

Descrição enviada pela equipe de projeto. A Casa CM está localizada em um condomínio fechado em Buenos Aires, sobre um dos últimos lotes disponíveis dentro de um ambiente de normas estritas e profundamente tradicional. Entre suas condicionantes, a norma exigia que todos os telhados fossem inclinados, um requisito que, a princípio, remetia a uma imagem convencional e repetitiva.

No entanto, esse limite se transformou na oportunidade de explorar como fazer arquitetura a partir da tradição, mas com um toque de contemporaneidade, reinterpretando as regras e projetando uma habitação diferente.

A proposta se materializa em três volumes de tijolo, cada um concebido como um bloco monomaterial em que envoltória, telhado e paredes se integram sob uma mesma lógica construtiva. Esses três corpos organizam o programa e, ao se disporem de maneira precisa no lote, estabelecem uma relação direta e equilibrada com o entorno.

A imagem inicial é quase arquetípica: três casas com telhados inclinados, simples e essenciais, como se tivessem sido desenhadas por uma criança. Essa simplicidade constitui um manifesto de clareza e síntese.

No entanto, a busca contemporânea aparece na maneira de vincular esses volumes. Para romper com a inércia do estabelecido, um dos blocos se cruza em posição transversal, apoiando-se sobre os outros dois. O gesto não é caprichoso nem gratuito: seu objetivo é gerar uma espacialidade mais ampla, aberta e sem limites entre interior e exterior.


Ao elevar um volume, libera-se um espaço público no térreo que se conecta diretamente com a paisagem. A floresta adjacente se torna a verdadeira protagonista, emoldurada pela arquitetura e ao mesmo tempo protegida dos olhares vizinhos. O resultado é um ambiente que parece flutuar, onde o peso do tijolo perde sua gravidade e se transforma em uma estrutura leve e permeável.

O projeto se reconhece assim em duas escalas de simplicidade. Em escala macro, a imagem de três volumes puros que cumprem com a norma e dialogam com a tradição, mas reinterpretados de uma maneira singular. Em escala micro, a decisão de resolver toda a envoltória com um único material potencializa a coerência e reforça a ideia de atemporalidade.

O tijolo, com sua textura, cor e durabilidade, se torna o fio condutor da obra, capaz de atravessar gerações com mínimo de manutenção, inscrevendo-se em uma lógica de sustentabilidade material.

A sustentabilidade do projeto também é abordada a partir da estratégia ambiental. As ventilações cruzadas naturais garantem um bom comportamento passivo da habitação, favorecendo a circulação do ar sem depender de sistemas mecânicos.

A iluminação natural é trabalhada cuidadosamente, evitando ofuscamentos e ganhos térmicos excessivos graças à incorporação de brises, filtros e beirais que regulam a incidência solar. Dessa forma, promove-se um conforto térmico e lumínico eficiente, ao mesmo tempo em que se reduz o consumo energético.



A atemporalidade do tijolo é complementada por essa lógica de eficiência passiva, fazendo com que a casa seja sustentável tanto em sua concepção material quanto em seu uso cotidiano. A envoltória robusta e de baixa manutenção não apenas resolve o aspecto construtivo, mas também constrói identidade e pertencimento na paisagem do bairro.

A Casa CM é um exercício de reinterpretação. Parte de uma norma rígida e de uma linguagem tradicional para dar origem a uma arquitetura que, sem renunciar ao familiar, propõe uma inflexão em direção à contemporaneidade. Essa transformação não se restringe à aparência, mas se manifesta na própria experiência de habitar: espaços amplos, fluidos e abertos ao exterior, que emolduram a paisagem e privilegiam a convivência em harmonia com a floresta.



























