Hotel Ayre / Wortmann Architects + Guillermo Bañares Arquitectos + Carlos Narvaez

“O visível cria um trabalho em forma – o invisível define seu valor”, Lao Tse.

© Stefan Müller

Ser confrontado por um terreno na sombra da “Sagrada Família”, obra chave do mestre catalão Antoni Guadí, é uma oportunidade única na vida de um arquiteto. Nós estávamos perfeitamente cientes que o particular estilo moderno –a ser lido como uma versão catalã do Art Noveau- influenciado pelo surrealismo, os ornamentos coloridos refletindo elementos orgânicos retirados da natureza, assim como a ousada estrutura da catedral, representa para a cidade de Barcelona a mesma atração irresistível do Museu Guggenhein, de Gehry, para Bilbao.

Também sabíamos que não se tratava de apenas revestir o edifício com o “trencadis”, mosaico de azulejos quebrados, como fizeram vários bares e hotéis da cidade, imitando uma técnica típica dos artesãos de Gaudí. Nossa reminiscência tinha que ser mais efetiva como um tributo comprometido com preceitos de sua abordagem arquitetônica, abordagem ainda importante nos dias de hoje. Como devemos fazer isso?

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Achamos a resposta na devoção de Guadí à natureza, como a força mais inspiradora de sua prática arquitetônica. Suas colunas não se retorcem como as árvores? Quem já visitou seu notável edifício residencial “La Pedrera”, na Avenida Paseo de Gracia, sabe que a maioria dos seus espaços públicos é pintada em uma sinfonia de cores que remetem ao verão e ao outono, pintada em folhas de madeira, como telas.

Um dos princípios destacável da Sagrada Família é o complexo sistema de módulos que confere uma ordem clara a todo o edifício e é a razão do porque, depois da morte de Gaudí, outros puderam continuar seu legado, mesmo sem um suporte suficiente dos documentos de projeto. Visionário, o mestre mostrou uma obsessão com os detalhes, o que atualmente resultou na chave para a viabilidade da realização do grandioso edifício.

“Tudo grande na terra sempre começa sendo pequeno.”, Lao Tse.

© Stefan Müller

Seguindo a linha-guia traçada pela nossa poderosa vizinhança, nós definitivamente aceitamos integrar ao nosso projeto a sequencia de Fibonacci, que matematicamente define a proporção na natureza, digamos, entre tronco, galho e ramos durante o crescimento de uma árvore. Como pudemos observar no ritmo de aberturas do pátio central, o processo intelectual de seguir uma ordem abstrata não é necessariamente incompatível com o desejo da forma. A composição viva mostra uma surpreendente probabilidade no interior da catedral.

© Stefan Müller

Como uma forma contemporânea de integrar as animadas cores da natureza, anexamos finas listras de elementos de LED às janelas. Graças a uma coordenação computadorizada dos LEDs, é possível até reproduzir uma espécie de “Gesamtkunstwerk”, combinando som e efeitos de luz, como a “Quatro Staggioni” com uma mudança de cores evocada pelos quatro concertos barrocos. Isso é apenas uma forma contemporânea de alcançar o conceito buscando por Gaudí de uma arte abrangente, seguindo humildemente o caminho pautado pelo mestre.

© Stefan Müller

Conscientes do contexto histórico, agimos como, em nossa opinião, os arquitetos devem agir, de mãos dadas com a modéstia. Nesse sentido, depois de vários meses de estudos e construção de modelos no escritório, finalmente entendemos que a forma mestra e complexidade técnica que tentávamos transferir ao nosso projeto, mediante de um estudo morfológico da fachada do projeto, já antes mencionado, “La Pedrera”, estava fora do nosso alcance.

Não estávamos dispostos a considerar o esforço de adaptar o grid estrutural formal de um hotel na expressividade esmagadora da joia Art Noveau inserida na Paseo de Gracia, representativa, mas com fachadas convencionais, para um mecenas como foi Count Güell, o cliente do projeto. Nem tínhamos o poder arquitetônico de esmagar os críticos de tal esforço, como fez Guadí na sua época. Nesse contexto, é certamente curioso que o celebrado “Pedrera” tenha seguido a gozação do público da cidade, que o descrevia o edifício como uma pedreira.

© Stefan Müller

As dificuldades que encontramos na nossa primeira atitude de projeto nos ajudaram a disciplinar a nossa proposta, adotando os traços regulares das fachadas característicos do padrão do “Eixampel”, construído no plano diretor elaborado pelo engenheiro civil Ildefons Cerdá, em 1860. Apesar de rejeitado pelos novos industrialistas que eram os protagonistas da revolução técnica, devido à sua grade igualitária que não satisfazia a idéia de uma cidade espelho da nova ordem econômica, foi imposto pelo Governo Central Espanhol de Madri à Prefeitura de Barcelona.

Atualmente, o Plano Cerdá é reconhecido como um projeto pioneiro, graças a sua efetividade na resolução das necessidades do trafico atual e por criar áreas residenciais protegidas dentro das quadras. Os habitantes de Barcelona sentem-se confortáveis em morar nas suas ruas racionalmente organizadas e uniformes, e na beleza solida de suas fachadas que se encaixa bem no caráter reservado do povo catalão.

É por isso que gostamos da ideia de integrar o hotel nesse esquema tradicional, aplicando o código local de projeto de um modo mais conservador, respeitando fielmente as proporções e distâncias definidas para as aberturas, mas ainda sentíamos o desejo de expressar que internamente desse corpo burguês, bate o coração vigoroso de um pátio repleto de uma inspiradora sinfonia de cores e sons.

© Stefan Müller

Em um gesto simples, mas efetivo, eliminamos o painel de pedras entre os apartamentos de hospedes adjacentes, preenchendo o vazio com finos painéis de alabastro ligados a placas de vidro laminado, como medidas referenciadas na Sequencia de Fibonacci. Opacos durante o dia, à noite tornam-se translúcidos, seguindo a sequencia dos visitantes iluminando seus quartos. E assim, a fachada transforma-se em uma animada vitrine da atividade do edifício.

É apenas outra vantagem no desafio de criar um projeto na vizinhança de uma das obras mais famosas do mundo, adotando que a seção do nosso edifício na leve inclinação da trama preexiste do terreno, criando uma praça pública no interior da quadra, acessível pelo bar do hotel no térreo. Na contrapartida de financiar um investimento para o espaço público, fomos autorizados a demolir os surrados e negligenciados sobrados ao longo da passagem interna, trazendo sua área de piso para o topo do hotel.

Por essa operação, não somente um terraço na cobertura com vistas deslumbrantes na altura da Sagrada Família poderia ser criado, mas ainda na entrada do shopping do hotel, o visitante fica consciente da poderosa presença do monumento. Queremos acreditar que, neste preciso momento, sensações voláteis são transformadas em uma experiência duradoura, devido a um esforço da localização do edifício, em uma posição significativa para a história e o lugar.

© Stefan Müller

 

Ficha técnica:

  • Arquitetos: Wortmann Architects + Guillermo Bañares Arquitectos + Carlos Narvaez
  • Ano: 2009
  • Área construída: 5208 m²
  • Endereço: Rosellón, 390 Barcelona Espanha
  • Tipo de projeto: Hotéis
  • Status:Construído
  • Localização: Rosellón, 390, Barcelona, Espanha
  • Implantação no terreno: Adossado às 2 divisas

Equipe:

  1. Arquitetos: Wortmann Architects + Guillermo Bañares Arquitectos + Carlos Narváez
  2. Consultores: Juan Almendro Ferrer (HVAC), BOMA (Estrutura), TRAM (gerenciamento executivo), José Luís Vázquez (executivo de projeto), Michela Mezzavila (iluminação), LuchoMarcial + AVA Studio (Design Interior)
  3. Colaboradores: Serenella di Dio, Ava Costa, Laia Capellades
  4. Construtora: Copcisa
  1. Área: 5,208 m2 (acima do nível do solo)

Sobre este escritório
Cita: Marina de Holanda. "Hotel Ayre / Wortmann Architects + Guillermo Bañares Arquitectos + Carlos Narvaez" 02 Abr 2012. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-40948/hotel-ayre-wortmann-architects-mais-guillermo-banares-arquitectos-mais-carlos-narvaez> ISSN 0719-8906

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