Cinema e Arquitetura: "O Quinto Elemento"

Existem inúmeros exemplos de como pode ser a cidade do futuro, desde cidades em ruínas até megalópolis que se expandem ao longo de todo o continente e cuja extensão se perde no horizonte. Especialmente este tipo de cidade distópica, é difícil imaginar e representar devido a sua extensão descomunal, percorrendo pontos identificáveis, desde a topografia que a dê noção de escala, um ponto de comparação claro ao espectador. A cidade vista em "The Fifth Element” rompe totalmente com o paradigma clássico da megalópolis horizontal e nos apresenta uma cidade cujo desenvolvimento resulta vertical.

A explicação a tal crescimento encontramos nas 'entrelinhas' dentro da trama do filme, e por parte do grande trabalho criativo que o diretor necessitou para dar coerência ao universo da película, trabalhando durante longos anos com os mestres das histórias em quadrinhos francês Jean Claude Mezieres e Jean Giraud “Moebius”.

Nova York se converteu na capital do mundo, que superpovoada conquistou todos os cantos do planeta, excedendo sua capacidade horizontal para expandir-se, restando a verticalidade como a única forma de crescimento.

Sobre a velha cidade se adiciona novas estruturas, cada dia mais altas e que se conectam umas com as outras, como uma medida estrutural e também de comunicação, formando apenas uma macro estrutura que à distância se parece com um castelo antigo, cheio de torres ou como uma montanha colossal de aço e concreto.

O conceito de rua, ante este aumento de altura, perdeu todo propósito e utilidade em seu sentido mais tradicional. Os automóveis aproveitam este novo espaço para circular por ruas invisíveis e rodovias flutuantes. As pessoas vivem suas vidas dentro dos arranha-céus, sempre em busca de luz e ar frescos, transitando pelas conexões entre os edifícios que como pontes, são adornados como os novos parques e áreas de convivência. A antiga rua fica então em abandono e as instalações que uma vez estavam em baixo do solo, agora circulam no exterior dando um aspecto mais mecanizado e industrial.

Este mecanismo também vemos refletido na maneira que se apresenta a vida cotidiana de seus habitantes, os quais ficam em segundo plano em relação às estruturas tecnológicas. Os grandes edifícios abrigam habitáculos de estética espacial, pequenos e elaborados completamente de plástico, mas também carcerários, estreitos, e altamente vigiados pelas forças policiais devido ao alto índice de criminalidade.

Devemos esclarecer que, enquanto discutimos ter um grande caráter como uma distopia, porque muitos de seus elementos estão violando a sociedade que nele habita, a cidade está em um meio termo, uma vez que também tem aspectos positivos para o desenvolvimento cidade, como o espaçamento dos edifícios que permitem o acesso a luz já que a cidade não tem setores marginais, mas apresenta-se como um conjunto uniforme. Este duplo caráter reforça o realismo da cidade, que se pode comparar com a atualidade, cidade imperfeita mas cotidiana.

Em relação a seu aspecto estético, embora a cidade se encontra dentro do ano de 2263, possui uma imagem crível e palpável, tão contemporânea e fantástica ao mesmo tempo, ao misturar estilos do passado com o modernismo e o art deco, assim como estruturas de sonhos futuristas e de vanguardas contemporâneas. É uma combinação eclética cuja validez fica perpetuada como um retrato atemporal de uma realidade futura da cidade ocidental.

CENAS CHAVE

1. Uma Ciudade Estratificada

O futuro nos apresenta uma cidade conquistada, densificada e mecanizada, com calçadas e ruas elevadas que unem os edifícios numa só macro estrutura.

2. A cidade da Vertigem

Nova York é apresentada como uma distopia vertical, a qual ajuda ao espectador a compreender melhor a escala monumental da cidade, que mais parece um poço sem fundo.

3. Os Novos Sistemas de Transporte

Para se moverem na cidade vertical, além dos automóveis voadores, as pessoas contam com elevadores que parecem a metrôs interligados à estrutura do edifício.

4. A Tensão entre o Mercado e o Estado

Dentro deste futuro, o meio se encontra monopolizado pelas companhias multinacionais financeiras e tecnológicas, tão poderosas como o Estado e com as forças militares.

5. Um Futuro Plausível de uma Estética Crível

A aparência da cidade, apesar de seu caráter "fantástico" resulta numa estética crível, devido à utilização de elementos comuns, como escadas, carros e pontes.

6. As Conseqüências da Estratificação

As antigas ruas no chão ficaram obsoletas ante o crescimento vertical da cidade, cheias de uma densa fumaça contaminante e instalações que desenterradas e aparentes.

7. O sonho dos Futuristas

Grande parte do desenho da cidade se baseia nos trabalhos dos artistas futuristas do princípio do século XX, baseadas numa cidade mecanizada e cheia de movimento.

8. Cidade de Estilo Ecléctico

A estética da cidade mistura edifícios modernistas, art deco, futuristas e de tendência vanguardista, com um ar industrial, tanto em seu exterior como em seu interior.

9. Nova York como a Capital do Mundo

A cidade se encontra transbordando e os edifícios, repetitivos e densificados, parecem uma grande montanha da qual não se identifica seu início devido à uma grossa fumaça contaminante.

10. Consequências da Superpopulação

A quantidade de pessoas no futuro e sua atividade, geram de maneira discreta toneladas de lixo com a qual tem que conviver devido à incapacidade de a gerir.

11. Habitar numa Cidade Densificada

Dada a superpopulação, a oferta de habitação é reduzida a pequenos módulos de pouquíssimo espaço, labirínticos e cheios de vigilância por câmeras da força policial.

12. Um Ambiente Manufaturado

Dentro dos compartimentos para habitação, parece que saíram de um ambiente espacial devido aos seus detalhes manufaturados: o plástico como material base e ao multi-uso de seu mobiliário.

PERFIL DO DIRETOR

Diretor, roteirista, escritor e produtor de cinema de origem francesa nascido em 18 de março de 1959. Filho de um casamento de mergulhadores sempre quis se tornar um biólogo marinho, mas depois de um acidente durante uma expedição como era criança, mudou de ideia e se dedicou ao mundo do cinema.

Antes de trabalhar em "O Quinto Elemento" já contava com louváveis trabalhos dentro da indústria, como "Imensidão Azul", "Nikita" e "O Profissional", consideradas hoje em dia como filmes cult.

É pertencente do chamado  “Cinema du Look”, movimento de novos diretores de cinema francês cuja preocupação é principalmente atingir um grande estilo visual mais que roteiro perfeito. O mesmo diretor é considerado um produtor-autor, procurando injetar uma grande coerência estilística em seus filmes.

Possui um meticuloso método de trabalho, no qual foca ao cinema como uma fábrica onde artistas de todos os âmbitos se reúnem para formar um mesmo produto, como se fosse uma linha de montagem. Não foi diferente em "O Quinto Elemento" cujo estilo futurista conjugou a célebres criadores das histórias em quadrinhos francêsas, como Jean Claude Mezieres e Jean Giraud também conhecido como “Moebius”.

FICHA TÉCNICA

Data de Estréia: 7 de Maio de 1997
Duração: 126 min.
Gênero: Ação / Ficção Científica
Diretor: Luc Besson
Roteiro: Luc Besson / Robert Mark Kamen
Fotografia: Thierry Arbogast

SINOPSE

Cada cinco mil anos o “mal” ameaça toda a vida do universo. Os “Monanscheiwans”, raça alienígena criou "o quinto elemento” para deter esta força. Ante o descobrimento pelos humanos do quinto elemento na terra, decidem fugir do planeta levando-a junto, com a promessa de regressar.

No ano de 2263 o “mal” reaparece e os Monanscheiwans regressam, mas atacados por um grupo de mercenários, colidem com a superfície lunar. Ninguém sobrevive, mas graças ao seu material genético, a raça humana reconstrói a mulher "perfeita", que se sente ameaçada e escapa... colocando em risco toda a vida do universo.

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Sobre este autor
Cita: Altamirano, Rafael. "Cinema e Arquitetura: "O Quinto Elemento"" [Cine y Arquitectura: "El Quinto Elemento"] 02 Mai 2014. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/601371/cinema-e-arquitetura-o-quinto-elemento> ISSN 0719-8906

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