Câmara Municipal de Baeza / Viar Estudio

Trata-se da restauração, reforma e ampliação da Antiga Prefeitura de Baeza. O conjunto está situado no centro histórico e possui um ar renascentista – atribuído à escola de Vandelvira – e uma escada imperial que deveriam ser conservados. O resto do edifício eram ampliações mal conservadas e de nenhum interesse.

Planta pavimento térreo

O projeto para a Câmara Municipal de Baeza estabeleceu, desde o concurso, uma determinada relação com o edifício histórico. Por isto, a transformação do conjunto foi entendida como parte de uma duração, como contínuo processo de troca, onde a nova atuação surge como substrato do que como um último sedimento do tempo que o edifício construiu. A reflexão sobre a condição temporal da arquitetura foi, desde a primeira abordagem do projeto, fundamental.

© Fernando Alda

A arquitetura (histórica) está carregada de superposições, acumulando muitas ações, o que poderíamos chamar da “durée” da arquitetura. Segundo Henri Bergson a última realidade, não o ser, nem o ser cambiante, mas o contínuo processo de trocas, ao qual denominou “durée”. A arquitetura tem uma maneira de ser no tempo, um dever que perdura, uma troca que é sua própria substância.

© Fernando Alda

O projeto para Baeza se inscreve dentro deste conceito de “durée” da arquitetura. Projeta-se pensando na condição aditiva da situação, na qualidade de troca como substância do projeto e como parte duma forma de ser do edifício no tempo. Não se trata de restaurar e construir uma peça nova. Atua-se construindo um substrato a mais.
As adições, o comportamento no tempo, em definitivo, a vida dos edifícios não é plana e é a memória, nossa memória e mais ainda, a memória coletiva, que ativa diferentes interpretações.

© Fernando Alda

O conceito de Bergson da “durée” é amplo e ligado a ele está também o que poderíamos chamar de estado misto de percepção/recordação, difícil de dissociar. A memória, portanto, faz com que o tempo não seja algo instantâneo e o outorga uma duração. As recordações – ligadas aos processos de trocas sucessivas – da memória relacionam os instantes entre si e intercalam o passado no presente. Este estado misto – percepção/recordação – é o que nos faz ver as coisas como uma continuidade, como um nó de relações. Para ele, quando pensamos, projetamos ou construímos, imprimimos nossa memória – que também é duração – nos objetos e arquitetura o que é, então, uma forma de inscrever o tempo na matéria.

© Fernando Alda

A pegada do homem – material ou especulativa – em cada objeto manipulado nos situa num lugar do tempo, porque ao construir, empilhar, pegar ou derramar, trocamos o tempo geológico, industrial ou poético da matéria e a fazemos humana, nossa, inscrevendo nela nosso tempo vital e conceitual.

© Fernando Alda

Também, desde o concurso foram levantadas outras questões.
Como entender o edifício histórico?
A resposta surgiu lentamente, pensamos o edifício como fragmento, como um elemento introvertido, sem capacidade de gerar/sugerir, de definir uma própria estrutura. Então, a estratégia foi a seguinte: limpar os anexos, aceitar o edifício histórico como “pedaço” interminado e o envolver com novas construções.
O edifício histórico – fragmento – não gera um novo edifício, é a lógica da cidade que o gera e envolve, veste, o fragmento existente, é o crescimento espontâneo da cidade, a estrutura orgânica dos pátios que a abraça.
A cidade, com sua lógica de pátios, luzes, sombras e esquinas, cresce, “como um filho ajudando seu pai cansado”. Uma relação “fraternal”.
Logo, é fundamental o “desenho” dos pátios – como a execução do ataurique pintado em vermelho-ocre sobre fundo branco – dos novos espaços, dos cheios e vazios, criando e recriando novos lugares, interiores ou exteriores. Cores sobre o fundo neutro, branco, pedra, árvores, sombras, água…

Fachada e corte

No conjunto existem três partes:

  • - O existente; o edifício/fragmento histórico, contém a parte representativa e política (plenário, prefeitura, grupos políticos, salas de exposições e conferências);
  • - O novo; abriga escritórios, zonas de uso comum e atendimento ao público (área administrativa, obras e urbanismo, serviços gerais);
  • - O vazio; um novo espaço público, distribuidor e lugar de espera e estar.
Fachada e corte

Se Baeza é uma cidade construída basicamente em pedra, o branco, o barro é pontual. A pedra é monumento, o branco não. O edifício existente é de pedra, o branco é o novo, que valoriza o existente.
O feito da restauração é parte do processo, o importante é a forma de atuação no conjunto, a intenção de construir uma nova capa. A ideia do projeto tem sua origem na leitura da situação do edifício e a resposta surge daí. Por isto a questão da restauração é uma parte além do processo.
A escada do edifício de escritórios é a peça mais importante da nova parte do edifício. É em ideia, uma escada “renascentista/barroca”. O efeito buscado é o de uma sensação próxima a olhar de soslaio e vislumbrar os reticulados. O espaço se ilumina através das claraboias (norte sul) onde a luz penetra sobre duas superfícies douradas, vibrantes. A escada, escura, colocada no vazio, desembarca em níveis banhados pela luz dourada.
Duas fontes marcam o pátio. São lugares para estar, lugares públicos, com árvores, bancos, sombras e o som d’água.

Ficha técnica:

  • Arquitetos:Viar Estudio
  • Ano: 2008
  • Área construída: 3539 m²
  • Endereço: Baeza Jaen Espanha
  • Tipo de projeto: Institucional
  • Operação projetual:Requalificação
  • Status:Construído
  • Materialidade: Pedra e Madeira
  • Estrutura: Pedra e Aço
  • Localização: Baeza, Jaen, Espanha
  • Implantação no terreno: Isolado

Equipe:

  1. Arquitetos: Viar Estudio
  2. Engenharia: ENER ingenieros
  3. Cálculo Estrutural: Minteguia y Bilbao S.L.
  4. Empresa construtora: DRAGADOS S.A.
  5. Financiamento: Consejería de Obras Públicas y Vivienda 100%
  1. Orçamento total: 6.481.437,32 euros
  2. Área exterior: 45 m2 de pátios
  3. Início das obras: 2009
  4. Finalização das obras: 2011

Sobre este escritório
Cita: Victor Delaqua. "Câmara Municipal de Baeza / Viar Estudio" 12 Jun 2012. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-53749/camara-municipal-de-baeza-viar-estudio> ISSN 0719-8906

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