Proposta para o Hotel Liesma / ARQX Arquitectos + Carlos Lobão

 

Ao olharmos para o terreno é bastante evidente o impacto do Hotel na rua Dubultu Prospekts, tido como acesso principal. A principal característica deste pedaço de território é a forte presença de árvores, que formam uma densa massa verde; o sistema viário é bastante ortodoxo, com hierarquia simples e clara; entretanto, neste sistema de grelha preenchida com árvores distinguimos edifícios isolados, maioritariamente casas unifamiliares. O ambiente é típico de uma zona balnear, o que pressupões variações quanto à ocupação ao longo do ano.

Tendo a obrigatoriedade de manter a torre existente, elaboramos o projecto baseando-nos em: relação com o local, exposição solar e qualidade espacial. É óbvio que estas três ideias constituem um todo, mas será mais fácil explaná-las individualmente no contexto da presente memória.

© Carlos Lobão + ARQX

Relação com o lugar
O edifício do Hotel, ao comparamos com os seus vizinhos, tem uma presença muito forte na paisagem. A verticalidade, que nasce da massa arbórea, contrasta com os volumes domésticos, mais discretos.

O vazio existente entre a rua e a implantação do hotel (actualmente) parece-nos interessante, estabelecendo uma espécie de percurso com três momentos: rua – vazio – edifício. Isto permite-nos perceber o edifício, a sua disposição formal, à medida que vamos entrando no terreno. Assim, pareceu-nos bastante claro que deveríamos transportar esta lógica formal para a nossa proposta.

Se reflectirmos um pouco acerca do Programa, podemos facilmente separar as zonas dos quartos de hóspedes das áreas públicas e de serviço. Têm necessidades diferentes, em termos de acesso, privacidade, exposição, relações espaciais e escala.

Portanto, a chave para este projecto tornou-se resolver a articulação entre estas volumetrias (mais altas e verticais vs mais baixas e horizontais) e programas (repetição da célula vs espaços amplos contaminados). Se analisarmos com atenção o complexo existente, identificamos alguns destes conceitos (o vazio entre a rua e o edifício, a separação entre a torre com quartos e os volumes mais baixos com áreas comuns, por exemplo). O problema é que falta abordar dois grandes problemas: exposição solar e qualidade espacial.

© Carlos Lobão + ARQX

Exposição Solar
Tendo identificado a problemática relacionada com as relações interior-exterior, e considerando a optimização da exposição solar dos espaços interiores, a proposta privilegia os alçados sul e oeste para áreas comuns (Lobby, Restaurante, Piscina e Sala de Conferências/Banquetes), reservando os alçados Norte e Este para áreas de serviço.

© Carlos Lobão + ARQX

Qualidade Espacial
Considerando a permanência em períodos de tempo pontuais, é fundamental ter uma percepção muito clara das grandes áreas programáticas. Nesse sentido, quer se seja um hóspede que vai permanecer por uns dias ou semanas, quer se use para um evento pontual (como um congresso ou banquete), é importante que se compreenda o espaço, a distribuição e possíveis percursos no edifício. Foi por este motivo que, habitualmente, o Lobby é uma espécie de ponto de concentração espacial, onde tudo acontece.

Implantação

Esta é a ideia fundadora da proposta, na qual este espaço funciona como aglomerador de todos os programas. Tiramos proveito das formas existentes, conciliando a torre vertical e as zonas extensivas e horizontais com as áreas comuns, que procuram o exterior, num vazio com pé-direito duplo. Este vazio permite uma fruição global de um piano, que enfatiza a presença da música um pouco por toda a composição.

Depois, esta ideia da transparência entre interior e exterior foi levada até ao limite, fazendo as circulações directamente a partir do Lobby ou, quando não são possíveis fazer de forma tão directa, elevamo-las para o primeiro andar. Com este esquema, os hóspedes que estão no hotel podem circular e usufruir das estruturas do hotel utilizando o primeiro andar e evitando cruzar/atravessar o Lobby, no seu uso diário. Por outro lado, os utentes mais pontuais podem ver e aperceber-se destes movimentos apesar de estarem circunscritos ao Lobby e à Sala de Conferências e Banquetes.

© Carlos Lobão + ARQX

Qualidade Espacial

A estrutura (existente) de pilares e vigas foi tomada em consideração para definir a linguagem do edifício vertical.  Utilizamo-la para estabelecer uma fachada ritmada, com volumes em planos diferentes, definindo varandas integradas na fachada e nichos interiores para contemplação da paisagem. Apesar de estarmos numa área do globo onde o tempo permite uma utilização do exterior por períodos muito curtos, pareceu-nos claro que os quartos deviam exprimir esta relação em direcção ao exterior (quer visual, quer física). Além dessa experiência que tentamos potenciar, constitui-se também como uma (re)interpretação do alçado existente, dotando-o de uma plasticidade mais complexa e interessante.

Planta tipo apartamentos

Os volumes vertical (quartos) e horizontal (áreas comuns) têm uma concepção distinta: nos quartos, a repetição de uma solução optimizada de ocupação (em termos de layout, disposição do mobiliário, iluminação) que nos permitiu explorar alguns conceitos espaciais em mobiliário integrado; por outro lado, optamos por aglomerar as salas do Restaurante e de Conferências/Banquete num só (com a Cozinha a servir todos os espaços a partir de um nível superior), com paredes verticais amovíveis, constituindo uma solução que oferece um uso muito flexível.

Fachada Leste

A vertente lúdica da área da piscina levou-nos a colocá-la perto da massa arbórea a oeste, rematando a implantação e definindo espaços exteriores (uma pequena esplanada entre o Restaurante e a Piscina, um Parque Infantil e um prolongamento da piscina para o exterior).

Planta 00

A ideia de contemplação no ritmo dos volumes, assim como a permissão de ir para o exterior, sentindo as contingências do clima, ouvindo o som do mar e do vento nas árvores, constituem a experiência-base que nós sentimos que um hóspede deve ter quando ficar no Hotel Liesma.

Planta 01

A presença da temática musical está aqui presente, portanto, de uma forma muito metafórica, evitando uma decoração mimética ou uma apropriação espacial de objectos/elementos relacionados com música. Tentamos não mostrar só objectos musicais, mas compôr como um músico, fluir na natureza e no espaço, contemplando e sentindo.

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Cita: Jorge Alves. "Proposta para o Hotel Liesma / ARQX Arquitectos + Carlos Lobão" 21 Set 2012. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-71891/proposta-para-o-hotel-liesma-arqx-arquitectos-mais-carlos-lobao> ISSN 0719-8906

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