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Arquitetos: Studio Kyriakos Miltiadou
- Área: 210 m²
- Ano: 2025
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Fotografias:Creative Photo Room
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Fabricantes: El Greco Gallery, Il Bagno, Kyriakides Lighting, Mobhaus, Rabel Aluminium Systems

Descrição enviada pela equipe de projeto. Localizada junto a uma mata esparsa, com vistas amplas sobre os subúrbios de Nicósia, esta casa se posiciona de forma deliberadamente ambígua. Em vez de adotar a tipologia residencial convencional — que se abre para oferecer panoramas contínuos da paisagem —, ela se ergue como um volume austero e introspectivo. Seria um edifício, uma escultura ou um contêiner? O projeto propõe uma releitura da “caixa primordial” da habitação, reinterpretada à luz dos modos contemporâneos de viver.


O projeto parte de uma grade tridimensional — uma malha de pontos que define o contorno essencial de uma caixa de 14 × 17 metros. Aos poucos, fragmentos da paisagem penetram essa estrutura, provocando sua progressiva fragmentação. Desse processo sistemático de erosão nasce uma composição prismática complexa, tecida por cheios e vazios em permanente tensão.

Quatro paredes verticais, com seis metros de altura, envolvem o volume e contêm seus fragmentos dentro de um conjunto coerente, ainda que fluido. Esculpidas com fendas verticais, essas paredes funcionam como mediadoras entre o interior e o exterior: filtram, protegem, enquadram e revelam — estabelecendo um diálogo sensível entre a floresta, a cidade e o céu.

Como um “coletor”, o volume absorve as camadas tangíveis e intangíveis do entorno, reinterpretando-as em relação à vida doméstica da família. O resultado é algo ao mesmo tempo inusitado e arquetípico: um cubo dentro de outro cubo. Uma concha austera, permeada por aberturas, envolta por outra que se ergue como uma pedra arcaica em meio à paisagem.

Na fachada leste, uma fenda vertical marca a entrada e sublinha a transição do exterior para o universo interior da casa. O primeiro espaço de acolhimento é um jardim aberto e protegido — o coração do projeto, em torno do qual a vida cotidiana se organiza.


Esse núcleo central integra uma rede contínua de pátios, passagens e espaços abertos que se desenvolvem na vertical e na horizontal. Repletos de luz natural e vegetação nativa, esses vazios formam um “jardim interior” que se entrelaça à paisagem ao redor, dissolvendo os limites entre dentro e fora.

Internamente, a casa se distribui em quatro níveis distintos. No térreo, concentram-se as áreas sociais — cozinha, sala de jantar e estar. No pavimento superior, os espaços privados se articulam em dois planos diferentes. Entre eles, zonas intermediárias criam transições fluidas, borrando as fronteiras entre o público e o íntimo na vida doméstica.

Uma escada externa, discreta, leva a um pequeno terraço na cobertura. Dali, o volume se dissolve no azul intenso do céu mediterrâneo, enquanto a vegetação que cobre parte do teto contribui para a criação de um microclima. Uma abertura horizontal emoldura, ao longe, a vista serena da floresta.


A estrutura e a arquitetura atuam como um só corpo. O edifício, monolítico e inteiramente em concreto aparente, é esculpido de forma a acolher a presença humana e transformá-la em experiência de habitar. Com o tempo, a vegetação ascende pelas superfícies e suaviza a rigidez do volume. Assim, o diálogo entre arquitetura, natureza e vida cotidiana torna-se contínuo e inseparável.








































