Uma boa fotografia ou um bom projeto?

Ao falar do ser humano, falamos simultaneamente de um objeto e um sujeito. Em outras palavras, um corpo (que permite a existência dos sentidos) e uma alma (que os interpreta).

Em Os Olhos da Pele, Juhani Pallasmaa reflete -- a partir do ponto de vista da arquitetura -- sobre alguns destes conceitos. Nos dias de hoje, tem-se dado maior importância à visão que aos demais sentidos, suprimindo-os e, assim, ocasionando o desaparecimento de algumas qualidades sensoriais e sensuais presentes na arquitetura do passado. 

Temos que lidar com a exclusão do tato, olfato, paladar e audição na prática arquitetônica atual. Todos estes são parte de nossa experiência existencial, e cada um desempenha um papel importante em nossa construção da realidade que nos rodeia e de nosso próprio ser-no-mundo. Evidentemente, não recebemos estímulos aos nossos sentidos de maneira isolada, mas eles se fundem para proporcionar uma experiência interativa, simultânea e completa. Uma cor, por exemplo, captada pelos olhos, pode evocar um sabor, assim como observar uma textura pode provocar uma sensação na pele. Esse tipo de gestos intencionados são os que marcavam a arquitetura do passado, elevando-a ao nível da arte. 

The Barbican Estate / Chamberlin, Powell and Bon Architects. Image © ArchDaily

Quando começou a proliferar a fotografia arquitetônica, surgiu também um novo observador: o observador incorpóreo. A visão já não é apenas o sentido inconscientemente preferido pelo usuário para interpretar o mundo, mas se converteu no único sentido disponível. Esta espécie de democratização da arquitetura, ainda que aparentemente inofensiva, acaba sendo um grande perigo ao buscar provocar um impacto instantâneo em seus consumidores. Enquanto arquitetos, estamos projetando imagens em vez de experiências, criando espectadores em vez de habitantes. 

O mundo é habitado de maneira diferente daquela mostrada nos vídeos e fotografias, e a arquitetura significativa é, então, aquela que nos oferece a oportunidade de experienciar o espaço como seres completos (corporais e espirituais), e nos possibilita trabalhar sobre nós mesmos, sobre nossas interpretações de nós mesmos, e sobre o que significa para nós o mundo exterior. 

Vitra Fire Station / Zaha Hadid. Image © ArchDaily

Uma arquitetura nobre funciona como o meio através do qual os seres humanos nos reconciliamos com o avassalador espaço eterno e tempo infinito. Permite-nos escalar estes conceitos, trazendo a eles medidas humanas. Então, o que acontece quando ela se converte em um meio auto-expressivo, um jogo intelectual? Propagar uma arquitetura inerentemente visual e carente de conexões individuais ou sociais transforma o mundo que habitamos em uma caricatura bidimensional e sem significado verdadeiro.

É a partir destes conceitos que decidimos fazer um exercício tomando fotografias de algumas obras clássicas de arquitetura e perguntando a vocês, nossos leitores, o que enxergam aqui. Uma boa fotografia ou um bom projeto?

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Sobre este autor
Cita: Zatarain, Karina. "Uma boa fotografia ou um bom projeto?" [Decide: ¿la foto o el proyecto? ] 31 Mar 2017. ArchDaily Brasil. (Trad. Baratto, Romullo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/868061/uma-boa-fotografia-ou-um-bom-projeto> ISSN 0719-8906

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