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Arquitetos: React Architects
- Área: 250 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:Panagiotis Voumvakis
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Fabricantes: Kritikos Wood, Nikos Kallergis, Perfect Pools, SMK GROUP-PAROS

Descrição enviada pela equipe de projeto. E ele traçou linhas entre as pedras e fez brotar o xisto das entranhas da terra; fixou no lugar os amplos degraus ao redor da encosta. Ali, sozinho, construiu | Fontes de mármore branco | Pequenas cúpulas rosadas | E altos pombais vazados | A virtude com seus quatro ângulos retos | E como achava belo estarem nos braços um do outro, a grande água se encheu de amor – “Gênesis”, em The Collected Poems of Odysseus Elytis; publicado pela The John Hopkins University Press, 1997.


A casa de veraneio, com cinco quartos e uma área central de convivência, está localizada em Kakapetra, na Ilha de Paros. Sua orientação para o oeste permite vistas panorâmicas da Baía de Parikia e do mar aberto. O projeto buscou inspiração nos muros de pedra seca e nas formações geológicas locais, integrando-se naturalmente à paisagem como uma estrutura pétrea que se harmoniza com o entorno. O terreno é marcado por aglomerados de rochas e formações geológicas proeminentes; o nome “Kakapetra” remete, etimologicamente, a “pedra bruta” ou lugar caracterizado por uma forte presença de rochas. Devido à natureza pedregosa, o solo era impróprio para cultivo agrícola, e por isso essas áreas eram tradicionalmente usadas para criação de animais, permitindo que o gado fosse contido e mantido afastado das terras cultiváveis.

Nesse contexto, a residência ganha forma e se desenvolve, utilizando as pedras extraídas da própria escavação. Muros transversais voltados para a vista criam passagens, escadas de acesso, eixos visuais longitudinais e espaços de convivência. Esses muros moldam o edifício em relação à paisagem, ao lugar, à pedra. Enquanto os tradicionais muros de contenção, os pezoules, se desenvolvem paralelos à topografia e ao relevo, os muros da residência penetram o solo, emergem dele e, a partir daí, moldam os ambientes de habitação. A entrada principal está localizada na parte leste do terreno, seu ponto mais alto. À medida que os muros atravessam a residência, formam pátios fechados no lado oeste, protegendo os quartos e criando áreas de privacidade.


A laje da cobertura, em concreto aparente, repousa sobre os muros de pedra e abriga a área de convivência. A rocha, a paisagem, invade o interior e depois se volta novamente para a vista e o mar. A ampla pérgola, como extensão da cobertura de concreto armado, funde o espaço interno com o externo, unificando a pedra, a sala de estar, o pátio, a vista e o mar em uma sequência contínua. Os telhados são recobertos com solo para plantio, permitindo que a vegetação local siga seu caminho, descendo pelo terreno e atravessando a construção.

Um jogo espacial, uma sucessão de acontecimentos, compõe uma experiência contemporânea de habitar. O edifício, enquanto objeto material, assume papel secundário diante do movimento, da circulação, dos percursos e dos espaços criados para a presença humana. A residência é uma continuação do terreno natural, afirmando sua presença com a forma mais simples de intervenção: muros de pedra que delimitam a ação humana. Esses muros se espalham pelo lote e convidam o morador a acessar a casa por diferentes pontos, rompendo com os caminhos convencionais das habitações rurais típicas.

A arquitetura adota uma postura modesta e respeitosa: não define claramente os limites do espaço, mas os estende, sem sobrepor-se ao ambiente árido e rochoso. A relação entre o ser humano, a pedra e a natureza é o cerne deste gesto arquitetônico. A marca deixada na paisagem é mínima, celebrando a singularidade do contexto cicládico. O poeta grego e prêmio Nobel Odysseas Elytis, em Gênesis, aborda a criação do mundo — especialmente a paisagem grega. Ele começa afirmando que a gênese é a luz que inunda o arquipélago grego. Ao longo de sua cosmogonia, fala sobre a pedra, fonte de inspiração direta para esta obra. A sacralidade deste lugar, que carrega milênios de civilização, orienta a intervenção arquitetônica, impondo uma abordagem humilde e, ao mesmo tempo, sincera diante da paisagem, por meio de uma interpretação pessoal.





























