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Arquitetos: Othmane Bengebara Studio
- Área: 350 m²
- Ano: 2025
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Fotografias:Iman Zaoin

Descrição enviada pela equipe de projeto. Situada nas colinas próximas a Essaouira, no Marrocos, a DDAR é uma villa rústica e contemporânea que expressa um diálogo entre tradição e modernidade, artesanato e paisagem. Projetada em colaboração entre o arquiteto Othmane Bengebara e o proprietário, a casa foi concebida como uma estrutura viva, não como um objeto fixo — um lugar onde a arquitetura se torna um instrumento de criação, troca e transmissão cultural. Construída manualmente com técnicas ancestrais, a villa se inspira nas formas vernaculares do interior marroquino, unindo o saber local a uma abordagem ambientalmente consciente. Seu ritmo irregular, as superfícies táteis e os volumes escultóricos se integram de maneira natural ao terreno, dando a impressão de que a casa brotou organicamente da própria paisagem.

Implantada em um terreno de dez hectares de colinas selvagens, a casa representou tanto um desafio quanto uma oportunidade: criar uma morada autônoma que respeitasse o contexto natural sem abrir mão do conforto e da abertura. O projeto foi idealizado para ser totalmente off-grid, movido a energia solar e sustentado por um sistema eficiente de captação e gestão de água. A arquitetura segue a lógica bioclimática da região — os pés-direitos altos permitem a ascensão do ar quente, enquanto as aberturas estrategicamente orientadas e os pátios sombreados canalizam os ventos costeiros para refrescar naturalmente os interiores. A casa responde aos ritmos da luz, do vento e da temperatura, transformando-se em uma morada que respira junto ao ambiente.

Cada elemento da DDAR foi feito com materiais locais, escolhidos por sua beleza, sustentabilidade e valor cultural. A estrutura combina terra crua e rebocos à base de cal, que garantem isolamento natural e textura acolhedora. Pisos e paredes exibem técnicas tradicionais de tadelakt e taipa, aplicadas por artesãos de vilarejos próximos. Madeiras de espécies regionais, como tuia e eucalipto, foram esculpidas por carpinteiros que trabalham a menos de dois quilômetros do local. As peças de metal — portas, puxadores, luminárias — foram forjadas manualmente por ferreiros da região de Essaouira. As pedras encontradas no próprio terreno foram utilizadas na paisagem externa e nos caminhos, reforçando o vínculo profundo com a terra e seus recursos.


No interior, a arquitetura promove intimidade e convivência. A sala de estar, concebida como um grande lar rebaixado, expressa o espírito do projeto — ao mesmo tempo protetor e aberto, voltado para dentro e para fora. A altura do piso coloca o olhar em nível com a paisagem, convidando os visitantes a desacelerar, reconectar-se com a natureza e compartilhar o espaço.


Além de suas qualidades arquitetônicas, a DDAR funciona como plataforma de criação artística. Antes e durante a construção, o proprietário promoveu colaborações com designers e artesãos marroquinos: móveis escultóricos de Younes Duret, cerâmicas de Khalid Bouaalam, talheres de cobre prateado de Sara Moukhles e jogos de madeira artesanais de Ben Elliot, todos realizados em parceria com mestres locais. Materiais e objetos vindos da Mauritânia, Tunísia e França ampliam essa narrativa de intercâmbio cultural entre o norte da África e o mundo.


Mais do que uma casa, a DDAR se afirma como um ecossistema cultural, enraizado na memória e moldado pela criação coletiva. Celebra a beleza da imperfeição, a inteligência das tradições construtivas locais e a resiliência do fazer manual em tempos de padronização. Ao unir desempenho ecológico e intenção artística, o projeto redefine o sentido de construir com autenticidade e respeito — uma casa que nasce da terra, conta sua história e continua a inspirar quem a habita.
















