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Arquitetos: DL Atelier
- Área: 200 m²
- Ano: 2025
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Fotografias:Yumeng Zhu

Descrição enviada pela equipe de projeto. No início de 2023, a LUXELAKES planejou lançar um novo projeto em Wuhan, China. Após colaborar em diversos empreendimentos — como o Museu Infantil Dotsss, Edenland, CPI em Chengdu, além do Distrito Comercial The CAPE e do planejamento da rua histórica Qilou em Hainan — nossas equipes já se conheciam bem e trabalhavam de forma harmoniosa. Essa sinergia nos levou a colaborar novamente, desta vez no projeto de um restaurante integrado a um parque infantil. Durante a fase de planejamento preliminar, o restaurante recebeu o nome “A Cabana Valente”, por estar cercado por equipamentos de escalada recreativos e desafiadores. A intenção era que a construção simbolizasse a coragem das crianças em superar dificuldades. Com uma área interna inferior a 200 metros quadrados, o volume é compacto, mas nosso objetivo foi criar amplos espaços semiabertos, oferecendo sombra e conforto aos visitantes. Além disso, sua posição de destaque na entrada da ilha garante visibilidade a longa distância, atraindo naturalmente o olhar de quem chega ao local.


Naquela época, eu costumava ler os poemas de Jiang Jie, poeta da Dinastia Song do Sul, e sentia-me especialmente atraído por suas expressões diretas e, ao mesmo tempo, vívidas. Havia nelas uma leveza indescritível e um encanto singular. Ao trabalhar neste projeto, acabei sendo influenciado, de alguma forma, por essa franqueza expressiva. Sem pensar demais, eu apenas quis criar uma montanha — uma pequena montanha dançante.



Como pode uma montanha ser feita para dançar? Lembrei-me de duas pinturas: "A Dança", de Henri Matisse, criada quando ele tinha 40 anos, e "Mil Li de Rios e Montanhas Verdes", de Wang Ximeng, pintada quando o artista tinha apenas 18. Busquei capturar a vitalidade e o espírito juvenil presentes nessas obras — seja por meio de uma imitação formal ou de uma compreensão intuitiva de sua essência — e, por fim, traduzi-los em espaço arquitetônico. A partir daí, integramos ao projeto considerações sobre o layout do terreno, as exigências funcionais, a escala, os métodos construtivos e os materiais. Mais importante ainda, ajustamos a relação entre símbolos visuais e percepção física, o que acabou conduzindo à concretização do conceito arquitetônico — ou melhor, de dois conceitos.


O primeiro conceito previa o uso de painéis de cobre oxidado, enquanto o segundo adotava ripas de madeira maciça. No entanto, o design inicial envolvia extensas superfícies de dupla curvatura, o que tornava a construção excessivamente onerosa. Por esse motivo, optou-se pelo segundo projeto, que empregava apenas superfícies planas. Como uma das primeiras edificações independentes a ser inaugurada na LuxeIsland, esta obra funciona também como uma vitrine do conjunto. Seu volume se curva suavemente e se estende ao longo da linha costeira da ilha, enquanto a altura foi concebida de modo a manter a presença visual mesmo a partir da margem oposta do rio, através das frestas entre a folhagem. À medida que os visitantes atravessam o gramado aberto e serpenteiam pela floresta, aproximando-se gradualmente da construção, a “pequena montanha” surge de forma marcante, convidando-os a explorar o espaço.


Enquanto os visitantes sobem por uma encosta gramada, a estrutura se revela subitamente diante deles — grandes volumes de madeira que parecem flutuar acima do solo, com pirâmides triangulares que se conectam, balançam e dançam. As crianças se entusiasmam diante dessa forma monumental, correndo em direção ao telhado em balanço que se projeta por mais de dez metros. O volume, que evoca a imagem de uma espaçonave prestes a decolar, eleva novamente o ânimo e a experiência sensorial dos visitantes. Os pais que acompanham as crianças desfrutam de um momento de descanso, conversando sob os amplos beirais que se estendem como os galhos de uma árvore gigante. Com os filhos correndo e brincando à frente, eles os chamam de vez em quando para fazer uma pausa e tomar algo. Por trás do vidro totalmente transparente, o restaurante e o bar fervilham de atividade.


Para que o telhado em camadas, semelhante a uma montanha, parecesse emergir do solo, a estrutura principal é sustentada por quatro agrupamentos de pilares de aço. Esses pilares são revestidos com painéis de pedra preta, cujas extensões formam elementos funcionais, como assentos ao ar livre, balcões de retirada e estações de lavagem. O telhado utiliza uma estrutura espacial metálica para permitir grandes vãos e balanços. Todo o seu exterior é revestido por ripas de madeira maciça, intercaladas por aberturas triangulares que abrigam tanto a iluminação interna quanto a ventilação do sistema de climatização. Os equipamentos de maior porte — como os sistemas de cozinha e climatização — estão completamente ocultos dentro da estrutura do telhado.


Durante a fase de projeto, inicialmente imaginamos a estrutura do telhado como um terraço acessível, capaz de ampliar a área de assentos e enriquecer as experiências espaciais. Esse conceito, porém, acabou sendo abandonado por razões operacionais. Ainda assim, a forma do telhado foi mantida, pois a funcionalidade de um espaço não se define apenas pela acessibilidade física. A experiência visual e a hierarquia espacial do conjunto também compõem, de maneira essencial, o seu valor funcional.


Nós, humanos, somos inerentemente incompletos, dependemos de ferramentas externas para ampliar nossas capacidades. Precisamos de sapatos para correr, de talheres para comer, de carros para viajar mais rápido e de computadores para expandir nosso pensamento — essas extensões, aparentemente funcionais, nos ajudam a nos tornar verdadeiramente “humanos”. Da mesma forma, nossas mentes não são autossuficientes: necessitamos de nobreza, humildade, dignidade e coragem — qualidades que também encontram apoio em elementos externos, como a música e a arte. Assim, a arquitetura cumpre o mesmo papel: o de nos ajudar a nos tornarmos mais inteiros como seres humanos.


Para mim, o foco deste projeto se inclina mais para o segundo aspecto e é guiado pela “intuição somática” das pessoas. Ao primeiro olhar, a forma da “pequena montanha” desperta, de maneira instintiva, memórias e emoções profundas — evocando um senso de natureza e uma inocência quase infantil. À medida que nos aproximamos do volume, sua presença marcante, sua postura dinâmica e sua forma incomum envolvem nossos sentidos, conduzindo-nos a um estado de excitação e movimento. Nesse estado, os vazios interiores da psique humana parecem se expandir — as crianças tornam-se mais corajosas, correndo em direção às estruturas para explorar, experimentar e se desafiar por meio do brincar. E talvez seja justamente aí que resida o verdadeiro significado da "Cabana Valente".






























