
- Área: 565 m²
- Ano: 2024
-
Fotografias:Mikael Olsson
-
Fabricantes: Adamah House, Athena Srl, Autotecnica of Peretto Giuseppe, Bevilacqua Marmi srl, Busato Srl of Cecchetto Davide, Conceria Laba Srl, Dall'Ava, Fiorotto Design, Frigotecnica Sas, Jung.de, Lormet Steel Design, Operae Interiors, Piba Marmi, Quadro Srl, Viabizzuno

Descrição enviada pela equipe de projeto. O Caffè Nazionale, projetado pelo escritório AMAA, abraça a cidade: a restauração deste espaço histórico em Arzignano, no norte da Itália, é um projeto multifacetado que parte de elementos existentes e memórias para criar um palimpsesto vibrante e vivo. O AMAA concebeu o Caffè Nazionale a partir de uma relação direta com a cidade de Arzignano e seus espaços públicos. As marcas históricas, com as quais o projeto estabelece um diálogo criativo e sensível, resultam em uma profundidade estratificada que o estúdio enfatiza por meio de elementos espaciais que funcionam como cenários teatrais. Fundado por Marcello Galiotto e Alessandra Rampazzo, o escritório propôs uma intervenção intensa e colaborativa, envolvendo parcerias com artistas que contribuíram para uma criação aberta e plural.



Através da colunata do Palácio Municipal do século XIX, a dimensão pública da praça se estende naturalmente ao novo Caffè Nazionale. No interior, o salão principal — um mosaico vibrante de fragmentos de memória e dispositivos espaciais originais — oferece vislumbres do ambiente sereno do pátio interno. Esse gesto marca a primeira de várias estratégias projetuais adotadas pelo AMAA na restauração do histórico café. Realizado em uma cidade que já abriga algumas das obras mais significativas do estúdio, o projeto estabelece um eixo ideal que conecta interior e exterior, revelando camadas de memória, momentos urbanos e o diálogo entre materiais antigos e contemporâneos. A sequência de espaços funciona como uma sucessão de palcos cênicos, criando uma conversa visual entre a praça, a colunata e o salão interno. Elementos cenográficos guiam o olhar até o vestíbulo e, por fim, ao jardim interno, concebido como um bosque de bétulas. Esse pátio oferece uma perspectiva ampla que acolhe a paisagem natural ao redor.


A entrada do bar está localizada ao centro da ala com colunata do palácio, projetado por Antonio Caregaro Negrin no final do século XIX. No projeto do AMAA, a porta de entrada é o único elemento opaco voltado para a praça. Feita em ferro brunido com sistema pivotante, apresenta um desenho em forma de losango visível tanto de dentro quanto de fora. A maçaneta, esculpida em mármore verde serpentino do Valmalenco, foi especialmente desenhada pelo artista Nero/Alessandro Neretti. À esquerda da porta de entrada, no canto e início da colunata, localiza-se a cozinha em conceito aberto, completamente visível ao público. Entre o bar e a cozinha, uma escada conduz ao pavimento superior, onde funciona o restaurante.

À direita, chega-se ao salão principal, onde fragmentos de diferentes intervenções históricas coexistem. Esse ambiente é estruturado em torno da ideia de cenografia, intensificando a sensação de passagem já sugerida pela entrada. As marcas do tempo evocam uma profundidade quase ilimitada, ressaltada por uma parede concebida como uma cortina. Essa superfície, feita de chapas de aço inox dobradas e perfuradas, cria um jogo de transparências que permite vislumbrar, de forma quase ilusória, os grandes arcos voltados para o pátio interno. Atrás dessa parede de metal plissado, cartazes temporários do artista Stefan Marx, colados e iluminados, evocam os pôsteres teatrais da Belle Époque e se integram à narrativa fragmentada e teatral do espaço. Um refinado piso em mosaico policromado contrasta com o imponente teto em caixotões de madeira multilaminada, pensado para atender às necessidades acústicas e de iluminação. Atrás da parede perfurada, acessível por uma grande porta pivotante, encontra-se o vestíbulo — um espaço de transição e mediação. Ele estabelece uma conexão inesperada entre o interior do café e o universo quase onírico do jardim de bétulas, ao mesmo tempo físico e metafísico.



O mobiliário do Caffè Nazionale é composto por um sistema integrado de mesas e bancos de madeira, desenhado sob medida pelo AMAA em colaboração com Nero/Alessandro Neretti, com desenvolvimento baseado em protótipos em escala real. No salão principal, os bancos das áreas mais internas são combinados a mesas retangulares maiores, apropriadas para refeições. Já as mesas redondas menores estão dispostas próximas à praça e se estendem para o espaço externo em frente ao bar. O desenho do mobiliário se inspira nos bancos do metrô de Nova York e na obra de Donald Judd. O contraste entre os elementos históricos preservados e as intervenções que redesenham o espaço é evidente em todo o Caffè Nazionale, assim como os trechos deliberadamente inacabados, que parecem refletir a abertura conceitual do projeto. Nesses fragmentos expostos, o tempo da construção parece suspenso.

Um ano e meio de trabalho resultou na criação de uma obra delicada e complexa, por meio da qual o AMAA deu nova vida a uma parte significativa da história de Arzignano. O projeto aborda temas que o escritório vem desenvolvendo em sua pesquisa: um espaço carregado de camadas de significado, tão densas quanto as memórias do próprio lugar. A restauração das superfícies decoradas, reveladas sob divisórias técnicas adicionadas ao longo das décadas, segue a intenção de preservar esses elementos em seu estado honesto — desgastado, por vezes comprometido. O processo de consolidação reconhece a passagem do tempo, enriquecendo os ambientes com uma materialidade crua e imperfeita, que expressa a ideia de inacabado e de contínua transformação de cada elemento. Da mesma forma, as novas divisórias funcionais para áreas técnicas seguem o mesmo princípio: revelar os métodos construtivos e seus componentes, interrompendo o processo no ponto em que cada parte ainda é reconhecível e não simula outra coisa.

O Caffè Nazionale marca um passo importante no desenvolvimento da pesquisa e da experimentação do AMAA no processo de projeto, destacando-se pelo uso inovador das imagens. Essas imagens não são tratadas como um produto final, mas como um meio de documentar o processo construtivo à medida que ele acontece. Nesse sentido, elas se integram ao trabalho contínuo do estúdio com o modelo físico. Trata-se de um desdobramento da pesquisa sobre o tema do inacabado, além do avanço de um processo original que o estúdio vem desenvolvendo em parceria com Virna Rossetto, explorando o papel das imagens nas diferentes fases de um projeto.

























