Há muitas coisas que definem o mais recente projeto do escritório dinamarquês BIG, o Amager Bakke. A usina, cuja construção começou nos últimos dias, será a mais limpa energeticamente no mundo, além do mais alto e maior edifício em Copenhague. Abrigará a primeira pista de esqui da Dinamarca, na cobertura do edifício. Suas emissões de CO2 não serão emitidas em um fluxo contínuo, mas em anéis de fumaça espaçados.
Entretanto, o projeto da usina de lixo ultrapassa estas características marcantes. Como um "destino urbano em si" e um marco no projeto sustentável, é uma das representações mais radicais da arquitetura como meio de engajamento público do nosso tempo. E, além do mais, é um sinal de que BIG finalmente atingiu a maturidade, realmente surgindo como um grande escritório.
Leia mais sobre o notável projeto Amager Bakke, após o intervalo...
O início da ideia que se tornaria o Amager Bakke surgiu, na verdade, mais de uma década atrás, cerca de três anos antes do escritório, que ainda atendia pelo nome de PLOT, decidir pelo nome que usa hoje. A jovem empresa dedicou-se a firmar seu nome no mercado, na esperança de que suas ideias engenhosas e bizarras cativassem a imaginação do público e pudessem tornar-se realidade. Decidiram, então, participar de um concurso, apesar de não terem sido qualificados para tal, para um projeto urbano de uma cidade na Dinamarca.
O que propuseram foi inserir um espaço público urbano na área mais densa de Copenhague - onde a terra é mais limitada e a demanda evidente. Mas como? Inserindo-o no topo da maior loja de departamentos da cidade, formando uma paisagem feita pelo homem com uma vista incrível. O povo dinamarquês possui uma paixão grande pelo esqui, mas são atormentados pelas grandes planícies do país. No inverno, este espaço poderia ainda ser utilizado como pista de esqui.
Embora vencendo a competição em 2002, o projeto, não surpreendentemente, nunca chegou a ser realizado. No entanto, o esforço foi uma lição importante para Ingels, que iria carregar a experiência.
Dez anos depois, o escritório foi contratado pelos 10 municípios da região metropolitana de Copenhague para apresentar uma visão para a cidade no ano de 2050. Eles criaram um plano bi-nacional, que iria ligar a Dinamarca à Suécia através de uma ponte de cerca de 4 quilômetros, formando um laço metropolitano de 170 km, ligados não apenas pelo transporte público contínuo (na verdade, segundo o plano, nenhuma área seria mais longe do que 40 minutos através de transportes públicos), mas também sob um sistema de gestão comum da água e resíduos sólidos.
O primeiro projeto no âmbito deste plano é o próprio Amager Bakke, a usina que transforma o lixo em energia elétrica, que irá substituir as instalações existentes de Copenhague e fornecer aquecimento a 97% das casas e eletricidade a cerca de 4.000 pessoas. Funcionará como um ecossistema artificial, explorando os recursos naturais (filtros de luz natural através da fachada de floreiras, captação de água pluvial, etc), transformando os resíduos da cidade em energia.
No entanto, BIG queria que o projeto fosse mais do que uma exibição de tecnologia na transformação de resíduos em energia. A fábrica, localizada no meio da cidade, ao lado da marina, possui localização privilegiada, tornando-a como um destino para o público em geral. Então, como esta "montanha de lixo" poderia ser usada como um espaço público? Mais uma vez, a ideia de pistas de esqui, uma topografia que captura a imaginação do dinamarquês, parecia uma resposta lógica.
Mas o escritório levou essa lógica um pouco mais longe, tornando a usina não apenas como destino, mas para incentivar a participação do público, um meio de comunicação para estimular o envolvimento dos cidadãos. Apesar do fato de que Amager Bakke será a usina de resíduos em energia mais limpa do mundo, a empresa queria comunicar aos cidadãos que, ainda assim, o edifício ainda libera muito dióxido de carbono no ar.
Então, estes anéis de fumaça não são apenas uma jogada de marketing inteligente, mas uma maneira de expressar a poluição que pode ser facilmente conceituada e compreendida pelo público (5 anéis de fumaça compreendem a uma tonelada de CO2). Como comenta Bjarke Ingels em sua palestra para a Going Viral: "Um dos principais fatores de mudança comportamental é o conhecimento. Se as pessoas não sabem, não podem agir".
Esta é a questão: o escritório BIG aprendeu a usar sua mais bizarra ingenuidade para seu próprio bem. Aprendeu a aplicar suas táticas de manifesto para encorajar a participação pública e dar efeito a essa participação. O Amager Bakke é puramente o escritório BIG, mais adulto, crescido. Este é o início do BIG 2.0.
Créditos da equipe para o projeto Amager Bakke.
Colaboradores: Realities United (Fachada Interativa), AKT (Fachada e Engenharia Estrutural), Topotek/Man Made Land (Paisagismo), Glessner Group
Parceiros Encarregados: Bjarke Ingels, David Zahle
Líder de Projeto: Claus Hermansen
Equipe: Brian Yang, Jakob Ohm Laursen, Mads Enggaard Stidsen, Jesper Boye Andersen, Nanna Gyldholm Møller, Espen Vik, Narisara Ladawal Schröder, Ryohei Koike, Anders Hjortnæs, Henrick Poulsen, Annette Jensen, Jeppe Ecklon, Kamilla Heskje, Frank Fdida, Alberto Cumerlato, Gonzalo Castro, Chris Zhongtian Yuan, Aleksander Wadas, Liang Wang, Alexander Ejsing, Chris Falla, Mathias Bank, Katarzyna Siedlecka, Jelena Vucic, Alina Tamosiunaite, Armor Gutierrez, Maciej Zawadzki, Jakob Lange, Andreas Klok Pedersen, Daniel Selensky, Gül Ertekin, Xing Xiong, Sunming Lee, Long Zuo, Ji-young Yoon, Blake Smith , Buster Christensen