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Arquitetos: Natura Futura
- Ano: 2025
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Fotografias:JAG Studio

Descrição enviada pela equipe de projeto. Desenvolvido às margens do rio Babahoyo, no Equador, o local já abrigou, há 200 anos, mais de 250 casas flutuantes. Em 2010, porém, mais de 80 famílias foram removidas para empreendimentos habitacionais municipais situados a 6 quilômetros do rio, interrompendo seus vínculos comerciais e sociais, bem como suas tradições e modos de vida.



Atualmente, apenas vinte e cinco habitações permanecem sobre o rio, muitas delas em condições inadequadas para o desenvolvimento da comunidade. Diante desse cenário, o projeto propõe a criação de um espaço público e privado — voltado também aos habitantes locais — que valorize novamente o habitat flutuante, resgatando técnicas tradicionais e contribuindo para a preservação do ecossistema social e natural do rio.




Em cooperação com o REARC Practice Lab e com a comunidade, foram definidas estratégias para a reabilitação de sete habitações existentes — de diferentes dimensões —, a restauração da encosta do rio com vegetação endêmica e a criação de espaços públicos inundáveis, capazes de se adaptar às variações do nível das águas.



O sistema é composto por plataformas flutuantes e módulos replicáveis de treliças de madeira, cujo número pode ser ampliado ou reduzido conforme as necessidades específicas de cada morador. Inclui também passarelas inundáveis, banheiros secos e sistemas de filtragem que asseguram acesso contínuo à água limpa. As plataformas foram construídas com madeira local, estruturas metálicas leves e tanques de flutuação reciclados, priorizando a resistência às fortes condições invernais.
Durante os processos participativos, trabalhou-se na definição dos materiais, dos espaços necessários e das técnicas a serem empregadas, incorporando o conhecimento empírico da comunidade sobre as dinâmicas do rio e as necessidades essenciais do habitat flutuante. Esse envolvimento assegurou que a proposta final permanecesse alinhada à identidade cultural local e atendesse a demandas específicas, como pesca, reciclagem e acessibilidade universal para uma pessoa com deficiência.


A infraestrutura inclui sete acessos móveis, cento e cinquenta metros de trilhas inundáveis e uma plataforma pública que articula o habitat, o comércio e os espaços de encontro comunitário. Além disso, os sete sistemas de banheiros secos e de filtragem doméstica evitam, anualmente, o despejo de aproximadamente 350 m3 de águas residuais no rio, reduzindo a carga contaminante e contribuindo para a melhoria da saúde ambiental do entorno.

As estratégias urbanas abrangem a restauração de 750 m2 da margem, reflorestada com espécies nativas como Pechiche e Matapalo, capazes de suportar até três meses de inundação e de contribuir para o controle da erosão do terreno. Essas ações promovem a recuperação da vegetação nativa, a estabilização dos taludes e, consequentemente, a regeneração do ecossistema ribeirinho. Paralelamente, o modelo de gestão assegura que a propriedade e o uso dos espaços permaneçam nas mãos das famílias, enquanto o município fornece apoio técnico para a manutenção das infraestruturas comuns.


O bairro flutuante das balsas explora soluções sustentáveis para a recuperação de comunidades ribeirinhas, valorizando as técnicas construtivas tradicionais, a mão de obra local, o trabalho cooperativo entre entidades internacionais e o consenso coletivo nos processos de decisão. Dessa forma, abre caminho para a formulação de políticas públicas que reconheçam o habitat flutuante como extensão do espaço público e como parte essencial da memória da cidade.







































