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Arquitetos: Akio Isshiki Architects
- Área: 77 m²
- Ano: 2025
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Fotografias:Yosuke Ohtake, Brook James

Descrição enviada pela equipe de projeto. Quando encostamos uma concha no ouvido, ouvimos o som do mar. Eu, quando criança, me admirava por realmente escutar algo parecido com o murmúrio das ondas. Imaginava que o som nascia lá no fundo da espiral, ou talvez de um pequeno túnel secreto que levava até uma ilha distante do sul. As conchas têm um encanto misterioso. Seus interiores iridescentes parecem vazios, mas estão cheios — de som, do perfume do mar, da lembrança da vida, talvez até de camadas de tempo acumuladas em silêncio.



Renovei uma casa de cinquenta anos. Não era minha intenção no início do projeto mas, ao entrar na casa pronta, tive a sensação de estar dentro de uma concha.


Normalmente, não começo com um tema fixo. Depois de definir a composição inicial, reúno fragmentos — “isto pode ser mais confortável”, “isto poderia ser mais atraente” — até que o conjunto ganhe forma. Quando surgem questões estruturais ou de custo, ajusto o caminho, buscando alinhar o projeto à viabilidade.

Deste processo surgiram qualidades geométricas: paredes curvas que ocultam encanamentos, tetos baixos com recortes semicirculares e portas deslizantes reaproveitadas de antigos fusuma. Para permitir a entrada de luz e, ao mesmo tempo, preservar a privacidade em meio ao movimento ao redor, criamos espaços suavemente fechados com telas shōji. Quando abertas, as portas conectam toda a casa em um espaço contínuo e circular. Elementos aparecem e desaparecem à medida que o ambiente se estende para dentro, convidando os ocupantes a um labirinto sereno — muito parecido com o interior de uma concha.


As vigas de madeira e a estrutura inclinada da antiga construção ressoam com as novas curvas e diagonais, assim como as formas livres dos móveis do proprietário. Esse diálogo suaviza a rigidez linear e industrial, conferindo à casa uma presença mais orgânica. As vigas guardam em si cinquenta anos de memória.

Portas deslizantes com papel washi recém-substituído e maçanetas reaproveitadas desfazem a fronteira entre o antigo e o novo. A luz do sol se difunde através das telas shōji e das venezianas, acariciando as paredes curvas antes de desaparecer nas profundezas. Essa luz em constante mudança conecta elementos dispersos, dissolvendo contrastes — vertical e horizontal, antigo e recente, japonês e ocidental.

Ao abrir as janelas, os sons da cidade à beira-mar fluem para dentro: a brisa salgada, o apito distante de um navio, o canto dos pássaros, o sino das cinco. Som, vento, luz, memória — esses intangíveis preenchem o espaço, ressoando entre si e transformando-se com o tempo. Espero que este espaço, em constante mudança, envolva com suavidade a família que aqui habita. E, nesse instante, lembro de um poema:
Mon oreille est un coquillage
Qui aime le bruit de la mer
(Meu ouvido é uma concha / Que ama o som do mar.)
—Jean Cocteau, "Cannes V"
































