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Arquitetos: Natureza Urbana
- Área: 40080 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:Manuel Sá, Leonardo Finotti

Descrição enviada pela equipe de projeto. A regeneração do Parque Linear da Doca, localizado em Belém do Pará, nasce como uma intervenção urbana estratégica que alia infraestrutura, paisagem e memória para reconectar a cidade às suas águas através da qualificação de espaços públicos. Implantado sobre o antigo Igarapé das Almas — hoje um canal de cerca de 1,2km de extensão no canteiro central da Avenida Visconde de Sousa Franco — o projeto resgata a identidade hídrica que estruturou historicamente a bacia do Reduto e que, ao longo do processo de urbanização, foi sendo soterrada por lógicas funcionais e fragmentadas.

Belém, construída sobre uma rede de rios e igarapés, teve sua paisagem natural interrompida por sucessivas intervenções que apagaram a presença da água no cotidiano urbano, através de uma lógica pouco responsável e repetida insistentemente nas metrópoles brasileiras. Antes marcado pela ausência de espaços públicos, pelo predomínio do automóvel e pela baixa qualidade ambiental, o entorno do canal carecia de sombreamento, permeabilidade e oportunidades de convivência.

Com a chegada da COP30, o Parque Linear da Doca assume o papel de um dos principais legados urbanos do evento. O projeto propõe a reconciliação entre cidade e natureza, transformando o corredor hídrico em um parque contínuo, acessível e multifuncional. A partir da ampliação da infraestrutura verde, da requalificação da paisagem e da valorização da memória da água, o parque se torna um lugar de encontro, lazer, esporte e contemplação, devolvendo aos moradores a experiência de viver perto de seus cursos d'água.


Inspirado pelo pensamento de Ailton Krenak — "Que esses rios, que são muito mais antigos do que nós, possam nos dar sabedoria e nos instruir sobre como melhorar a nossa existência…" — o projeto adota a água como elemento guia. O desenho reintegra o canal ao cotidiano de Belém, aproximando as pessoas do curso d'água e ampliando seu papel ecológico, social e simbólico.


Estratégia de regeneração ecológica e urbana. A transformação do antigo igarapé em parque linear se apoia em um conjunto robusto de soluções ambientais, hidráulicas e paisagísticas:
- Soluções baseadas na natureza para melhorar a qualidade da água, reduzir a poluição difusa e aprimorar a microdrenagem;
- Infraestrutura resiliente, com mitigação de cheias, readequações hidráulicas e implantação de estruturas elevadas para garantir a segurança da visitação;
- Aumento da permeabilidade do solo, contribuindo para o conforto térmico, a drenagem sustentável e a melhoria do microclima urbano;
- Valorização do espaço público, criando um ambiente ativo, seguro e multifuncional para moradores e visitantes.

Um parque integrado ao território e às pessoas. O Parque Linear da Doca organiza um conjunto de usos que reforça a vitalidade urbana e a relação cotidiana com a água. Ao longo de sua extensão, mirantes, passarelas elevadas, quiosques, playgrounds, parque canino, áreas sombreadas, jardins de estar, ciclovia e espaços esportivos criam uma sequência contínua de ambientes para convivência, lazer e contemplação. O desenho prioriza conforto, segurança e acessibilidade, consolidando o parque como um espaço democrático e acolhedor para moradores e visitantes.

A intervenção respeita a vegetação existente e introduz espécies nativas para fortalecer a biodiversidade local, além de soluções baseadas na Natureza para a recuperação da qualidade da água, uma vez que o canal ainda recebe dejetos e resíduos do entorno imediato. O processo envolveu moradores, escolas e organizações comunitárias, garantindo que o programa e os espaços respondessem às demandas reais do território.

Integrado a um conjunto maior de obras de saneamento, drenagem e revitalização urbana na área da Doca, o parque beneficia cerca de 500 mil pessoas e se tornou rapidamente um novo ponto de encontro e identidade para Belém. Ao transformar um antigo canal degradado em infraestrutura ecológica e social, o projeto deixa como legado a reconexão da cidade com suas águas e um modelo de regeneração urbana sensível ao território amazônico.

























