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Arquitetos: Maximilian Hartinger Architekt
- Área: 280 m²
- Ano: 2025
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Fotografias:Simon Burko

Descrição enviada pela equipe de projeto. A conservação do patrimônio forma seu próprio biotopo de histórias — narrativas que carregam uma relevância urgente para os debates e iniciativas arquitetônicas contemporâneas. Esta história específica começou quando uma família abandonou sua antiga casa de fazenda, ao norte de Passau, depois que a avó — a última de muitas gerações a viver ali — se mudou. Infiltrações, apodrecimento e fundações frágeis já haviam causado sérios danos. “Especialistas” consultados declararam o edifício irrecuperável, deixando a família desanimada.



Uma nova esperança surgiu com a paixão de uma nora recém-chegada e o apoio do órgão de preservação do patrimônio. Estudos dendrocronológicos dataram a construção de 1600/1601, uma idade excepcional para a região. Muitos detalhes característicos haviam sobrevivido a séculos de modificações (e destruições), revelando a longa e complexa história da casa. Apesar dos danos, ainda era possível perceber sua generosidade espacial e seu potencial. O andar superior e o sótão jamais haviam sido habitados, servindo apenas como depósito para colheitas e outros bens.


Os maiores desafios vinham de intervenções passadas. Por volta de 1800, parte da estrutura de toras no térreo foi substituída por alvenaria — uma prática comum na época. Sem fundações adequadas, a casa afundou quase meio metro morro abaixo, ficando visivelmente inclinada. Já em meados do século XX, o telhado foi elevado, mas de forma precária e estruturalmente insuficiente. A fragilidade da execução causou novas deformações e danos. Ainda assim, essa intervenção, como parte da história do edifício, foi mantida.



A principal estratégia de projeto consistiu em inserir volumes de tamanho equivalente a cômodos inteiros dentro da estrutura existente de toras. Esses novos elementos tinham funções múltiplas: reforçar a estabilidade da casa, criar uma camada isolante — especialmente na área do telhado elevado — e sustentar cargas que a estrutura original já não podia suportar. Ao mesmo tempo, suas superfícies claras e geometrias precisas melhoraram a iluminação natural do andar superior, antes bastante escuro.


A restauração baseou-se em técnicas e materiais tradicionais, redescobertos por meio de experimentação e do saber artesanal de profissionais especializados em construção histórica. Familiares e amigos participaram ativamente do trabalho manual: preparando argamassas e tintas de barro, aplicando acabamentos de cal e óleo à base de caseína, assentando pisos de cal, forjando peças metálicas e protegendo o ferro com tratamentos de firnis-burn. O granito veio de pedreiras locais, e grande parte da madeira foi extraída da própria floresta da família.

Com o tempo, o antigo e o novo se unirão pela pátina e pelo uso, oferecendo um lar a futuras gerações — até que a questão do reparo volte a se colocar. Espera-se que os demais edifícios do conjunto rural também sejam restaurados e reutilizados com a mesma dedicação.

O projeto se afirma como um protótipo do que a transição na construção exige: coragem e comprometimento podem superar o ceticismo diante de edifícios considerados “irrecuperáveis”. O conhecimento, os materiais e as técnicas ainda existem — e, com empenho, os riscos permanecem controláveis. Projetos desafiadores despertam entusiasmo nos envolvidos e fascínio nos observadores — artesãos, vizinhos, instituições. A condição essencial é que as estruturas existentes sejam protegidas da demolição e que a verdadeira expertise seja parte central do processo. A conservação do patrimônio já demonstrou há muito tempo que essas práticas podem — e devem — tornar-se a norma.




















