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Arquitetos: Sandra Sayeg Tranchesi Arquitetura
- Área: 150 m²
- Ano: 2024
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Fotografias:Tuca Reinés

Descrição enviada pela equipe de projeto. Em um cenário de rígidas limitações de uma construção no Clube de Campo de São Paulo - como a impossibilidade de ampliar a área edificada além dos 150 m2 originais - a arquiteta Sandra Sayeg encontrou liberdade criativa ao redesenhar por completo os interiores da Casa AF. Desenvolvido para um casal com filhas gêmeas, o projeto traduz com inteligência a essência da arquitetura bem pensada: cada centímetro conta, cada abertura importa.

A estratégia adotada foi radical na delicadeza. Internamente, a casa foi completamente reorganizada: quartos foram reposicionados, vãos ampliados, janelas abertas, e uma nova lógica de ocupação dos espaços foi implantada. A planta, antes compartimentada e escura, passou a respirar luz natural. A sala - antes isolada - se abre para um terraço nos fundos, agora generosamente iluminado e integrado à área social e à cozinha, valorizando o sol da manhã e a paisagem verde do entorno.


Para ampliar a sensação espacial, Sayeg propôs um móvel contínuo ripado, que percorre toda a área social. Mais que marcenaria, ele atua como elemento integrador, articulando diferentes usos - como louceiro, adega e armário, além de porta mimetizada que leva ao corredor dos quartos - sem fragmentar a leitura do ambiente. A mesma lógica foi aplicada à cozinha, com desenho da marcenaria e execução sob medida, onde bancadas em Corian e iluminação pontual ajudam a trazer funcionalidade e calor ao cotidiano. Para integrá-la à sala, a demolição das antigas paredes exigiu reforços estruturais, resultando em uma pórtico metálico aparente que traz um charme especial.


A materialidade dialoga com o contexto rural sem abdicar da contemporaneidade. A madeira aparece no forro ripado inclinado, executado sob medida com frisado de 3 mm, e também nas venezianas de alumínio com acabamento madeirado. Os caixilhos em tom corten, os revestimentos hidráulicos verdes e amarelos e os perfis metálicos reforçam o caráter híbrido do projeto: entre o campo e a cidade, entre o afeto e a precisão técnica.


No antigo gazebo, o espaço foi reconfigurado com a abertura das paredes e o desenho de uma lareira de convecção bidirecional, que aquece tanto a área de jantar quanto o novo estar. Do outro lado, o terraço, se estende com o uso de um toldo retrátil da Stobag e piso drenante da Braston, solução que respeita os limites do clube e aumenta a área de convivência sem transgredir a norma.


A área íntima recebeu atenção especial, com a adição de um quarto para receber hóspedes; em comum, os três cômodos trazem marcenaria artesanal e soluções de ventilação natural, como portas com palhinha em áreas com maior umidade. As cortinas em linho translúcido da Entreposto brincam com as tonalidades e a luz, enquanto o mobiliário sob medida e os detalhes - como a escadinha da beliche iluminada por LEDs no quarto das meninas - revelam o cuidado com cada gesto arquitetônico.

A iluminação assinada pelo Luz.emais, somada ao mobiliário selecionado em lojas como 'Ovo, Tidelli e Dpot, completam a ambientação da casa, que surpreende por sua leveza e proporção. "Quanto menor a casa, mais bem pensado tem que ser o projeto", diz a arquiteta - e esse princípio se materializa aqui em forma de espaços integrados, inteligentes e profundamente acolhedores.

Mais do que um exercício de reforma, a Casa AF é um exemplo de como a arquitetura pode transformar limites em potência, revelando que, com sensibilidade e rigor, até os menores espaços podem se abrir para o essencial.
