
-
Arquitetos: Tadu Arquitetura
- Área: 197 m²
- Ano: 2025
-
Fotografias:João Duayer, Felipe Motta
-
Fabricantes: Alfatec, Biancogres, Celsius Leal Revestimentos Esculpidos, Coisas dCasa, Corp elevadores, Ekko revestimentos, Firenzi, Gail, Ladrilhart, Metalurgica Sena, Prime marmoraria, Spazio Lab, TJM Madeiras de Demolição e Marcenaria, Thonart, Topo e base, Versatily toldos, Zacarias Iluminação

Descrição enviada pela equipe de projeto. A implantação do restaurante Gonza em um casarão tombado do Horto, aos pés do Cristo Redentor, representa mais que um novo destino gastronômico: reativa uma memória arquitetônica enraizada no bairro e insere uma nova camada cultural em uma paisagem urbana de forte identidade. Instalado em uma das esquinas mais famosas do conjunto de antigas casas operárias, o restaurante preserva a atmosfera histórica enquanto dialoga com a dinâmica contemporânea que transforma a região em polo de ateliês e pequenos comércios autorais.

A edificação do século XIX, com alvenaria de pedra e tijolo maciço, telhas francesas e esquadrias generosas, foi cuidadosamente recuperada. A fachada em tons claros, com molduras sutis e janelas em madeira natural, contrasta com o vermelho vibrante dos toldos sobre a calçada, onde é reestabelecida a antiga tradição carioca dos encontros ao ar livre. A presença do Cristo, ao fundo, reforça o caráter simbólico e cinematográfico da esquina.

A entrada conduz ao salão principal, onde as escolhas cromáticas, amarelo pastel, madeira escura e acentos em rosa, criam uma atmosfera de bodega latino-americana reinterpretada com aspectos singulares do estabelecimento. A estante amarela, que ocupa a parede do bar, constitui o eixo conceitual do ambiente. Nela, uma composição ritmada de potes, garrafas antigas, vasos de cerâmica e frascos de conserva organiza o olhar e comunica a essência do restaurante: a celebração dos produtos da casa, da charcutaria ao vermute. O revestimento do piso, um desenho especial em madeira com paginação precisa, contribui para uma sensação térmica acolhedora, equilibrando a leveza das cores claras com a densidade do material.


No pátio interno, a cozinha de finalização tem protagonismo. Da área de mesas, o visitante observa a atividade dos chefs, o fatiador vermelho em destaque e os módulos de armazenagem que remetem a antigas despensas de campo. Potes de conserva, plantas e louças coloridas criam um cenário em que a produção culinária é parte da ambientação. Grandes vãos iluminam naturalmente o espaço, tornando-se elemento articulador entre interior e exterior.


A iluminação mescla luz quente e baixa, que confere caráter intimista ao bar, com pontos de luz técnica que destacam prateleiras, garrafas, molduras e a estante principal. O resultado é uma composição rigorosa e ao mesmo tempo afetiva: a arquitetura estabelece uma gramática visual que acolhe a tradição argentina e a combina com a espontaneidade carioca.

O projeto do Gonza traduz, sobretudo, três gestos fundamentais: investigar, preservar e ressignificar. Não se trata apenas de restaurar um casarão tombado, mas de compreender sua história e ativar novos usos e sentidos. A esquina, agora uma bodega contemporânea, valoriza o passado e projeta o Horto para futuros possíveis. O restaurante demonstra como a arquitetura, quando aliada à memória e à cultura local, pode construir lugares que não apenas abrigam pessoas, mas criam pertencimento.
















