Casa São José do Barreiro / Vão

Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Interiores, Jardim, Floresta
© Javier Agustin Rojas

Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Exterior, Janela, FlorestaCasa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Interiores, Madeira, Viga, JanelaCasa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Interiores, Porta, Janela, VigaCasa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Exterior, Janela, JardimCasa São José do Barreiro / Vão - Mais Imagens+ 34

São José do Barreiro, Brasil
  • Arquitetos: Vão
  • Área Área deste projeto de arquitetura Área:  100
  • Ano Ano de conclusão deste projeto de arquitetura Ano:  2022
  • Fotógrafo
  • Arquitetos Líderes: Anna Juni, Enk te Winkel e Gustavo Delonero
  • Maquete: Julio Shalders
  • Construção: Benedito Serafim [Sr. Dito]
  • Marcenaria: Ernani César da Silva [Pedrão]
  • Cidade: São José do Barreiro
  • País: Brasil
Mais informaçõesMenos informações
Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Exterior, Janela, Floresta
© Javier Agustin Rojas

Descrição enviada pela equipe de projeto. Os desafios projetuais da Casa São José do Barreiro não estiveram atrelados ao desenvolvimento de uma estrutura ousada, nem mesmo de um detalhamento técnico sofisticado. Tampouco o esforço maior deve ser creditado à manipulação do vento, ao direcionamento da luz natural e aos enquadramentos da paisagem – ainda que essas sejam estratégias fundamentais para a criação da sua espacialidade.

Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Exterior, Janela, Jardim
© Javier Agustin Rojas
Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Exterior, Janela, Escada, Floresta, Jardim
© Javier Agustin Rojas

A questão que nesse caso exigiu de fato grande dedicação foi entender como o projeto lidaria com o seu contexto. Ou melhor, como a casa deveria se apresentar estando localizada no centro de uma pequena cidade [1] do Vale Histórico Paulista, na região da Serra da Bocaina. Sabia-se a priori que a relação não deveria se realizar através da tentativa de mimetizar o passado cristalizado no casario e nas ruas de paralelepípedo que permeiam a Praça da Igreja Matriz. No entanto intuía-se que, de alguma forma, a casa deveria estabelecer um vínculo com a atmosfera remota que paira na cidade desde a crise do ciclo do café [2]. 

Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Exterior, Jardim
© Javier Agustin Rojas
Casa São José do Barreiro / Vão - Imagem 35 de 39
Planta baixa
Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Exterior, Fachada, Jardim, Aido, Pátio
© Javier Agustin Rojas
Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Interiores
© Javier Agustin Rojas

Para entender a reverberação da história construída no projeto, foi imprescindível realizar um reconhecimento mais aproximado, não limitado apenas à usual visita ao terreno de intervenção. Do cotidiano apreendido na observação da vida na praça, nas visitas ao Cine Theatro São José [3] e à Fazenda Pau D’alho [4]  e até mesmo nas conversas com os vizinhos, cujas famílias habitam a cidade há muitas gerações, nasceu o desejo de estabelecer um diálogo silencioso e subjetivo entre a casa e a cidade. 

Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Interiores
© Javier Agustin Rojas
Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Interiores, Jardim, Aido
© Javier Agustin Rojas

A segunda diretriz surgiu de uma questão mais pragmática: esta deveria ser uma casa possível. Possível de ser viabilizada dentro de um orçamento enxuto (R$ 1.000,00/m²). Possível também de ser construída por uma mão de obra inexperiente na leitura codificada dos desenhos arquitetônicos. Mas, acima de tudo, uma arquitetura possível e passível de incorporar os muitos conhecimentos construtivos tradicionais resguardados pelos construtores locais. 

Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Interiores, Janela, Madeira, Viga
© Javier Agustin Rojas
Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Interiores, Viga, Janela
© Javier Agustin Rojas

Havia ainda um terceiro patrimônio a ser considerado, não relacionado às construções e suas técnicas. Entre as casas justapostas, sem recuos laterais e frontais, o terreno apresentava-se como o único lote não construído da área central, onde um intervalo verde é avistado desde a calçada. As plantas ornamentais e frutíferas ali presentes, foram cultivadas pela mãe da cliente, exímia jardineira, na época em que o terreno era utilizado como o quintal da casa da família. 

Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Exterior, Jardim
© Javier Agustin Rojas
Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Interiores, Janela, Viga
© Javier Agustin Rojas

É curioso que, passados tantos anos, um pequeno manejo do solo fez ressurgir de forma espontânea algumas plantas do tempo da sua mãe, tais como: inhames, tinhorões, samambaias e antúrios. A manifestação da ancestralidade presente nos extratos de tempo dessa terra, herança vegetal e afetiva, determinou que esta seria uma casa pensada para um jardim. A inversão da lógica usual, onde o pensamento construtivo antecede o paisagístico (um jardim pensado para uma casa), concedeu ao projeto uma oportunidade de celebrar a vegetação. 

Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Exterior, Janela, Fachada, Jardim
© Javier Agustin Rojas
Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Exterior, Janela, Jardim
© Javier Agustin Rojas

A partir do portão e do muro pré-existentes que estabelecem o limite da rua em continuidade aos vizinhos, inicia-se um percurso de deleite. Sinuosamente ele conduz o corpo entre as plantas e revela aos olhos, pouco a pouco, vistas parciais da casa. Ao final, uma escada de pedra se insinua, convidando à um mergulho sob a passarela que emerge no vazio. É nesse momento de chegada ao nível da casa, entre os dois blocos construídos, que se pode perceber o enquadramento de uma imponente mangueira.

Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Exterior, Jardim
© Javier Agustin Rojas
Casa São José do Barreiro / Vão - Imagem 36 de 39
Corte longitudinal
Casa São José do Barreiro / Vão - Imagem 31 de 39
© Vão
Casa São José do Barreiro / Vão - Imagem 38 de 39
Corte transversal 02
Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Interiores, Janela, Fachada
© Javier Agustin Rojas

Para além da celebração simbólica representada pela mangueira, podemos afirmar que o vazio é a ação mais significativa do projeto. Não fosse a sua existência, que divide o programa em bloco social e bloco privativo, talvez pudéssemos dizer que a simplicidade da planta se assemelharia a uma típica casa popular do interior, própria da cultura caipira. 

Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Interiores, Janela
© Vão

No vazio encontra-se também representado o desejo de conciliar tempos espaciais e suas expressões peculiares nas formas de habitar. Se por um lado as passarelas que o delimitam propõem um transitar nada tradicional, aberto às intempéries; por outro, o extenso banco de concreto nada mais é que uma releitura da atividade contemplativa tão característica nas ruas de São José do Barreiro. Todavia, é importante ressaltar ainda que a verdadeira síntese do projeto não está nos elementos construídos, mas na vista revelada para quem ali se senta: no badalar da torre do sino da igreja, na solidez construtiva dos casarões, nos telhados cerâmicos, na marcenaria robusta, no verde do jardim em primeiro plano e dos mares de morro ao fundo.

Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Exterior, Janela, Jardim
© Javier Agustin Rojas
Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Exterior, Janela, Jardim, Floresta
© Javier Agustin Rojas

Notas:

  1. População estimada pelo IBGE em 2021: 4.141 pessoas.
  2. Na segunda metade do século XIX São José do Barreiro destacava-se como uma das maiores produtoras de café do mundo. Junto à outras cidades do Vale do Paraíba constituía uma das regiões mais ricas e desenvolvidas do país. Com a crise de 1929, e o declínio da cafeicultura, a região foi definitivamente esquecida pelos grandes interesses econômicos e seu modelo desenvolvimentista. “Ali tudo foi. Nada é. Não se conjugam verbos no presente. Tudo é pretérito.” – escreveu Monteiro Lobato no livro As Cidades Mortas publicado em 1919, cujo título é contestado por alguns habitantes que reivindicam o reconhecimento da vida que ali existe.
  3. O Cine Theatro São José foi inaugurado em 1868 como símbolo do poder político e econômico dos barões do café. Em 1926 foi transformado em cinema, fechando as portas em 1958. Recentemente passou por anos de reforma e reinaugurou como espaço cultural voltado para encontros, ensaios e apresentações da população.
  4. A Fazenda Pau D’alho, tombada pelo Iphan na década de 60, constitui uma das primeiras instalações voltadas inteiramente para a produção do café. Sua casa sede foi projetada pelo escritório de Ramos de Azevedo em aproximadamente 1817. O conjunto avarandado, construído em taipa de pilão e embasamento de pedra, compreende também uma capela, duas edificações utilizadas como abrigo de tropeiros e uma senzala. No que se refere aos recursos do terreno apresenta uma excepcionalidade técnica como uso da roda d’água e bateria dos pilões. Além de ser uma das representações espaciais mais significativas do ciclo do café, Pau D’alho é um importante registro histórico do modelo escravocrata que tanto difere da tranquilidade observada hoje.

Casa São José do Barreiro / Vão - Fotografia de Exterior, Janela, Jardim, Floresta
© Javier Agustin Rojas

Galeria do Projeto

Ver tudoMostrar menos
Sobre este escritório
Escritório
Cita: "Casa São José do Barreiro / Vão" 19 Jul 2022. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/985587/casa-sao-jose-do-barreiro-vao> ISSN 0719-8906

¡Você seguiu sua primeira conta!

Você sabia?

Agora você receberá atualizações das contas que você segue! Siga seus autores, escritórios, usuários favoritos e personalize seu stream.