Arquitetas Invisíveis apresentam 48 mulheres na arquitetura: As Pioneiras

O dia internacional das mulheres é celebrado no dia 8 de março em homenagem às 130 mulheres que foram queimadas vivas em uma fábrica em Nova Iorque em 1857. A violência foi uma resposta às reinvindicações por melhores condições de trabalho exigidas pelas tecelãs.

O que começou com pequenos protestos, acabou tomando proporções mundiais e desencadeou, ao longo dos tempo, em uma séria de conquistas políticas, econômicas, trabalhistas e sociais para as mulheres. Infelizmente, essas conquistas ainda não garantem igualdade de gênero na prática (e em alguns países ainda há leis que favorecem os homens). Constatamos isso diante da violência física e psicológica sofrida pelas mulheres, da falta de reconhecimento, das imposições ocupacionais, diferenças salariais, além de tantas outras. Esse panorama diz respeito às mulheres de todo o mundo, mas também dentro da arquitetura há estatísticas que comprovam como as mulheres ainda não são valorizadas social e profissionalmente. São poucas as mulheres que conseguem reconhecimento internacional, o que as torna desconhecidas para profissionais e estudantes de arquitetura, desencadeando a sensação de que elas não existem.

Para celebrar o Dia das Mulheres, pedimos ao coletivo brasileiro Arquitetas Invisíveis, com sede em Brasília, que compartilhassem conosco parte de sua pesquisa que identifica e enaltece o trabalho das mulheres na Arquitetura e Urbanismo, elas gentilmente nos cederam este material - que apresenta 48 mulheres divididas em sete categorias: pioneiras, "nas sombras", arquitetura, paisagismo, arquitetura social, urbanismo e arquitetura sustentável – que será publicado separadamente durante esta semana.

Cortesia de Arquitetas Invisíveis

O projeto Arquitetas Invisíveis, que neste 8 de março completa um ano, surgiu pela dificuldade em acreditar na falta de participação das mulheres no campo da arquitetura desde o século XX. Através de pesquisas o grupo descobriu que sim, elas existem, são muitas e possuem projetos de grande relevância.

A intenção do projeto Arquitetas Invisíveis é apresentar, divulgar e homenagear o trabalho dessas excelentes profissionais e levantar a discussão: por que muitas delas ainda são invisíveis? E como podemos mudar esse quadro?

Nesta primeira parte, apresentamos as Pioneiras.

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Pioneiras

Desbravando o campo da arquitetura, essas mulheres iniciaram o rompimento de barreiras, que antes não se imaginava ser possível sequer alcançar. Combativas e determinadas, elas estiveram entre aquelas que tornaram possível a ampliação da presença feminina no fazer arquitetônico em uma sociedade profundamente patriarcal. Impossível não começarmos por Julia Morgan, primeira mulher licenciada a trabalhar com arquitetura (1904). Este marco é muito significativo para a história da profissão, visto que Sophia Hayden Bennet, arquiteta formada em 1890, sofreu severamente com o machismo e praticamente não pôde atuar (quando pôde, recebeu menos de um décimo da remuneração de um arquiteto homem). Martha Cassell, Norma Merrick Sklarek, Georgia Louise Harris e Beverly Lorraine Greene são também pioneiras no enfrentamento do preconceito racial na profissão. As quatro mulheres negras marcaram a trajetória da arquitetura como figuras representativas das dimensões que o machismo pode assumir, sendo as primeiras a buscar o reconhecimento e respeito em meio a uma profissão cujo sistema era essencialmente patriarcal. Por fim, temos Margarete Shutte-Lhotzky, mais conhecida como Gret. Ela foi responsável pelo projeto da emblemática cozinha de Frankfurt e também desenvolveu uma série de outros projetos. Por conta de sua constante associação somente com a cozinha, Gret chegou a comentar: “Se eu soubesse que todo mundo iria falar somente sobre isso, eu não teria feito aquela maldita cozinha."

BEVERLY LORAINE GREENE

Arquiteta norte-americana nascida em 1915. Foi a primeira mulher negra a se formar em arquitetura, pela Universidade de Illinois. Faleceu em 1957, aos 42 anos de idade.

GEORGIA LOUISE HARRIS

Arquiteta norte-americana nascida em 1918. Trabalhou com Mies van der Rohe em projetos estruturais e já no Brasil também participou do projeto do Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Sua formação foi marcada por episódios de racismo e sexismo. Por conta do preconceito, que limitava sua atuação profissional, mudou-se para o Brasil em 1954, onde fundou seu próprio escritório. Faleceu em 1999, aos 81 anos de idade.

JULIA MORGAN

Julia Morgan, FAIA (1872-1957)

Arquiteta e engenheira norte-americana nascida em 1872. Abriu seu próprio escritório em 1904, tornando-se a primeira mulher licenciada a trabalhar com arquitetura. Com foco em arquitetura residencial, completou mais de 700 projetos até 1951, quando se aposentou. Foi a primeira mulher a ser agraciada com o prêmio Instituto Americano de Arquitetos (AIA), por inspirar toda uma geração de arquitetas. Faleceu em 1957, aos 85 anos de idade.

Igreja Presbiteriana St. John; Berkeley, CA (1908-1916) / Julia Morgan. Cortesia de Mark Anthony Wilson; Julia Morgan, Arquiteta da Beleza
Asilomar YWCA; Pacific Heights, CA (1913-1928) / Julia Morgan. Cortesia de Joel Puliatti; Julia Morgan, Architect of Beauty

* Veja também: The Indicator: O que a AIA Gold Medal de Julia Morgan significa para a igualdade na arquitetura

MARTHA CASSELL

Martha Cassell. © EZRA Division of Rare and Manuscript Collections.

Arquiteta norte-americana nascida em 1925. Faleceu em 1968, aos 43 anos de idade.

NORMA MERRICK SKLAREK

Norma Merrick Sklarek. © blackpast.org

Arquiteta norte-americana nascida em 1928. Foi a primeira mulher afro-americana a receber a licença de arquiteta e a fazer parte do Instituto Americano de Arquitetos (AIA). Também foi a primeira mulher negra a receber condecorações do AIA. Faleceu em 2012, com 84 anos de idade.

San Bernardino City Hall. Imagem: Domínio Público

SOPHIA HAYDEN BENNETT

Sophia Hayden Bennett. Imagem: Domínio Público

Arquiteta chilena nascida em 1868. Foi a primeira mulher a ser aceita no curso de arquitetura do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Faleceu em 1953, aos 85 anos de idade.

Woman's Building. World's Columbian Exposition. Imagem: Domínio Público

MARGARETE (GRET) SCHÜTTE-LIHOTZKY 

Margarete Schütte-Lihotzkyl. © Elekhh

Arquiteta austríaca nascida em 1897. Projetou casas em Viena e na Bulgária, trabalhou com escolas na antiga URSS e atuou na China e em Cuba, além de ter desenvolvido diversos mobiliários. Foi perseguida pelo nazismo e exilada na Turquia. Gret ficou conhecida pelo projeto das 11mil Cozinhas de Frankfurt. Historicamente todo o trabalho que ela desenvolveu foi resumido somente à cozinha: "Se eu soubesse que todo mundo iria falar somente sobre isso, eu não teria feito aquela maldita cozinha." Faleceu em 2000, com mais de cem anos de idade.

Cozinha de Frankfurterl. © Christos Vittoratos

"Ficamos muito honradas nesse 8 de março em ajudar a divulgar o trabalho dessas 48 arquitetas. Sabemos que há diversas outras profissionais de excelência pelo mundo, e estamos em busca de mais conhecimento e reconhecimento para elas, que combatem estatísticas desestimulantes, preconceitos e violência em busca das mesmas condições de trabalho que os homens. Esse é o começo de uma grande jornada para o projeto Arquitetas Invisíveis e gostaríamos de compartilhar essa e outras iniciativas, discussões e informações através da nossa fan page.

Que esse dia seja mais que um dia de homenagens, que ele possa trazer reflexões e discussões e nos ajudar a avançar rumo à uma sociedade mais justa. A equipe Arquitetas Invisíveis deseja a todas um feliz dia da mulher!"

Não deixe de acompanhar e conhecer durante esta semana as arquitetas presentes nas outras categorias.

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Sobre este autor
Cita: Arquitetas Invisíveis. "Arquitetas Invisíveis apresentam 48 mulheres na arquitetura: As Pioneiras" 08 Mar 2015. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/763310/arquitetas-in-visiveis-as-pioneiras> ISSN 0719-8906

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