Urbanismo sensorial é uma forma de investigação de como a informação não visual define o caráter de uma cidade e afeta sua habitabilidade. Usando métodos que variam de trilhas sonoras e mapas de cheiros, wearables e realidade virtual, pesquisadores dessa área tem introduzido outros sentidos aos centros urbanos.
Segundo David Howes, pesquisador do Urbanismo Sensorial e autor do livro The Sensory Studies Manifesto, as pessoas se acostumaram a apenas olhar a cidade e esquecer de sentir o seu cheiro, sons e toque.
Howes está adotando uma abordagem etnográfica, usando observação e entrevistas para desenvolver um conjunto de melhores práticas para um bom design sensorial em espaços públicos. Outros pesquisadores estão adotando alta tecnologia, usando dispositivos vestíveis para rastrear dados biométricos, como a variabilidade da frequência cardíaca, como medidor de respostas emocionais a diferentes experiências sensoriais. O projeto GoGreenRoutes, financiado pela UE, busca essa abordagem, pois estuda como a natureza pode ser integrada aos espaços urbanos de forma a melhorar a saúde humana e ambiental.
Ao redor do mundo
Oğuz Öner, acadêmico e músico da Turquia e também pesquisador do urbanismo sensorial, passou anos organizando caminhadas sonoras em Istambul, onde participantes vendados descrevem o que ouvem em diferentes pontos. Sua pesquisa identificou locais onde a vegetação poderia ser plantada para amortecer o ruído do tráfego ou onde um órgão de ondas poderia ser construído para amplificar os sons suaves do mar, algo que ele ficou surpreso ao perceber que as pessoas mal podiam ouvir, mesmo ao longo da orla.
Esse tipo de feedback individual sobre o ambiente sensorial já está sendo usado também em Berlim, onde áreas silenciosas identificadas pelos cidadãos usando um aplicativo móvel gratuito foram incluídas no mais recente plano de ação de ruído da cidade. De acordo com a legislação da UE, a cidade agora é obrigada a proteger esses espaços contra o aumento do ruído.
Na Universidade Deakin, na Austrália, o professor de arquitetura Beau Beza busca a imersão total nos sentidos da cidade. Sua equipe está adicionando sons – e, eventualmente, cheiros e texturas – a ambientes de realidade virtual que as autoridades municipais podem usar para apresentar projetos de planejamento às partes interessadas. “Representações estáticas em papel de uma paisagem de rua, parque ou praça são difíceis para muitas pessoas visualizarem”, diz Beza à revista do MIT Technological Review. “Ser capaz de ‘andar’ e ouvir como soa aumenta a compreensão.”
Inclusão urbana
Questões de equidade e inclusão também entram em jogo ao determinar quais experiências sensoriais são levadas em consideração no planejamento. Comunidades urbanas desprivilegiadas normalmente sofrem o impacto da poluição sonora e odorífera de rodovias e fábricas, mas também são frequentemente alvo de reclamações de ruído, por exemplo, quando seus bairros se gentrificam.
“As percepções sensoriais não são neutras, ou simplesmente biológicas; se achamos algo agradável ou não foi moldado cultural e socialmente”, diz Monica Montserrat Degen, socióloga cultural urbana da Brunel University London. Planejadores cívicos em Londres e Barcelona estão usando sua pesquisa sobre percepções do espaço público e como as “hierarquias sensoriais”, como ela se refere a elas, incluem ou excluem diferentes grupos de pessoas.
Degen cita o exemplo de um bairro de Londres onde restaurantes baratos que serviam de ponto de encontro para os jovens locais foram substituídos por cafés da moda. “Costumava cheirar a frango frito”, diz ela, mas os moradores mais novos acharam esse aroma mais desagradável do que acolhedor. “Agora cheira a cappuccinos.”
Quais as possibilidades desse tipo de prática urbanística em países onde a diversidade urbana de classes sociais, habitações, comércio e pessoas é ampla e diversas vezes caótica?
Via Tabulla.
Nota do Editor: Este artigo foi publicado originalmente em 06 de setembro de 2022