

Descrição enviada pela equipe de projeto. Há cerca de cinco anos, o WJ STUDIO iniciou um empreendimento turístico no Condado de Shengsi — um arquipélago remoto no nordeste das Ilhas Zhoushan. Chegar a Shengsi ainda é uma expedição: 2h30 de balsa a partir da Ilha Principal de Zhoushan, 3h de viagem combinada por terra e mar desde Xangai, 4h30 pelas conexões de estrada e balsa de Hangzhou, ou 4h de Ningbo através de balsas mistas para passageiros e veículos. Embora recentemente tenham sido introduzidas rotas de helicóptero e hidroavião, o isolamento geográfico desafia as expectativas de eficiência do viajante contemporâneo. Essa condição de difícil acesso, que limita seu apelo ao turismo de massa, acabou se tornando um ponto central na abordagem de projeto do Lost Villa · Farol de Huanglong.


Shengsi, posicionado como uma zona cênica de nível nacional, busca integrar a cultura marítima às tradições locais, com foco em ecoturismo, lazer e educação científica. A Ilha de Huanglong, situada no núcleo dessa área, revelou-se profundamente marcante já na primeira visita da equipe de projeto.



Entretanto, a ilha enfrenta um problema urgente de despovoamento rural. Muitos jovens se mudaram, levando ao fechamento do jardim de infância e da escola primária. Os pescadores que permanecem são em sua maioria idosos. Huanglong não é exceção: nas últimas três décadas, a rápida urbanização da China transformou drasticamente a estrutura demográfica das áreas rurais. Sem novos investimentos produtivos, os efeitos do envelhecimento populacional e da perda de vitalidade tornaram-se cada vez mais evidentes.


As Três Dimensões do Tempo
Com o avanço dos estudos preliminares, três questões orientaram o projeto: como proteger e valorizar os elementos naturais do oceano, como integrar a arquitetura ao assentamento pesqueiro existente, e como proporcionar uma experiência autêntica da ilha aos visitantes?


A resposta emergiu de uma noção central: o Tempo, interpretado em três dimensões distintas:
Tempo Natural: as formações geológicas e a paisagem moldadas por milhões de anos constituem o genius loci e a base do projeto;
Tempo Histórico: o modo de vida e as práticas comunitárias criaram camadas culturais — desde os povoados primitivos até a cultura pesqueira e agrícola —, que servem como ponto de partida para o desenho;
Tempo Humano: a partir da escala do corpo e da experiência do visitante, a arquitetura se torna capaz de atrair “novos habitantes”, resignificando a percepção da vila pesqueira diante da mobilidade contemporânea.


Forma: uma Tradução Espacial
A estratégia espacial do hotel segue a escala reduzida das construções originais, organizando a implantação de acordo com as diferenças topográficas. As casas tradicionais variam entre 60 e 180 m², feitas principalmente de tijolo amarelo e pedra, materiais de alta resistência. O projeto integra-se ao relevo e ao tecido do vilarejo, implantando o edifício principal entre três recifes protegidos.


A volumetria dialoga com o relevo rochoso de outra forma: fundações isoladas suspendem o edifício sobre os recifes, reduzindo a sensação de peso. O contraste entre o fundo liso da construção e a superfície áspera das pedras cria um espaço cinza marcante, enriquecendo a paisagem.


O conjunto se adapta ao terreno montanhoso, marcado por apenas dois platôs naturais. A área central do hotel divide-se em dois blocos, ligados por uma passarela externa que acompanha a encosta. A circulação explora o ritmo sensorial do “esconder–revelar–abrir”, alternando passagens entre exterior e interior, evocando a experiência da própria travessia pela ilha.



O Bloco A organiza-se em torno de um grande salão rochoso. As pedras naturais foram preservadas em sua base, protegidas por uma cobertura que permite ao visitante perceber suas texturas de perto. O espaço dissolve a fronteira entre “dentro” e “fora”: sob a luz filtrada pelas claraboias, o rochedo revela sua permanência atemporal.

No Bloco B, as unidades de hospedagem inspiram-se na lógica espacial dos povoados locais. Três volumes independentes abrigam os quartos, orientados conforme a trajetória do sol no verão e no inverno. Cada abertura é desenhada para emoldurar paisagens específicas. Aqui, a escala humana volta a guiar a experiência: a luz invade o quarto, a brisa do mar atravessa, o som das ondas preenche o ambiente — e, diante de cada vista emoldurada, o tempo parece suspender-se.


O Lost Villa · Farol de Huanglong vai além de um hotel: é uma reflexão sobre revitalização rural. O projeto entende que renovar não é apagar, mas entrelaçar o tempo e a memória. Ao transformar cenas do cotidiano local em narrativas contemporâneas, empáticas e sustentáveis, a arquitetura converte a crise do despovoamento numa oportunidade de desenvolver um ecoturismo singular, centrado na experiência profunda e no vínculo com o lugar.




























