Num mundo fisicamente cada vez mais conectado, mas socialmente incrivelmente desigual e fragmentado, qual deveria ser a contribuição de arquitetas e arquitetos na busca por cidades e comunidades mais igualitárias, desenvolvidas e humanas? Segundo os autores desse livro, objeto de nossa conversa neste episódio, a nossa atuação deve assumir, necessariamente, a sua dimensão política.
O Arquicast conversou com Zaida Muxí, arquiteta argentina e especialista em Urbanismo e Gênero, e Josep Maria Montaner, arquiteto e crítico espanhol mundialmente reconhecido. Ambos autores do já celebrado livro Política e Arquitetura: Por um urbanismo do comum e ecofeminista. O livro está sendo lançado no Brasil pela Editora Olhares. Quem também participou e engradeceu nosso papo foi a arquiteta e crítica de arquitetura Laís Bronstein, trazendo sua interpretação dos temas tratados no livro e seus impactos no Brasil.
A recente publicação dá continuidade à parceria entre Zaida e Montaner, que em 2011 lançaram Arquitetura e Política: ensaios para mundos alternativos, onde organizaram relatos de sua experiência docente em uma disciplina optativa na Escola de Arquitetura de Barcelona. Mas Política e Arquitetura parte de uma premissa bastante diferente: a experiência de ambos junto à administrações municipais em duas cidades espanholas. Zaida, como diretora de urbanismo, moradia, espaço público e ecologia, na gestão de Núria Parlón em Santa Coloma de Gramenet; e Montaner como conselheiro eleito e encarregado da área de moradia e habitação no importante e desafiador distrito de Sant Marti, em Barcelona.
Com brilhante prefácio de Raquel Rolnik, a obra percorre, com muita honestidade, diversas questões que pautam a relação entre pensamento reflexivo e a prática profissional em Arquitetura e Urbanismo. Compartilhando com os leitores as aprendizagens que absorveram em sua atuação em cargos políticos, a dupla atualiza temas como a necessária feminização da política, os desafios de uma gestão de fato participativa, o delicado equilíbrio entre conservação e transformação da cidade, em sua dimensão física e simbólica, e o estado da arte das políticas públicas de habitação na contemporaneidade. Tudo isso pautados no conhecimento teórico que há anos veem construindo e ao qual puderam adicionar exemplos reais das agendas públicas que empreenderam.
A conversa percorre esse vasto repertório de práticas, sobre o processo de feitura do livro e sobre a importância de uma publicação desta natureza num país paradoxal como o Brasil, com demandas urgentes e gritantes e com tudo por fazer.
Ouça o podcast.
Texto por Aline Assis.