Experiências, aprendizados e intercâmbios: práticas de planejamento antirracista no Brasil e no Canadá

Ontario Professional Planners Institute (OPPI), black planning project e a Faculdade de Arquitetura da UFBA convidam para o webinário experiências, aprendizagens e intercâmbios: práticas antirracistas de planejamento no Brasil e no Canadá, a ser realizado no dia 16 de fevereiro (sexta-feira), das 14h00 às 15h30 (horário de Salvador/Brasil).

Informações sobre o evento:https://members.ontarioplanners.ca/mpower/event/landing.action?id=168Inscrições na página de registro da OPPI: https://webcast.guru/registration/240216-010/

A Década Internacional de Afrodescendentes reconhece a história global do racismo, que ultrapassa as fronteiras geográficas, estabelecendo um marco de ação. Proclamada em 2014 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, seguida pelo Brasil desde então e reconhecida pelo Canadá oficialmente apenas em 2018. 
No Canadá, foi somente em 2020 que a profissão de planejamento urbano foi desafiada a enfrentar seu próprio racismo anti-negro institucionalizado que torna as cidades inabitáveis para vidas negras e, em resposta, a OPPI estabeleceu uma Força-Tarefa Anti-Racismo Negro com um mandato para "desenvolver uma estratégia e plano de ação para remover barreiras sistêmicas na prática de planejamento que perpetuam o racismo anti-negro contra as comunidades negras e limitam desproporcionalmente as oportunidades de emprego e representação de planejadores negros na profissão de planejamento". 

O Conselho da OPPI aprovou catorze recomendações resultantes deste grupo de trabalho em 2021 e para pôr em prática as recomendações, está a ser desenvolvido um plano de implementação. No entanto, os planejadores estão a questionar e a debater qual poderá ser o nosso papel e o que isso significa para como nos envolvemos de forma diferente nas práticas de planejamento e nas suas implicações para comunidades negras?

O Brasil se destaca internacionalmente por ter reconhecido em sua Constituição Federal (1988) os direitos originários das terras dos povos indígenas e dos remanescentes de comunidades quilombolas. Também é celebrado pelo Estatuto da Cidade (2001), que definiu o direito à cidade, a função socioambiental da propriedade e a gestão democrática como objetivos e princípios que deveriam nortear as políticas urbanas e de planejamento. No entanto, esses avanços jurídicos não têm sido suficientes para evitar que pessoas racializadas sofram injustiças.

Estima-se que no Brasil existiriam pelo menos 5,2 milhões de domicílios na informalidade (IBGE, 2019), com seus moradores vivendo em situações de insegurança da posse e/ou propriedade, precarização socioeconômica e das moradias, falta de acesso ao saneamento e serviços públicos essenciais e/ou em em áreas de restrições à ocupação e de riscos de desastres urbano-ambientais. Em cidades negras como Salvador, essa proporção atingiria 41,8% dos seus domicílios. Em cidades da região amazônica como Belém, que concentram descendentes indígenas, esse montante representa mais de 50% dos domicílios.

Já as situações de déficit habitacional no Brasil, mensuradas no ano de 2019 (FJP, 2022), envolveriam cerca de 6 milhões de domicílios caracterizados por coabitação, formas de habitação precarizada e ônus excessivo com aluguel urbano. A grande maioria dessas situações seriam de arranjos familiares chefiados por pessoas negras (69,6%) e por mulheres (59,1%).

A construção de perspectivas antirracistas no planejamento é uma urgência global, já que esse campo frequentemente opera lógicas classificatórias/despossessórias. Os impactos das ações de planejamento precisam ser avaliados, endereçando assimetrias e injustiças históricas e contemporâneas - na participação na tomada de decisões, na distribuição de infraestruturas e serviços, no acesso à habitação, ao território, à terra e aos direitos. Este estado de injustiças socioespaciais, de classe/raciais e de gênero tem sido constantemente desafiado pela persistência de vidas negras, indígenas e dissidentes nas suas lutas, formas inventivas de viver e co-criação de cidades e territórios.

Este webinário será uma oportunidade para ouvir e dialogar com líderes comunitários do Brasil e do Canadá das seguintes coletividades: Associação de Amigos e Moradores do Centro Histórico de Salvador (AMACH), Articulação dos Movimentos e Comunidades do Centro Antigo de Salvador (Articulação) e Beechville Community Development Association (BCDA). A AMACH foi criada em 2002 e é liderada e formada por mulheres negras que resistiram às expulsões do Programa de Recuperação do Centro Histórico de Salvador. A Articulação foi criada em 2014 e tem buscado afirmar o direito à cidade das comunidades envolvidas, através de mobilização e comunicação social, formação técnico-política, incidência política junto à sociedade civil e órgãos como o Ministério Público, a Defensoria Pública, o Poder Judiciário, entre outros. A BCDA, uma rede de membros de uma comunidade histórica africana da Nova Escócia, com 300 anos, falará sobre a forma como se envolveram com os planejadores da cidade para fazer face às pressões do desenvolvimento na sua comunidade que levaram a uma perda significativa de terras. Após as apresentações, decisores políticos, acadêmicos e agentes da sociedade civil, dentre outra/os participantes, poderão dialogar com essas experiências, refletindo sobre questões comuns, desafios e oportunidades enfrentados por cada organização e possibilidades para incidência coletiva. 

*Haverá tradução simultânea português-inglês.

#Tags

Este evento foi enviado por um usuário de ArchDaily. Se você quiser, pode também colaborar utilizando "Enviar um evento". As opiniões expressas nos anúncios enviados pelos usuários archdaily não refletem necessariamente o ponto de vista de ArchDaily.

Cita: "Experiências, aprendizados e intercâmbios: práticas de planejamento antirracista no Brasil e no Canadá" 31 Jan 2024. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1012804/experiencias-aprendizados-e-intercambios-praticas-de-planejamento-antirracista-no-brasil-e-no-canada> ISSN 0719-8906

¡Você seguiu sua primeira conta!

Você sabia?

Agora você receberá atualizações das contas que você segue! Siga seus autores, escritórios, usuários favoritos e personalize seu stream.