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Arquitetos: delavegacanolasso
- Área: 320 m²
- Ano: 2024
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Fotografias:Paco Marín, Studio Cafecito

Descrição enviada pela equipe de projeto. A Casa e o Jardim
Esta casa é organizada em torno de dois pátios que dão forma ao espaço e o infundem de significado. Eles não são meros vazios entre paredes — são espaços vívidos que trazem o jardim para o interior e esfumaçam as fronteiras entre o dentro e o fora. No inverno, eles captam a luz generosamente; no verão, a água da piscina refletora traz frescor e um murmúrio suave que acompanha a vida em silêncio.

A entrada da casa se desdobra como uma sequência quase cerimonial. Uma longa parede branca guia o percurso com discrição, levando a um beiral sombreado por ripas de madeira. A partir daí, uma rampa suave e alongada começa a subir quase imperceptivelmente, à medida que o espaço se estreita e a luz gradualmente se atenua. A transição do exterior para o interior, do brilho para a sombra, é assim cuidadosamente amplificada. O hall de entrada mantém essa altura contida, e uma luz fraca e filtrada começa a entrar pelos pátios, que naturalmente guiam e estruturam o caminho. São eles que estabelecem o ritmo da casa, levando em direção ao espaço principal, onde o volume se eleva e a luz natural finalmente inunda o ambiente.

Somente então a arquitetura se abre — após uma jornada silenciosa e deliberada, repleta de intenção. O projeto surge de uma busca pelo essencial: orientação adequada, proporções serenas e honestidade no uso dos materiais. Os quartos voltam-se para o leste, acolhendo o sol da manhã, e estão posicionados ligeiramente mais baixos que o restante da casa. Essa diferença de nível permite uma conexão visual íntima com o jardim, quase ao nível do solo, e contribui para o conforto térmico durante os meses mais quentes.

A vida cotidiana é organizada em torno do pátio principal. As salas de estar e de jantar se abrem para ele e se estendem até um grande beiral voltado para o sul que protege as aberturas envidraçadas do excesso de luz solar e permite uma forma de viver na fronteira entre interior e exterior.

O telhado faz mais do que simplesmente cobrir; ele se dobra com geometria precisa, reunindo e suavizando a luz, criando uma expressão que é sóbria, mas distintiva. No volume que se eleva acima do restante da casa está o escritório — um espaço suspenso para trabalho e contemplação, visualmente conectado aos carvalhos ao redor e afloramentos de granito.

Um dos elementos mais distintivos do projeto é a escada que leva a este escritório. Leve e suspensa, feita de metal com degraus de madeira, flutua no espaço como uma peça autônoma. Ela se sustenta na estrutura superior sem suportes diretos, e sua presença marca elegantemente o núcleo vertical da casa. Não apenas leva ao escritório elevado — de frente para as colinas de Galapagar — mas também estrutura sutilmente a transição para a área dos quartos, como se guiasse o caminho sem ditá-lo.

Os materiais utilizados seguem uma lógica de harmonia e permanência ao longo do tempo: paredes rebocadas brancas e madeira. O piso é feito com peças de argila queimadas à mão, confeccionadas no Marrocos. Cada peça, única e irregular, foi cuidadosamente assentada por artesãos marroquinos ao longo de várias semanas. O trabalho meticuloso levou mais tempo do que toda a montagem da estrutura do telhado de metal, tornando este piso uma verdadeira joia da casa.

Essa estrutura, em contraste, foi pré-fabricada em uma oficina e chegou ao local já cortada, permitindo uma instalação rápida e precisa — uma clara expressão de eficiência e controle.

Não se trata de uma arquitetura que busca protagonismo, mas de uma casa que convida à vivência. Um lugar que dialoga com o entorno e com o tempo, aspirando — por meio da contenção — a acompanhar a vida com naturalidade e serenidade.



































