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Arquitetos: Estudio Herreros
- Área: 12850 m²
- Ano: 2025
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Fotografias:Luis Díaz Díaz, Manuel Vicente

Descrição enviada pela equipe de projeto. Em 2011, setenta anos após a chegada da ferrovia em Santiago de Compostela, Espanha, o corte ferroviário fora da cidade continuava sendo uma barreira quase intransponível entre o centro histórico e os bairros que surgiram ao sul da linha férrea, com Pontepedriña à frente. Por outro lado, essa fronteira teve o efeito de preservar a área natural de Las Brañas del Sar — uma peça de valor ecológico inestimável — intacta todo esse tempo.

O projeto vencedor do concurso internacional promovido pela ADIF para a nova Estação de Trem de Alta Velocidade propôs a implantação do espaço do passageiro transversalmente sobre as plataformas, articulado a uma ampla passarela — inaugurada ao público em 2011 — que assegura a intermodalidade entre a estação ferroviária, a rodoviária e os estacionamentos. Essa infraestrutura trouxe ainda um benefício urbano decisivo: conectar o centro histórico e suas expansões ao norte com as áreas periféricas ao sul, incluindo os parques do Sar e a Cidade da Cultura, superando a histórica barreira imposta tanto pela acentuada topografia quanto pelo traçado ferroviário.

O fato de a maior parte dos passageiros chegar e sair da estação a pé reforçou a estratégia de situar o edifício principal no nível da cidade. A partir dessa premissa, a organização espacial adota um esquema análogo ao de um aeroporto: um pavimento inferior, no nível dos trilhos, concentra todas as transferências motorizadas — táxis, veículos particulares e de aluguel, ônibus urbanos e de longa distância —, enquanto o nível superior, coincidente com a cota urbana, funciona como plataforma de embarque e desembarque. Nesse pavimento se desenvolve o amplo hall de passageiros, um espaço luminoso que distribui de forma intuitiva o fluxo até os trens, acessados diretamente por meio de passarelas que asseguram eficiência, clareza operacional e segurança.

A simplicidade assegura um diálogo com a antiga estação, especialmente com sua ampla cobertura que protege os movimentos dos passageiros nas plataformas. Enquanto isso, as duas praças de design contemporâneo criadas nas extremidades do complexo—praça da Estação do lado da cidade e praça Clara Campoamor do lado da Reserva Natural—são concebidas como a primeira imagem que se revela ao viajante recém-chegado a Santiago de Compostela.



A logística do movimento vertical gira em torno de dois núcleos, norte e sul, conectados pela passarela que efetivamente funciona como uma rua dentro do sistema urbano. O núcleo norte liga a plataforma de movimento veicular com a praça da Estação e o hall, enquanto o núcleo sul conecta a praça Clara Campoamor com a passarela. Ambos incluem elevadores capazes de transportar bicicletas e escadas rolantes que garantem acessibilidade universal em todo o complexo.



A arquitetura resolve sua adaptação ao local através de uma forma orgânica que retrai o programa sem concessões compositivas. O processo de construção começa com a implementação de uma grande plataforma de pilares e lajes de concreto pré-fabricado, sobre a qual o edifício é erguido utilizando sistemas de montagem industrializados cuja leveza e encaixe facilitam operações sobre os trilhos sem interromper o tráfego ferroviário. A materialidade da envoltória baseia-se em uma família de materiais translúcidos, painéis metálicos perfurados e cobertura de zinco—um sistema no qual a indústria galega é líder nacional. Os interiores buscam máxima luminosidade graças ao uso intensivo de vidro estrutural translúcido que, mesmo em dias nublados, multiplica a reverberação da luz natural, criando espaços alegres projetados para uma espera agradável.

O projeto tem um profundo envolvimento social e cívico. O reconhecimento da capacidade da arquitetura de equilibrar polarizações urbanas indesejáveis, mitigar desigualdades sociais e tornar a vida das pessoas mais agradável é a proposta mais ambiciosa do projeto, que trabalha intensivamente em seus valores agregados. De fato, defendemos que as infraestruturas podem ir além de sua função logística — que deve ser cumprida com máxima eficiência — para se tornarem expressões de coesão social e representações de uma cidade que olha com confiança para o futuro. Acreditamos que esse é o caminho a seguir.


































