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Arquitetos: Alejandro Puentes, Carolina Jaimes, Juan Esteban López
- Área: 750 m²
- Ano: 2024
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Fotografias:Mónica Barreneche

Descrição enviada pela equipe de projeto. RESSONÂNCIAS CONTIDAS - Entre o silêncio do concreto e o eco da madeira, um novo edifício surge com discrição no campus da Universidade dos Andes. A "Caixa de Música" é uma peça que contém mais do que mostra: uma arquitetura que não busca se impor, mas sim ressoar.

Concebido em 2017 a partir de um concurso para graduados menores de 40 anos, o projeto reuniu os arquitetos Carolina Jaimes, Juan Esteban López e Alejandro Puentes, três amigos formados na mesma universidade. "Nunca havíamos trabalhado juntos, mas achamos que era uma oportunidade para fazer algo interessante", lembra López. A convocatória, organizada pela Faculdade de Arquitetura e o Departamento de Música, buscava uma proposta que respondesse a um duplo desafio: dotar a universidade de espaços especializados para a prática musical e, ao mesmo tempo, preservar o equilíbrio urbano e paisagístico de um campus com valor patrimonial.

Sete anos depois, a construção de 750 metros quadrados se materializou como um volume silencioso, semienterrado entre a Faculdade de Arquitetura e o Campito de San José, um antigo pavilhão que tem sido núcleo social, cultural e artístico da universidade. "Queríamos conectar o campus, mas de uma forma quase silenciosa", explica Puentes. Dois terços do edifício são subterrâneos, um gesto que não só responde a razões acústicas, mas também à intenção de manter a visualização desobstruída em direção aos montes orientais.

Do exterior, o edifício é percebido como uma massa sóbria de concreto aparente. Não há ornamentação nem estridência: apenas uma presença contida que parece esperar para ser descoberta. Em seu centro, um vazio rompe a compacidade do volume e introduz luz natural nos níveis inferiores. Este vazio — mais do que um simples átrio — funciona como espaço de encontro, ensaio e performance, um lugar onde o som se expande livremente antes de voltar a ser contido.

O espaço como instrumento - O nome "A Caixa de Música" surgiu de maneira simultânea nas conversas da equipe e no edital do concurso. "Nós começamos a falar da caixa de música… e depois percebemos que no edital também a chamavam assim", lembra Jaimes. A coincidência se tornou um eixo conceitual: um edifício concebido como um instrumento arquitetônico que, ao abrir-se, deixa sair seu som.

O programa é organizado em três níveis que respondem a diferentes intensidades acústicas. Nos pavimentos inferiores estão as salas de ensaio e gravação, projetadas sob o princípio de box-in-a-box, um sistema que desacopla cada recinto da estrutura principal para eliminar vibrações e garantir isolamento absoluto. Os testes e cálculos foram desenvolvidos com a colaboração da WSDG, empresa de acústica com sede em Miami, e do engenheiro colombiano Daniel Duplat, que adaptaram os padrões internacionais às condições tropicais de Bogotá, marcadas pela umidade e pela altitude.

Os níveis superiores abrigam zonas de circulação, cabines de controle e espaços comuns que promovem a interação entre músicos e arquitetos. "Queríamos que fosse um lugar onde os estudantes pudessem se encontrar de maneira informal, onde o som não fosse limitado, mas circulasse", explica Jaimes. O vazio central atua como câmara de ressonância entre os distintos pavimentos, gerando um ambiente vibrante e mutável conforme a hora do dia ou o tipo de atividade.

A estrutura do edifício se sustenta sobre duas grandes vigas de concreto que permitem liberar completamente o nível inferior, criando um espaço sem pilares ou interrupções visuais. "Não há uma única moldura vertical. Tudo é vidro contínuo", aponta López. Essa continuidade de planos gera uma sensação de transparência arquitetônica que contrasta com a densidade do material estrutural.

Dualidades materiais e sensoriais - A materialidade do edifício estabelece um diálogo entre opostos: o frio do concreto e o quente da madeira, o opaco e o translúcido, o pesado e o leve. "O contraste entre o técnico e o sensorial era fundamental", comenta Jaimes. O concreto aparente confere uma sensação de permanência, enquanto os revestimentos de madeira clara no interior absorvem o som e o suavizam, transformando cada sala em um microclima acústico.

As superfícies interiores foram projetadas com precisão artesanal: painéis angulados, molduras ocultas e juntas invisíveis que evitam reverberações indesejadas. A luz natural, filtrada através do vazio central, marca as paredes de madeira e revela sua textura com matizes mutáveis. O resultado é uma atmosfera quente e envolvente, onde cada superfície parece participar do ritmo do edifício.

No exterior, o concreto adquire um papel paisagístico. A cor acinzentada do material se camufla com o céu da cidade, enquanto os telhados verdes e os jardins de chuva com espécies nativas prolongam a topografia do campus. Os percursos pedonais se adaptam à inclinação do terreno, conectando a Faculdade de Arquitetura com o Campito e resolvendo as rotas de acessibilidade sem alterar o caráter do lugar. "O edifício atua como uma conexão silenciosa entre o tijolo patrimonial e o laranja dos edifícios vizinhos", descreve López.

Ressonância e memória - Desde sua inauguração em setembro de 2024, "A Caixa de Música" se tornou um ponto de referência dentro da universidade. Sua presença discreta e sua versatilidade funcional a integraram à vida cotidiana de estudantes e professores. "Às vezes as pessoas dizem: 'Nos encontramos na Caixinha de Música'", comenta Puentes. Esse apelido, que no início parecia trivial, acabou sendo uma demonstração do afeto que o edifício gerou.

Além de seu uso imediato, o projeto encarna uma carga simbólica profunda para seus autores. "É nosso axis mundi, um centro da prática profissional, um lugar de referência", diz Puentes. Para os três, intervir no campus que os formou foi um ato de gratidão e responsabilidade: uma oportunidade para contribuir com a continuidade arquitetônica de um lugar marcado por obras emblemáticas de Bermúdez e Cerón.

Com o passar do tempo, os arquitetos esperam que o concreto adquira uma pátina natural e que a vegetação o abrace completamente, integrando-o à paisagem. "Pode ser um edifício muito interessante em 10, 15 ou 20 anos", antecipa Jaimes. Porque "A Caixa de Música", mais do que um edifício, é uma pausa sonora dentro do tecido urbano: uma ressonância contida que conecta memória, matéria e paisagem.








