No início deste ano, uma quarta pessoa tragicamente tirou sua vida pulando da borda do The Vessel, uma estrutura monumental, ícone do turismo para o desenvolvimento do Hudson Yards, em Nova York. Muitos pediram que a escultura de 16 andares fosse imediatamente derrubada, já outros exigiram que mais barreiras de segurança fossem instaladas, mesmo que isso significasse bloquear algumas das vistas e pontos de interesse. Por enquanto, The Vessel está fechado até que as autoridades decidam o que fazer. Infelizmente, tornou-se uma atração vagamente associada à morte, especialmente porque permanece silenciosa enquanto a agitação de Hudson Yards permanece.
Pulando para a costa oeste dos Estados Unidos, o altamente debatido Munger Hall recentemente viu seu arquiteto abandonar voluntariamente o projeto sob alegações de que era um “experimento social e psicológico com consequências desconhecidas”. A visão do projeto veio de Charles Munger, que doou 200 milhões de dólares para o dormitório universitário. O problema em questão é que muitos dos dormitórios do edifício perdem o acesso à iluminação e ventilação natural em troca de espaços de colaboração e amenidades localizadas centralmente. Alguns o saudaram como uma abordagem inovadora para o planejamento do espaço, enquanto outros afirmaram que ele ignora completamente a saúde, a segurança e o bem-estar de seus ocupantes. O edifício, que abrigará 4.500 alunos, possui duas entradas principais e uma circulação única em cada pavimento, que se ramifica em áreas menores denominadas “casas”. A construção se qualificará como o oitavo bairro mais denso do mundo, ficando um pouco abaixo de Dhaka, Bangladesh. Enquanto os planos para construir a mega-residência estudantil estão avançando, muitos estão questionando seu projeto e perguntando se os alunos deveriam ser submetidos a este tipo de vida experimental.
Embora o debate sobre o que fazer com o The Vessel seja interminável e frequentemente o assunto central para muitos críticos de arquitetura, e o projeto do Munger Hall permaneça em debate mesmo após os alunos ocuparem seus dormitórios, a questão mais profunda está na estética versus ética. Em que medida os arquitetos podem ser totalmente responsabilizados quando ocorrem tragédias ou acidentes nos espaços públicos que projetamos. Será que o ego está perdido ao nos preocuparmos apenas com a aparência de algo e sua função, sendo que o perigo pode ser mascarado por um projeto bem articulado?
If this report is true, this design is a grotesque, sick joke — a jail masquerading as a dormitory. No, design isn’t up to billionaire donors. How far UCSB has fallen since the days when it had architects like Charles Moore. https://t.co/ERFIzAz5jZ
— Paul Goldberger (@paulgoldberger) October 29, 2021
No caso do The Vessel, um relatório de 2015 da Inglaterra, que indica como prevenir suicídios em locais públicos, sugeriu uma variedade de táticas que poderiam ser implementadas — incluindo o uso de altas barreiras públicas. O relatório propôs o aumento da vigilância dos funcionários e da gravação CCTV, que poderia ser usada para estudar questões de segurança em tempo real. Outro item sugeriu que o fechamento de parte do local poderia salvar inúmeras vidas. É realmente necessário ir para o topo do The Vessel, quando a vista de apenas dois pavimentos abaixo não é significativamente diferente? Ou é mesmo necessário subir quando qualquer edifício ao redor de Hudson Yards oferece vistas mais altas e vastas?
Estas são questões que precisamos refletir, especialmente porque tendemos a considerar que, desde que um projeto siga o código de construção local, ele pode ser considerado "seguro". Enquanto alguns arquitetos gostam de projetar edifícios altos e outros espaços extravagantes, devemos também trabalhar para garantir que eles não criem perigos potenciais de uma forma que não estigmatize o local. Proteger a saúde e a segurança não significa necessariamente sacrificar a experiência do projeto.
