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Arquitetos: Akb Architects
- Área: 467 m²
- Ano: 2024
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Fotografias:Shai Gil

Descrição enviada pela equipe de projeto. Localizado em uma ilha próxima à margem, este chalé familiar para todas as estações foi projetado como um refúgio privado — protegido dos olhares externos, mas em forte conexão com a beleza bruta da paisagem de Muskoka, Ontário. Um píer e uma casa de barcos já existentes — projetados pelo mesmo escritório de arquitetura e amplamente divulgados — atraem constantemente barcos curiosos que se aproximam demais da costa. Essa atenção indesejada tornou a privacidade um dos principais pontos do projeto do chalé.

Recolhimento aberto
Inspirado na imagem simples e familiar dos píeres flutuantes dos lagos de Muskoka, o chalé é concebido como uma série de planos: alguns verticais, formando paredes e guarda-corpos que se sobrepõem, e outros horizontais, elevados para criar uma cobertura contínua que parece flutuar sobre as fachadas recuadas. Esse jogo entre planos oferece privacidade visual sem comprometer as vistas para o lago, adotando uma abordagem essencial na forma e na materialidade. O projeto acompanha a inclinação natural do terreno, fazendo com que o nível inferior se desdobre em um espaço amplo e multifuncional que se abre para um pátio de pedra. Moldado por duas paredes verticais que se estendem e se transformam em guarda-corpos do deck superior, esse ambiente externo cria uma atmosfera íntima e acolhedora para encontros à beira d’água.

O pavimento principal se sobrepõe ao nível inferior e é protegido por uma extensa cobertura em balanço. Da margem, apenas vislumbres do perfil do telhado são perceptíveis durante o dia, enquanto o revestimento preto faz com que a estrutura se dissolva nas sombras da paisagem arborizada. A folhagem densa das árvores oculta parcialmente o interior através das fachadas envidraçadas, garantindo que a arquitetura mantenha uma presença sutil — mesmo quando iluminada à noite.

Um refúgio acolhedor e convidativo
Em vez de um retiro monumental, os proprietários imaginaram um espaço acolhedor e íntimo, igualmente adequado a grandes encontros familiares e momentos de solidão. O resultado é um diálogo fluido entre interior e exterior, em que a arquitetura cria simultaneamente abrigo e abertura. A cobertura em balanço se projeta até 5 metros além da estrutura principal, protegendo 283 m² de decks ao redor de três lados da casa. Essa área externa coberta dobra a metragem do espaço interno, que inclui uma cozinha integrada à sala de estar e de jantar, um corredor alto que conduz a quatro quartos, um banheiro principal, um pequeno escritório e um lavabo compartilhado.


Portas de vidro deslizantes do piso ao teto nas áreas comuns eliminam a fronteira entre dentro e fora, estendendo o espaço de convivência para a natureza. Esses “cômodos sem paredes” proporcionam uma imersão completa entre as árvores, enquanto os grandes beirais protegem do sol e da chuva. O chalé pode expandir-se ou recolher-se conforme a necessidade, bastando abrir ou fechar suas divisórias de vidro voltadas para o lago. A altura e o material do teto interno se prolongam para o beiral externo, criando uma sensação física de continuidade e aconchego.

A relação entre cheios e vazios também define a experiência exterior: aberturas entre planos verticais se alinham às vistas mais amplas e marcantes do deck. Na entrada principal, o alinhamento entre a largura do deck e o balanço do telhado cria uma moldura e uma espécie de passarela que conduz ao primeiro vislumbre do lago a partir de um ponto elevado. Guarda-corpos de vidro reforçam a sensação de conexão com o entorno. Em contraste, paredes sólidas e painéis semitransparentes de madeira são posicionados estrategicamente para ocultar vistas indesejadas e preservar a privacidade.

Desafios e inovações do projeto
Colecionador de arte e apreciador das sutilezas da arquitetura, o proprietário incentivou a experimentação material em busca de uma fisicalidade duradoura. A paleta modesta — madeira, concreto, metal e pedra — ganha sofisticação através do detalhamento preciso, transformando elementos simples em experiências sensoriais.

Nas paredes de compensado, um sistema de encaixe sob medida elimina frestas e fixadores visíveis, criando superfícies contínuas. Os pisos de microcimento, aplicados manualmente, conferem textura e integração à arquitetura. Um corredor central, iluminado por uma claraboia que se estende de parede a parede, evoca um sentido poético de recolhimento e oferece vistas diretas do céu noturno. As maçanetas das portas, discretas, indicam o nível das soleiras, reforçando o caráter de elegância contida da casa.

O layout interno se organiza em torno de uma parede central de granito preto que divide os espaços comuns nos dois pavimentos, estabelecendo uma presença monolítica. Variações sutis na aplicação do rejunte — nivelado nas juntas verticais e rebaixado nas horizontais — acentuam a linearidade e remetem às camadas das formações rochosas naturais. O granito é percebido como massa estrutural real, e não como revestimento superficial, espelhando as rochas do próprio terreno visíveis através das janelas de altura total.


Considerações sustentáveis
O compromisso com a sustentabilidade orientou o projeto desde o início. Bombas de calor geotérmicas suprem todas as necessidades de aquecimento e resfriamento. Para reduzir a pegada de carbono incorporado, os materiais foram majoritariamente obtidos de fornecedores locais. O revestimento externo é feito de pinho-branco canadense escovado, com acabamento preto fornecido na região. As paredes e forros internos utilizam compensado folheado de bordo canadense, enquanto o granito preto da parede central vem da província vizinha de Quebec.

Os beirais profundos oferecem sombreamento natural, reduzindo o ganho de calor solar. As paredes de vidro duplas e operáveis maximizam a eficiência térmica e permitem ventilação cruzada, refrescando o interior de forma natural. A iluminação natural abundante elimina a necessidade de luz artificial durante o dia. Externamente, luminárias de piso e de beiral são usadas com parcimônia, preservando o caráter de “cabana na floresta” e economizando energia. Na cozinha, um sistema modular da marca Vipp — em aço inox e alumínio pintado — foi escolhido pela durabilidade e longevidade.

Desde o início, a equipe de arquitetura minimizou o impacto ambiental ao posicionar o novo chalé na clareira deixada pela construção anterior, preservando o afloramento rochoso e as árvores maduras. A leve inclinação do terreno também permitiu o uso de fachadas de vidro do piso ao teto no nível inferior, com mínima interferência no solo existente.

Este é um chalé de tensões e poesia — simultaneamente expansivo e recolhido, marcante e discreto. Um lugar onde a arquitetura se dissolve na paisagem, promovendo um senso de refúgio e renovação em sintonia com os ritmos da natureza e com os rituais de solitude e convivência.



































