
-
Arquitetos: FUSO atelier
- Área: 600 m²
-
Fotografias:Jamet Guedj, Antoine Seguin
-
Fabricantes: Forbo, Franck Bricks, KLH, Roca

Descrição enviada pela equipe de projeto. Goutte d'Or: entre Haussmann e a cidade baixa - Este projeto de 14 unidades habitacionais e 1 unidade comercial está localizado na Rua Myrha, nº 39, no bairro sul de La Goutte d'Or, no 18º arrondissement de Paris - literalmente "Gota de Ouro" – referindo-se historicamente à cor do vinho branco produzido pelas pitorescas videiras antigas de Montmartre. Tradicionalmente marcada pela disponibilidade de meios e pelo uso de materiais locais, a história da edificação na Goutte d'Or revela o empenho contínuo de sua população. Essa evolução seguiu uma lógica dual: de um lado, os marcos imponentes da arquitetura haussmanniana; de outro, os blocos de madeira da cidade baixa, concebidos para abrigar trabalhadores dos canteiros de obras. A proposta da FUSO busca conciliar as virtudes desses dois modelos. Da arquitetura haussmanniana, extrai-se a mutabilidade, a materialidade robusta e a compacidade, que favorecem a eficiência energética, a resiliência e o conforto contemporâneo. Já da cidade baixa, herda-se a honestidade estrutural e o racionalismo construtivo, expressos na rapidez de execução, no uso de materiais locais e em técnicas acessíveis. O projeto atualiza essa herança ao incorporar uma estrutura construtiva clara, materiais de qualidade e fachadas espessas, em resposta aos desafios urbanos contemporâneos.



"Paris para o Clima" - Consciente da realidade climática e da importância do ativismo ambiental, a FUSO considera cada projeto como uma oportunidade para promover efeitos climáticos e ambientais positivos. Para alcançar tais objetivos, o escritório fez parceria com engenheiros da LM, especialistas em construção de madeira e já conhecedores das características da Rua Myrha, selecionados em 2014 para o lote vizinho na Rua Myrha, nº 37, um bloco habitacional social inovador que combina estrutura metálica e de madeira com um enchimento de concreto de cânhamo. Além de um envolvimento comum para alinhar-se aos objetivos de Paris em seu Plano Climático, a equipe de projeto tem trabalhado consistentemente em um conceito ambiental que considera todo o ciclo de vida do edifício, já precedendo os requisitos da RE2020. Essas escolhas técnicas e construtivas analisam as emissões de carbono nas várias etapas, incluindo produção e reutilização de materiais, transporte, implementação, exploração, transformação e, finalmente, desconstrução.


Uma construção em madeira - Devido à estreita largura da Rua Myrha, foi dada atenção especial ao processo e à execução da obra. A estrutura, inteiramente em madeira do térreo ao quinto pavimento, dispensou o uso de guindastes, optando por soluções leves com painéis pré-fabricados. O uso extensivo de madeira torna o edifício mais leve — uma resposta direta às condições frágeis do solo, marcadas por grandes cavidades remanescentes de antigas pedreiras. Uma solução que o concreto não permitiria, pois exigiria fundações muito mais complexas e onerosas. Além disso, a madeira apresenta emissões significativamente menores em sua execução comparada ao concreto. Sua produção é amplamente pré-fabricável e sua montagem pode ser feita a seco, o que contribui para a redução do tempo de obra, dos resíduos e dos impactos ambientais.



Uma fachada ativa - A fachada norte voltada para a rua, do térreo aos andares superiores, é um elemento feito de painéis de madeira cobertos com tijolos reutilizados da Bélgica. Ela segue um padrão regular composto por generosas aberturas voltadas para a vida ao ar livre, revelando sua espessura ativa. A equipe de projeto aperfeiçoou essa largura inovadora, implementando uma camada de ar entre a estrutura de madeira e o revestimento de tijolo. Essa camada de ar atua como um elemento de aquecimento, reciclando o ar fresco capturado do exterior. Aquecido pelo contato com as unidades habitacionais, ele sobe naturalmente e é, então, reinjetado no coração das unidades. Essa espessura não é apenas ecológica, nem econômica. Aprofundar a largura das fachadas cria espaços passíveis de apropriação, ativando áreas voltadas à vida cotidiana: sentar-se junto à janela, aproveitar uma superfície de trabalho banhada de sol, liberar o ambiente com soluções de armazenamento embutidas em madeira, ou isolar-se da rua por meio de persianas manuais que atenuam luz e ruído. Essa espessura ativa torna-se um dos fundamentos do projeto, expressando-se como uma composição arquitetônica voltada ao conforto ambiental e à eficiência energética, sem abrir mão da sobriedade estética.














