Toda vez que nos aproximamos do final do ano ouvimos as pessoas dispararem aos quatro ventos: “o mundo já não é mais o mesmo”. Acontece que, no epílogo do ano de 2020, esta profecia parece enfim, soar como algo verdadeiro. Embora tenhamos visto centelhas de esperança ao longo dos últimos meses, a pandemia de coronavírus definitivamente está provocando uma mudança de paradigma na arquitetura.
Na minha opinião, 2020 representará o fim do século XX na arquitetura. Isso porque mudanças radicais na nossa disciplina nunca coincidem com datas exatas e números redondos. O modernismo, como exemplo máximo disso, nasceu em um momento onde as monarquias ocidentais estavam em queda e com a efervescência de um mundo imerso em plena revolução industrial. É importante lembrar que o modernismo na arquitetura é uma decorrência deste contexto e não a sua razão.
Fabricado entre 1924 e 1928, o Avions Voisin C7 apresentava uma construção inovadora para a época. O uso intenso de vidro, uma carroceria de alumínio e os ângulos agudos remetiam às formas de uma aeronave. Este era o automóvel que Le Corbusier gostava de estacionar em frente às suas obras – para o arquiteto, o automóvel era a tradução definitiva da modernidade e da técnica combinadas em um único objeto. Ele acreditava firmemente que a arquitetura tinha muitas lições a aprender com a máquina.
Com 3 marchas e 30 cavalos de força, dificilmente alguém utilizaria esse carro atualmente, e a indústria automobilística já sofreu inúmeras inovações desde a época. A arquitetura de Corbusier, no entanto, não parece tão datada aos olhos: são os automóveis registrados junto a um edifício recém construído que mais evidenciam o quão antiga é a foto. Localizar subsídios que denunciem o período da fotografia é um método eficiente, e para a arquitetura isso é ainda mais evidente. Seja um eletrodoméstico, um monitor de computador ou um detalhe específico, há elementos que tornam esse trabalho mais fácil.