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Arquitetos: BIRI, MACh Arquitetos
- Área: 108 m²
- Ano: 2023
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Fotografias:Jomar Bragança

ESPAÇO EDUCADOR: A FUNÇÃO DO AMBIENTE FÍSICO NA PRÁTICA PEDAGÓGICA - A escola Vila Ninho é uma iniciativa social sem fins lucrativos, localizada na Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, no Cerrado mineiro, dentro de áreas ambientais protegidas. Seu objetivo é oferecer educação gratuita e de qualidade para crianças em situação de vulnerabilidade social, promovendo o fortalecimento familiar e o desenvolvimento comunitário. Fundada em 2017, a escola atua com base em quatro pilares: educar crianças, fortalecer famílias, transformar comunidades e multiplicar organizações eficientes.



Desde 2018, a escola ocupa um terreno de 14.000m² em Lagoa Santa, onde foram implantadas as primeiras estruturas físicas, como o Galpão João de Barro. Com salas de aula, espaços administrativos e áreas de apoio, a escola iniciou um processo de expansão planejada, que ocorrerá em fases a partir de 2024. O projeto físico da escola é orientado por princípios de sustentabilidade, integração com o meio ambiente e inovação pedagógica, buscando transformar o ambiente construído em um agente ativo na formação das crianças.





A proposta arquitetônica parte de uma malha modular de 2x2 metros e módulos construtivos de 36m², permitindo flexibilidade e adaptação dos espaços ao longo do tempo. A estrutura utiliza materiais como madeira, vidro, policarbonato, dry-wall e sistemas industrializados, promovendo racionalização da obra, economia e participação comunitária. O uso da madeira, por exemplo, permite que pais e responsáveis contribuam com mutirões na construção, reforçando o envolvimento da comunidade com o espaço escolar.

A concepção do espaço leva em consideração o conforto ambiental e a experiência sensorial dos alunos. A iluminação natural é potencializada por claraboias e zenitais, enquanto as cores suaves e materiais adequados contribuem para o bem-estar e a eficiência energética. A escola adota sistemas de iluminação artificial com tecnologia LED e critérios de eficiência energética estabelecidos pelo INMETRO. Também se preocupa com o desempenho térmico, visual e acústico dos ambientes, para garantir condições ideais de aprendizagem.

O projeto busca integrar a infraestrutura escolar com o ecossistema local. Para isso, propõe-se a reconstituição da flora nativa da Mata de Galeria, que divide o terreno e compõe a Área de Preservação Permanente (APP) bem como o respeito integral aos afastamentos de cada margem do Córrego Capão da Onça. Através de um Projeto Técnico de Reconstituição da Flora (PTRF), serão coletadas sementes e produzidas mudas de espécies regionais. Um viveiro com capacidade para 1.072 mudas será instalado, e alunos, pais e professores participarão do plantio de uma área de 0,67 hectares, promovendo a educação ambiental e o senso de pertencimento.

A expansão da escola está dividida em setores, como o Setor Galpão João de Barro, que será renovado com melhorias térmicas e de acessibilidade. Próximo à horta, novas construções térreas serão erguidas. No Setor Bosque e APP, módulos educacionais e culturais (biblioteca, salas de tecnologia, música, dança e teatro) serão implantados entre as árvores, respeitando a vegetação existente. A acessibilidade será garantida por passarelas elevadas, escadas e escorregadores. A quadra, vestiários, refeitório e alojamento para pesquisadores também serão construídos com soluções estruturais adequadas, como treliças metálicas e lajes nervuradas com clarabóias.

Em 2024, iniciou-se a construção dos dois primeiros módulos da expansão, com capacidade para até 20 alunos cada, além de um módulo de conexão que forma um pátio coberto com pérgola. Essa expansão visa atender ao crescimento da escola por pelo menos mais dois anos. O sistema modular adotado é flexível e permite que os espaços sejam realocados futuramente para outras funções.



Todas as intervenções físicas são pensadas para minimizar os impactos ambientais, respeitar a topografia e as características naturais do terreno. A natureza preexistente é tomada como ponto de partida para o desenvolvimento do projeto, orientando desde a implantação dos edifícios até a escolha dos materiais. O espaço da escola é visto não apenas como local de ensino, mas como ferramenta educativa em si, onde cada elemento do ambiente pode se tornar um agente de aprendizagem e transformação social.


Combinando arquitetura consciente, práticas sustentáveis, educação de qualidade e envolvimento comunitário, o projeto da Escola Vila Ninho é um exemplo de como o ambiente físico pode assumir uma função educadora essencial na prática pedagógica contemporânea, promovendo não apenas conhecimento, mas também cidadania, cuidado com o meio ambiente e responsabilidade social.
