Ao longo do ano passado—e muito provavelmente esta tendência permaneça no ano de 2021—, testemunhamos um considerável esvaziamento dos espaços públicos dos principais centros urbanos, algo que nunca antes havíamos visto e que muito provavelmente, não voltaremos a ver muito cedo. Essa sensação de ausência de trânsito e congestionamento foi uma das principais consequências dos longos períodos de quarentena. Curioso é o fato que, mesmo depois de amenizadas muitas das restrições impostas, o trânsito caótico das grandes cidades parece estar se negando a voltar à sua normal atividade.
Ao invés de esperar a volta à “normalidade”, os padrões de qualidade de vida estão tendo que ser reavaliados. De repente, passamos a viver em um mundo remoto, com as crianças estudando no quarto de casa enquanto os pais trabalham na sala e/ou na cozinha. O espaço doméstico transformou-se também no espaço de trabalho, de produção. A nossa rotina de deslocamento no espaço urbano foi substancialmente afetada, a tal ponto que precisamos nos lembrar de sair de casa pelo menos uma vez por dia. O mais provável é que, a partir de agora, depois de termos experimentado essa liberdade da não obrigação de estarmos fisicamente presente o tempo todo e em todo lugar, que a “normalidade” de fato nunca mais volte, e que isso não necessariamente será algo ruim.
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Uma das megatendências que estão remodelando o campo da arquitetura é a urbanização das chamadas megacidades. Entretanto, se estas metrópoles—que em alguns casos são até mais populosas que países inteiros—não forem geridas como cidades inteligentes, é muito provável que o antigo caos siga reinando mesmo depois do fim da pandemia.
O índice de trânsito do TomTom, o qual avalia em tempo real as condições de trânsito em 416 cidades de 57 países diferentes, nos oferece uma perspectiva bastante clara sobre o impacto global da pandemia nos congestionamentos urbanos das grandes ciudades do planeta. O algoritmo utilizado para calcular a porcentagem de aumento ou redução nos congestionamentos compara o tempo de deslocamento real com o tempo médio histórico de certos trajetos. A partir disso, o site apresenta uma série de dados de fácil compreensão—confirmando que o trânsito global das cidades observadas diminuiu consideravelmente no ano de 2020, até mesmo em períodos de reabertura pós-quarentena.
Do total de municípios analisados, 387 testemunharam uma significativa redução no trânsito e apenas 13 deles observaram um aumento nos tempos de deslocamento. Em abril, quando as restrições mais severas foram impostas à população, o congestionamento global destas cidades foi reduzido em até 50%.
A resiliência humana nos faz aprender rapidamente com as situações que nos são impostas. Com as medidas restritivas adotadas para reduzir a disseminação da pandemia não foi diferente. Ainda assim, muitos trabalhadores não tiveram escolha, vendo-se obrigados a sair à rua em busca do pão de cada dia. O relatório publicado pelo TomTom indica ainda que justo no dia anterior a entrada em vigor de novas medidas restritivas, o trânsito da maioria das grandes cidades chegou a aumentar em até 142%, como no caso da cidade de Paris no dia 29 de outubro, enquanto Atenas registrou um aumento de 123% no dia 6 de Novembro e Londres um 104% dois dias antes, no dia 4 do mesmo mês.
Em cidades como Bogotá, uma das medidas tomadas para enfrentar os imensos congestionamentos, e sobretudo para evitar a saturação do transporte público e assim minimizar os riscos de contágio e a propagação do vírus, tem sido promover o uso da bicicleta como principal meio de transporte urbano. Para isso o município disponibilizou mais faixas exclusivas para este meio de transporte, sejam elas temporárias ou permanentes.
A capital colombiana está entre as três cidades mais congestionadas no ranking oficial divulgado pelo TomTom. Com 53% de todos os sistemas congestionados, um dado que só é superado pela gigantesca cidade de Mumbai, na Índia, e pela região metropolitana de Moscou.
Os arredores de Bogotá, como consequências disso, passaram a ser mais procurados, registrando neste mesmo período um aumento no interesse imobiliário dos moradores da capital em busca de melhores condições e qualidade de vida. Isso mostra que o desejo de fugir dos congestionamentos das grandes cidades pode impulsionar o crescimento dos pequenos centros próximos às grandes cidades. E, ao promover meios de transporte alternativos—como a bicicleta ou até o patinete—estas cidades estão gerando uma nova demanda por moradia em lugares próximos ao ambiente de trabalho. Essas medidas não só beneficiam a qualidade de vida, mas também resultam em um impacto ambiental muito menor.
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