nos falar sobre seu processo de trabalho, como você traduziu tudo isso no set?

AS: É necessário ter uma equipe para fazer um filme, e em After Yang, eu tinha colaboradores criativos maravilhosos para ajudar a dar vida às minhas ideias. Dizem que o diretor de arte constrói a casa e o cenógrafo faz dela um lar, e é realmente verdade neste projeto, que se aplica à casa e a todos os outros ambientes que criamos. Meu diretor de arte Max Wixom, a cenógrafa JoAnne Ling e o designer gráfico Matt Vidalis (entre muitos outros!) foram fundamentais para traduzir os detalhes que eu imaginei para este mundo.

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FD: A Casa Fleming, uma dos principais cenários, atua como outro protagonista. Qual é a história por trás disso?

AS: Uma das muitas coisas que me atraíram no projeto desta história foi que a Casa Fleming é realmente o coração da família. Grande parte do filme acontece dentro dela, e é através de seu desenho que dizemos ao público que tipo de futuro os personagens habitam.

Há também uma sensação geral de ausência no filme uma vez que Yang não faz mais parte da unidade familiar, e uma das maneiras pelas quais Kogonada queria sentir isto era através de tomadas vazias da casa, permitindo ao espectador experimentá-la como seu próprio personagem, com uma presença própria na tela.

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Debatemos inicialmente se deveríamos ou não construir a Casa Fleming como um cenário, mas eventualmente escolhemos uma locação que encontramos e modificamos esta casa onde a estrutura era propícia aos tipos de composições visuais que Kogonada buscava para reforçar os temas da narrativa.

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A casa que escolhemos é original dos anos 60, um projeto de Joseph Eichler, de um conjunto do qual existem apenas três no estado de Nova York onde estávamos filmando, a maioria das outras foram construídas na Califórnia na época. Quando encontramos a casa, grande parte do caráter original dos anos 60 permaneceu, mas tudo havia sido pintado de branco e algumas partes estavam em mal estado de conservação. Fiquei encantada com o desafio de fazer esta casa de época tão icônica funcionar para nosso mundo futuro, dando a ela uma nova vida.

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Cortesía de Alexandra Schaller

Embarcamos em um processo para restaurá-la à sua bela essência, sem olhar para trás, mas sim mirando para frente. Tentamos imaginar como seria este tipo de casa no futuro, ao mesmo tempo em que tentamos nos manter fiéis à intenção original do projeto.

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A casa de Eichler tinha um fluxo encantador e uma bela interação entre o interior e o exterior. Plantamos uma árvore no pátio central para que se pudesse ver a vegetação de qualquer lugar da casa, o que era importante tanto visualmente quanto tematicamente.

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Queríamos que o desenho de nosso futuro fosse fácil, prático, confortável e acolhedor, com espaços projetados para viver, por isso removemos algumas paredes para criar um espaço mais aberto e funcional, introduzimos novos materiais para trazer de volta a textura, e acrescentamos cor para reavivá-la e introduzir o calor.

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Cortesía de Alexandra Schaller

Grande parte dos móveis da casa é modular, como o enorme sofá na sala de estar, por exemplo, que poderia ser facilmente guardado ou empilhado se a família precisasse do espaço para outras atividades, como a competição semanal de dança que tinham.

Através das escolhas de projeto, tentei dar à casa seu próprio caráter único, específico para nosso mundo, o que criaria uma impressão duradoura para o público.

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Sobre este autor
Cita: Dejtiar, Fabian. "A ficção científica de After Yang e o futuro da arquitetura" [La ciencia ficción de After Yang y el futuro de la arquitectura] 29 Jan 2023. ArchDaily Brasil. (Trad. Daudén, Julia) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/994748/a-ficcao-cientifica-de-after-yang-e-o-futuro-da-arquitetura> ISSN 0719-8906

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