Projetos de Benevides, Jundiaí e Fortaleza vencem prêmio nacional por melhorarem as condições do caminhar

Para enfrentar a crise climática é urgente transformar o modo de vida nas cidades, que são as maiores poluentes e consumidoras de energia, principalmente pelo uso excessivo de veículos motorizados. A promoção de cidades em que as pessoas possam se deslocar de forma ativa - a pé e de bicicleta - para suas atividades diárias é o caminho que o Instituto Caminhabilidade impulsiona. Por isso, criou o Prêmio Cidade Caminhável, que valoriza e inspira ações por cidades caminháveis no Brasil.

Em sua segunda edição, o Prêmio mapeou e reconheceu projetos e iniciativas realizados em 2021 e 2022 pelo poder público nas cidades brasileiras para melhorar os deslocamentos a pé. Nesta edição, foram 32 inscrições válidas, de 17 cidades de sete Estados, compreendendo todas as regiões do país. As vencedoras foram os projetos Rua da Gente, do município de Benevides, no Pará (categoria Cidades Pequenas); Projeto Plano de Bairro Novo Horizonte e Região, do município de Jundiaí, São Paulo (Cidades Médias); e Programa de Infraestrutura em Educação e Saneamento (Proinfra) de Fortaleza, capital do Ceará (Cidades Grandes).

As iniciativas, que podem ser vistas no Mapa Cidade Caminhável, foram analisadas por quatro mulheres especialistas em mobilidade e cidades: Circe Monteiro, arquiteta e urbanista paranaense, professora titular da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutora em Sociologia Urbana na University of Oxford; Gessica Macamo, cientista política moçambicana e diretora executiva do Centro de Estudos Urbanos de Moçambique (CeUrbe); Hannah Machado, arquiteta e urbanista paulista, mestre em Gestão e Políticas Públicas, e ex-Coordenadora de Desenho Urbano e Mobilidade da Iniciativa Bloomberg; e Taynara Gomes, arquiteta e urbanista paraense, mestre e doutoranda em arquitetura e urbanismo, professora e gerente de projetos da ONG Laboratório da Cidade.

Elas avaliaram os projetos nas três categorias: cidades pequenas (até 100 mil habitantes), médias (100.001 a 800.000 habitantes) e grandes (mais de 800.001 habitantes), por meio de seis critérios de análise: caminhabilidade, impacto, participação social, colaboração e inovação. Confira abaixo as iniciativas vencedoras, de três regiões diferentes do Brasil.

Cidades Pequenas: Projeto Rua da Gente - Benevides, Pará
A cidade da região metropolitana de Belém, no norte do país, tem cerca de 60 mil habitantes, e é conhecida como "O berço da Liberdade", pois foi a primeira no Estado e a segunda no país a libertar pessoas escravizadas.

O projeto Rua da Gente consiste na abertura de ruas para brincar no centro da cidade todos os sábados e domingos das 18h às 22h, incluindo trecho de rodovia estadual. O horário pode parecer peculiar em outras regiões do país mas, devido ao calor, é quando há condições para que as pessoas saiam ao ar livre. A iniciativa que começou em 2021 foi o pontapé das políticas de primeira infância na cidade, e culminou no plano municipal da primeira infância.

O projeto proporciona a relação entre as pessoas e a cidade, estimulando o brincar livre e a diversão de crianças e adultos, devolvendo as ruas para as pessoas, fortalecendo a identidade do território local, principalmente através do resgate de brincadeiras de rua, o que oferece autonomia e segurança.

O projeto teve como parceiras a iniciativa Urban95, o CECIP (Centro de Criação de Imagem Popular) e a organização paraense de urbanistas Laboratório da Cidade.

Para a jurada Gessica Macamo, além da iniciativa já estar em curso e impactar todas as pessoas da cidade, outro ponto forte é que está em processo de se tornar um projeto de lei e, assim, se expandir e se consolidar.

Cidades Médias: Projeto Plano de Bairro Novo Horizonte e Região - Jundiaí, São Paulo
A cidade de Jundiaí, que se tornou recentemente região metropolitana, tem mais de 420 mil habitantes e está a cerca de 2h de trem da estação da Luz, na capital paulista.

O projeto Plano de Bairro Novo Horizonte e Região, realizado pelo Departamento de Urbanismo da Unidade de Gestão de Planejamento Urbano e Meio Ambiente, desenvolveu de forma participativa um plano de bairro com foco na infância, estruturado em quatro metas e 31 ações previstas.

Uma das ações foi o mapeamento dos percursos da infância com o objetivo de priorizar investimentos para mobilidade ativa, segurança viária, sinalização, arborização, intervenções lúdicas e acessibilidade nessas rotas. Na construção do plano, foi identificado, por exemplo, que apenas 40% das crianças vão a pé para a escola. No entanto, dentre as 60% que não vão caminhando, 1/3 afirmou que iria a pé se as calçadas fossem melhores e se o caminho tivesse sombra. Assim, o plano tem ações para estímulo do caminhar no bairro, desde arborização até o desenvolvimento de rotas lúdicas.

A iniciativa é mais um exemplo na cidade que está se destacando no país pela visão integral sobre a infância e a intersecção com os projetos urbanos. A jurada Circe Monteiro destacou a participação da população e a indicação de ações concretas para a transformação do bairro, que podem inspirar outras regiões a desenvolverem planos e ações a partir das identidades e necessidades locais.

Cidades grandes: Programa de Infraestrutura em Educação e Saneamento (Proinfra) - Fortaleza, Ceará
Fortaleza é a capital do Ceará, com 2,6 milhões de habitantes, e teve projeto vencedor na edição do Prêmio de 2021 com o Plano Municipal de Caminhabilidade (PMCFor).

O projeto Programa de Infraestrutura em Educação e Saneamento (Proinfra) urbanizou mais de mil ruas com a construção de sistema de drenagem, com galerias e bocas de lobo, pavimentação com piso intertravado e novas calçadas.

A iniciativa viabiliza e promove a melhoria das condições de caminhabilidade da população local, contemplando, sobretudo, crianças, idosos, pessoas com mobilidade reduzida e pessoas com deficiência. Além das condições para caminhar, a iniciativa também melhora as condições sanitárias, a infraestrutura e os serviços básicos da população.

Para a jurada Hannah Machado,o projeto chamou atenção pois é bastante amplo e prioriza áreas marginalizadas, alcançando comunidades e populações vulnerabilizadas, fazendo com que essas mudanças tenham muito impacto. Além disso, ela destacou que a iniciativa não tem somente participação social, mas também contratação de mão de obra local, o que garante envolvimento e aprovação.

Projetos de Sobral, Jundiaí, Recife e Campo Grande ficam entre os finalistas

Nas categorias de cidades médias e cidades grandes, a disputa foi bastante acirrada entre os três projetos no pódio. Nas cidades médias, o segundo e o terceiro colocados foram Parque Urbano da Lagoa da Fazenda, de Sobral, no Ceará; e Ruas de Brincar, também de Jundiaí. O projeto de Sobral consistiu na requalificação da Lagoa da Fazenda, uma área de mais de 175 mil m².

A intervenção integrou física e ecologicamente dois importantes espaços públicos da cidade, promovendo uma continuidade ecológica com restauração e implantação florestal, o que é essencial para a sustentabilidade. A proposta também conta com a implantação de um parque com áreas de integração social, lazer e recreação. Já o projeto Ruas de Brincar abre espaço para que a população de Jundiaí se inscreva no programa e, após a autorização da prefeitura, abra o trecho da rua onde mora aos domingos e feriados promover diversas atividades.

Já nas cidades grandes, o segundo e o terceiro lugar foram para Parque Capibaribe – Caminho das Capivaras -, no Recife, em Pernambuco; e Reviva Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

O projeto do Recife vem implementando trechos nos últimos anos em volta do Rio Capibaribe, com o objetivo de resgatar o local como eixo viário estruturador através da construção de 30 km de caminhos voltados exclusivamente à mobilidade ativa, ao lazer e à recuperação e fruição da fauna e flora nativas.

Já o projeto de Campo Grande, também inscrito na primeira edição, promoveu a requalificação da zona central da cidade por meio da diversificação de usos e atividades, focando prioritariamente na qualidade da caminhabilidade, no fluir dos transportes de massa e na oferta de moradia social. O projeto mostrou muito desenvolvimento, integração, qualidade técnica e pioneirismo na região Centro-Oeste. Além disso, se destacou pela avaliação dos resultados, que indicou que 93% da população e 93% dos comerciantes avaliaram positivamente as mudanças.

Para Leticia Sabino, Diretora Presidente do Instituto Caminhabilidade, os projetos inscritos têm muita qualidade técnica. Além disso, ela destacou o aumento de inscrições entre a primeira edição, em 2021, e a deste ano. “O crescimento de 28 projetos para 32 é um indicativo de que há expansão e desenvolvimento da caminhabilidade no país, já que a primeira edição considerava projetos dos oito anos anteriores, enquanto na segunda apenas dos dois últimos anos”, afirma Leticia.

“Todos os projetos são muito relevantes no país e, por isso, iremos estudar e gerar materiais sobre os principais deles, para que possamos alcançar e inspirar mais cidades”, complementa.

Iniciativa de Jacareí, que intersecciona raça e caminhabilidade, recebe menção honrosa

Nesta edição, o Prêmio também reconheceu com menção honrosa projetos que tinham perspectiva de cidades do cuidado - ou seja, que incluíam a perspectiva das mulheres e da primeira infância. As menções honrosas foram para os projetos Ruas de Brincar, de Jundiaí, em São Paulo; e Caminhos Ancestrais, de Jacareí, também em São Paulo. O projeto de Jacareí é pioneiro ao interseccionar raça e caminhabilidade, estimulando e melhorando a prática do caminhar no município e promovendo a valorização de personalidades e movimentos que representam os povos negros e indígenas. Foram requalificadas quatro áreas de uso coletivo, com destaque para memórias e conquistas de personalidades negras e indígenas, através da escolha dos nomes para os espaços e a execução de artes expostas.

Segundo a jurada Taynara Gomes,o projeto de Jundiaí cria um modelo que empodera a cidadania e que pode ser expandido para toda a cidade. Já o de Jacareí dá relevância a personagens importantes da formação do país e cria representatividade de pessoas negras e indígenas nos espaços públicos, o que é urgente no contexto brasileiro.

A premiação das vencedoras, uma de cada categoria, será o registro e valorização das mesmas por meio da realização de um mini webdocumentário, a gravação de um episódio de podcast no Cidades Caminháveis, do Instituto caminhabilidade, e um espaço de participação no evento internacional de caminhabilidade Walk 21, que acontecerá em 2023 em Kigali, Ruanda.

O anúncio dos projetos vencedores aconteceu no dia 08 de agosto durante a Semana do Caminhar por meio das redes sociais da organização promotora e também no site do Prêmio, onde é possível ver o mapa com todas as inscritas - incluindo as da primeira edição - e conhecer as finalistas.

Sobre o Prêmio Cidade Caminhável

O Prêmio Cidade Caminhável é um prêmio inovador que tem como objetivo reconhecer, mapear e premiar iniciativas públicas que promovam a melhoria da caminhabilidade nas cidades brasileiras, de forma a impulsionar projetos e ações para cidades mais caminháveis. A edição de 2023 é a segunda do prêmio organizado pelo Instituto Caminhabilidade, e conta com um forte time de júri, além da parceria internacional do Walk 21.

www.premiocidadecaminhavel.org

Sobre o Instituto Caminhabilidade

O Instituto Caminhabilidade é uma organização sem fins lucrativos, liderada por mulheres e fundada em 2012 que, movida pela urgência de alcançar a equidade de gênero e enfrentar a crise climática, desenvolve cidades em que pessoas e caminhar sejam prioridade. Para isso, faz projetos e ações, de forma colaborativa e prioritária para populações vulnerabilizadas, principalmente em territórios marginalizados, criando pontes entre sociedade civil, poder público e outros atores, por meio de duas frentes de atuação: a promoção da cultura do caminhar e a humanização das cidades. Almeja criar ambientes mais justos e que melhoram a qualidade de vida de todas as pessoas ao garantir acesso, colaboração, sustentabilidade, segurança, acolhimento, saúde e dinamismo.

caminhabilidade.org

Sobre a Walk21 www.walk21.com

Instituição internacional sem fins lucrativos dedicada a garantir o direito de caminhar e a oportunidade de desfrutá-lo, defendendo o desenvolvimento de comunidades saudáveis, sustentáveis e eficientes onde as pessoas optem por caminhar. É também uma plataforma internacional para discussão inclusiva, desenvolvimento de melhores práticas e entrega de novas iniciativas por meio da série de conferências internacionais, projetos de pesquisa patrocinados e serviços de consultoria local. Promovem conferências anuais reunindo especialistas do mundo todo.

  • Título

    Projetos de Benevides, Jundiaí e Fortaleza vencem Prêmio nacional por melhorarem as condições do caminhar
  • Tipo

    Evento
  • Organizadores

    Instituto Caminhabilidade
  • De

    12 de Junho de 2023 12:23 PM
  • Até

    08 de Agosto de 2023 05:39 PM
  • Onde

    Brasil
  • Endereço

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Cita: "Projetos de Benevides, Jundiaí e Fortaleza vencem prêmio nacional por melhorarem as condições do caminhar " 21 Ago 2023. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1005716/projetos-de-benevides-jundiai-e-fortaleza-vencem-premio-nacional-por-melhorarem-as-condicoes-do-caminhar> ISSN 0719-8906

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