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Arquitetos: André Luque
- Área: 670 m²
- Ano: 2023
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Fotografias:Carolina Lacaz
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Fabricantes: Baraúna, Castilho, Clamom, Deca, Estúdio Bola, Exbra, Jacqueline Terpins, Jaqueline Terpins, Julia Krantz, Luxes, Marcenaria Baraúna, Natilux, Pedrali, Step, Tidelli

Descrição enviada pela equipe de projeto. Localizada na Praia da Baleia, em São Sebastião, o projeto da Casa Renda nasceu de um desejo poético: materializar os elementos intangíveis – como a luz, a brisa, os sons da natureza e as memórias coletadas ao longo das viagens do casal de moradores pelo Brasil.

Após anos de deslocamento semanal para a sua casa de veraneio, os proprietários, com filhos casados e netos recém-chegados, decidiram que era o momento de escrever um novo capítulo na vida familiar. No condomínio que acolheu o lar de tantas memórias e onde os laços afetivos estavam firmemente estabelecidos, uma antiga casa, com área superior e situada na mesma rua da residência anterior, estava disponível do mercado. Reconhecendo o potencial de intervenção e a comodidade local, rapidamente adquiriram o imóvel. Para liderar o projeto de reforma, convidaram o arquiteto André Luque para criar um "refúgio" que equilibrasse conforto e modernidade.


A construção original, de três pavimentos, estava inabitada e sem manutenção há alguns anos. A primeira visita revelou elementos arquitetônicos desatualizados e o vigamento de madeira do telhado apodrecido. Inicialmente, demolir todo o imóvel e construir uma nova edificação parecia a solução mais direta. No entanto, Luque optou por uma abordagem que prioriza intervenções respeitosas e alinhadas a princípios sustentáveis.

O projeto preservou a organização programática entre os andares, ajustando os níveis de privacidade e integração. Os dois primeiros pavimentos foram mantidos, enquanto o último foi removido para dar lugar a uma nova adição em madeira laminada colada.


O sistema estrutural adotado se destaca pela resistência e durabilidade, especialmente em regiões litorâneas, sujeitas à umidade e intempéries. A opção por uma cobertura plana, sem cumeeira, revela a esbelteza da construção, conferindo-lhe uma horizontalidade de 24 metros que estabelece um diálogo harmônico com o entorno. O vigamento se estende ao exterior para definir o beiral que protege as fachadas.


Caixilhos de alumínio e vidro emolduram as vistas deslumbrantes da paisagem litorânea, enquanto um sistema de proteção solar, adaptado às fachadas voltadas para o norte, garante conforto térmico sem comprometer a integração com o exterior.

Em uma das primeiras conversas, a proprietária, colecionadora de arte popular brasileira, apresentou ao arquiteto alguns trabalhos de renda de bilros – uma técnica artesanal do Nordeste do Brasil, em que fios são entrelaçados com a ajuda de pequenos fusos de madeira denominados "bilros". Os padrões delicados serviram de inspiração para o desenho dos painéis que identificam a plasticidade gráfica da residência – e também aludem às formas orgânicas das esponjas marinhas, típicas das praias brasileiras.

O arquiteto desenhou manualmente o padrão, que posteriormente foi digitalizado e refinado com o auxílio de softwares especializados, levando meses de ajustes e modificações até que se chegasse à versão final, com composições singulares para cada painel. Três protótipos em escala real foram elaborados e testados diretamente no local para avaliar o comportamento das peças com a luz natural e a relação de privacidade.

A execução foi realizada com a expertise da Clamom, uma empresa brasileira especializada em soluções tecnológicas de engenharia do design, que foi responsável pelas etapas de parametrização digital, refinamento dimensional das aberturas e pela produção das chapas metálicas de 5 milímetros de espessura, cortadas a laser. O acabamento é feito com pintura eletrostática branca para maior durabilidade e resistência às intempéries.

Essa camada de proteção filtra a luz natural, ao mesmo tempo em que permite a circulação da brisa. Esses elementos são parte da estratégia bioclimática do projeto, que visa otimizar o conforto térmico e a eficiência energética da casa. Ao reduzir o ganho de calor interno, os painéis contribuem para um ambiente mais fresco e agradável, ao mesmo tempo em que minimizam a dependência de sistemas de iluminação artificial e refrigeração mecânica ao longo do dia. No exterior, o guarda-corpo perimetral, que se estende desde a escada até o primeiro pavimento, foi revestido com pedra Moledo, enquanto a viga de borda da laje superior recebeu réguas de madeira. A combinação de materiais naturais reforça o caráter da arquitetura que busca integrar-se à paisagem onde está inserida.

O pavimento térreo abriga a garagem e as áreas técnicas, mais fechadas. O acesso principal ocorre por meio de um espaço intersticial que define a transição entre o exterior e a ala social. Como um gesto de boas-vindas, um pequeno santuário homenageia a espiritualidade dos moradores e simboliza a proteção da morada. Envolto por paredes alvas e um painel de pedra, a escultura cerâmica da santa, trazida da antiga residência, é delicadamente iluminada por um sistema de iluminação indireta. Um banco de madeira convida à momentos de oração.

No primeiro piso, a ala social contempla, em um mesmo ambiente, as salas de estar, de jantar, área para jogos, área gourmet, e churrasqueira. Para delimitar cada área, o mobiliário foi disposto de modo a definir o layout do programa. O piso em tons de areia se estende até o exterior para dar continuidade entre os ambientes. O branco, inspirado na espuma das ondas do mar, predomina nas superfícies das paredes e no forro, trazendo frescor e luminosidade aos espaços. O azul da água aparece pontualmente no mobiliário e nas peças de arte.

Na sala de estar, o layout é orientado para o centro do ambiente, favorecendo encontros e rodas de conversa. Na composição, um sofá em tecido turquesa e uma dupla de poltronas Verso – criadas pela designer brasileira Julia Krantz, em madeira maciça cortada, colada e prensada. Lateral a este ambiente, uma mesa circular – Balloon em base e tampo de madeira maciça, pelo Estúdio Bola – rodeada por cadeiras Nolita da Pedrali, dá apoio à área de jogos ou rápidas refeições.

Como extensão da cozinha principal, que é fechada e dedicada exclusivamente ao preparo dos alimentos, o espaço gourmet e a churrasqueira são integrados em apoio à sala de jantar. O primeiro é equipado por uma bancada linear em pedra (Infinity Travertino Grey) para o preparo de bebidas ou petiscos, e a marcenaria abriga a adega, o umidor elétrico de charutos e uma cristaleira. A bancada da churrasqueira recebe um tampo em mesma pedra e a alvenaria inferior é recoberta por ladrilhos com ilustrações náuticas, fazendo referência à região. A composição é complementada por banquetas Girafa – desenho original de 1987 da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, reeditado pela Marcenaria Baraúna.

A sala de jantar, com uma mesa Fio assinada pela designer Jacqueline Terpins, acomoda confortavelmente 12 pessoas, acompanhada por conjunto de cadeiras Nolita (Pedrali). As mesas dispostas ao redor duplicam a capacidade de assentos para os dias de festas. As paredes e a decoração de todo o estar ganham peças de arte popular, incluindo pinturas, artesanatos, vasos e objetos escultóricos, adquiridos em viagens pelo Brasil.

O projeto de paisagismo, assinado pela arquiteta paisagista Julieta Fialho – que nasceu e foi criada no litoral norte de São Paulo – reflete seu profundo conhecimento sobre as espécies botânicas locais. A proposta traz uma curadoria cuidadosa da flora regional, valorizando a vegetação nativa e criando um espaço ao ar livre que dialoga diretamente com o ecossistema local.

A piscina elevada acompanha a altura do guarda-corpo que percorre toda a varanda. A partir desse espaço, é possível contemplar a paisagem e desfrutar do canto dos pássaros típicos da região. O acesso ao pavimento superior é feito por meio de uma escada monolítica em concreto, iluminada pela claraboia superior. Na galeria de circulação dos dormitórios, a floreira posicionada ao fundo da escada, traz visualmente o verde para dentro.

A ala íntima abriga a sala de TV e seis suítes, incluindo a master e uma para cada um dos filhos do casal, além de dormitórios infantis dedicados aos netos. Os panos de vidro mantém a conexão visual com o mar e todos têm acesso a uma varanda compartilhada, ideal para momentos de descanso e contemplação. Sublinhando a atmosfera de aconchego e bem-estar, elementos de marcenaria foram especialmente desenhados para os quartos: as cabeceiras ganham réguas de madeira a meia altura, semelhante a um lambri, enquanto ripas verticais de madeira definem a separação aos banheiros, sem bloquear a relação visual. As rendas de bilro originais que serviram como fonte de inspiração para o desenho dos painéis que compõe as fachadas, foram adicionadas de maneira especial na decoração da suíte master, emolduradas e aplicadas em duas telas acima da cabeceira.





























