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Arquitetos: OUTROS BAIRROS
- Área: 2000 m²
- Ano: 2020
- Fotografias: ETFilmes

Descrição enviada pela equipe de projeto. A reabilitação urbana de um lugar com as características de precaridade encontradas no Alto de Bomba, exige uma imersão diária da equipa projetista na vida quotidiana do lugar, vendo e sentindo o dia a dia dos moradores. Por isso, desde o lançamento do projeto juntamos à equipa dois grupos de 10 estagiários da universidade M_EIA, Instituto Universitário de Arte, Tecnologia e Cultura e da universidade Jean Piaget, respetivamente, para se garantir o sem entendimento pelas futuras gerações de arquitectos e engenheiros.



A materialização da estratégia dá-se através da caracterização inicial de cada área, cuja análise dos dados recolhidos permite construir um plano estratégico – a que chamamos plano de intervenção – que coloca os cenários e lança possíveis soluções para as questões físicas e sociais. Reflete-se sobre a infraestrutura, o desenho da superfície, os equipamentos coletivos e, sobretudo, abre-se a porta a momentos de conversa que permitem discutir cada fase do plano, escutar a voz dos cidadãos, os silêncios do lugar e associar os moradores ao projeto enquanto funcionários das obras em curso, pelo menos, numa ordem de 50% dos funcionários necessários em cada obra que começa.

Sobre um agora que já produz transformação, sentimo-lo mais fortalecido aquando da instalação do nosso escritório numa casa local. A participação diária de moradores, dos trabalhadores e da nossa equipa na discussão do projeto e na obra é acompanhada de ações sobre diferentes temas – rap e hip hop, agroecologia, participação social, educação, arquitetura, urbanismo, entre outros – que fortalecem o entendimento e a utilização dos novos espaços públicos, bem como, aumentam a proximidade que nos permite a escuta de constrangimentos e ousadias que fazem do Alto de Bomba um lugar de potência.
“Deixamos de escutar as vozes que são diferentes, os silêncios que são diversos”
Couto, Mia (2005):123

Desde a conclusão da primeira obra resgataram-se dois lugres de encontro onde a micro sociabilidade é potenciada: a praça dos jogos, habitualmente usada para os mais velhos se encontrarem na bisca e uril, e o campo de basquete, onde diariamente os mais jovens crescem, aprendendo com os dribles do jogo. No futuro próximo, mais exatamente durante o terceiro trimestre, no Alto de Bomba são lançadas mais três obras para que a totalidade de ação fique concluída e nas outras duas áreas, Fernando de Pó e Covada de Bruxa, lançar-se-ão as primeiras que, igualmente, suprirão o deficit urbano encontrado.

Assim como as vozes do Alto de Bomba, lentamente, se infiltram nesta ação coletiva, também os ofícios disponíveis – pedreiro, serralheiro e carpinteiro - se incluem no desenho, produção e execução de pavimentos, mobiliário urbano, guardas, entre outros. A teia de relações e ações que construímos/vivemos diariamente aponta fortalecer, ainda mais, o modo de vida de um lugar que surgiu da resistência e resiliência dos seus moradores.
