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Arquitetos: L-ARA Arquitetura
- Área: 20 m²
- Ano: 2025
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Fotografias:André Miguel Coronha

Descrição enviada pela equipe de projeto. Durante a 9ª Semana Criativa de Tiradentes, a instalação "Esfera Local" integrou a experiência oferecida aos visitantes no Hotel BOWI, em Tiradentes (MG). A intervenção nasce do diálogo entre arquitetura, arte e território, e reforça uma das principais bandeiras do evento: a sustentabilidade como prática sensível e necessária.

A proposta se materializa em uma caixa suspensa — uma estrutura metálica leve, envolta por réguas de madeira — que abriga uma esfera de capim dourado e um espelho d'água. O conjunto propõe um gesto mínimo, mas profundamente simbólico: uma construção etérea que guarda a densidade da paisagem e traduz, em sua forma, a tensão entre permanência e transformação.

O ponto de partida foi a urgência em discutir as queimadas que assolaram o território, em especial o incêndio ocorrido na Serra de São José em outubro de 2025, que consumiu cerca de 20% de sua vegetação. A esfera, feita de capim seco, foi posicionada no centro da caixa, bloqueando a vista direta para a serra — um aceno intencional, que bloqueia o olhar e propõe uma pausa diante da destruição.

O capim, matéria frágil e inflamável, representa a vegetação que alimentou o fogo; o espelho d'água, em contraponto, reflete os paredões queimados e simboliza tanto a água que apaga quanto a ausência dela nos períodos de seca. Entre natureza e artifício, tradição e contemporaneidade, a instalação convida a refletir sobre a ocupação e o pertencimento, sobre o modo como a arquitetura pode atuar como linguagem crítica e poética.

O ato de reunir capins é um convite a costurar memória: o fazer manual, o trabalho artesanal, a sabedoria transmitida pelas mãos. Cada fragmento vegetal carrega em si a passagem do tempo, a cadência das estações e a vitalidade do território.

A água, em repouso, devolve a imagem em silêncio — reflete a esfera, reflete a serra, reflete quem observa. Entre o cheio e o vazio, entre a secura e a fluidez, revela-se um chamado à contemplação e à proteção. No encontro entre o natural e o construído, a "Esfera Local" manifesta o que pulsa no coração de Tiradentes: a potência do que é simples, a poesia do que é efêmero e a força do que é coletivo. A esfera permanecerá no espaço até que o capim se desintegre e retorne à terra, completando o ciclo da matéria e reafirmando o vínculo entre gesto, tempo e território.














