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Arquitetos: Bruno Rossi Arquitetos, Piratininga Arquitetos Associados
- Área: 320 m²
- Ano: 2019
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Fotografias:Nelson Kon
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Fabricantes: Araucária, Dalle Piagge, Deca, Lumini, Max fer, Mont Blanc, REKA, Securit
Descrição enviada pela equipe de projeto. Um grande muxarabi - janelas com treliças de madeira – chama nossa atenção na Alameda Ministro Rocha Azevedo. Trata-se de um edifício residencial, muito singular também pela sua implantação recuada em relação à calçada, sua morfologia (ou forma) e os poucos materiais de acabamento. Se trata do edifício Antônio Augusto Correia Galvão, localizado nas proximidades da Avenida Paulista em São Paulo, projetado em 1964 pelos arquitetos Alberto Botti e Marc Rubin, ambos sócios da empresa de projetos Botti & Rubin.
Em sua fachada principal, com cerca de 26 metros de comprimento, as vigas e pilares aparentes deixam transparecer a técnica construtiva utilizada e a plasticidade do concreto. Internamente, as grandes aberturas formam um grande pano de vidro e enquadram a cidade permitindo ótimo aproveitamento da iluminação e ventilação natural, enquanto o fechamento com treliças de madeira possibilita o controle de luz.
A concepção estrutural exposta na fachada é convocada a continuar sua narrativa também no interior do apartamento. Quando demolido o forro, é revelada a beleza do sistema modular em concreto armado, que vence pouco mais de 12m com pórticos e uma grelha em concreto, e permite a flexibilidade de ocupação do andar tipo, sem nenhum pilar interno. Com aproximadamente 320m² de área útil, a setorização da planta original claramente separa o apartamento em duas alas: o setor da fachada principal abriga os dormitórios, espaços sociais e não apresenta prumadas hidráulicas, enquanto a área dos fundos recebe os serviços, banheiros e cozinha. Isto posto, a releitura da organização da planta manteve e reafirmou o conceito original em relação à divisão hidráulica.
A maior parte das demolições se deu nas áreas molhadas, alterando os ambientes e garantindo a luz natural e ventilação cruzada. É o caso da cozinha, agora na fachada posterior. As demolições também permitiram maior interação entre cozinha e espaço social, já que esses ambientes passam a ser separados apenas por painéis retráteis, criando duas fachadas de luz e ventilação.
A espinha dorsal do projeto é a estante suspensa do piso com 26m, que conecta o apartamento de ponta a ponta, e se apresenta como um mobiliário estrutural para organizar a circulação e a divisão dos espaços. Sua estrutura principal é toda em chapas de aço, tendo seus módulos preenchidos com volumes fechados de marcenaria, a depender do uso. A composição, além de um desenho adequado à exposição de objetos, responde às necessidades de cada ambiente, seja nas salas de estar, jantar, tv ou dormitórios. Surpreende pela movimentação de partes, por meio de rodízio pendurado, para reconfigurar e dinamizar os espaços originais para situações diferentes.
Além disso, o armário tem a função de demarcar a divisão do que chamamos de “dois hemisférios”: o lado voltado para os ambientes sociais e de dormitórios, na fachada principal, mais urbano e marcado com a recuperação do taco de madeira; o outro, de serviços e áreas molhadas, que se remete ao trabalho, ao fazer, com o piso de ladrilho hidráulico, com cores e formas geométricas. A beleza do trabalho manual também é encontrada no notável painel Panacea Phantastica da artista plástica Adriana Varejão, que reveste a parede da cozinha.
Como contraponto aos nichos da estante, o volume revestido com painéis de madeira define a circulação longitudinal, valorizada pela iluminação. Como resultado, a reorganização dos espaços otimiza e potencializa as qualidades do desenho original. A reforma proposta valoriza a arquitetura moderna do edifício e sua beleza estrutural, apoiando-se no rigor do detalhamento, ampliando a iluminação e as possibilidades visuais através das novas aberturas, e valorizando a circulação.
Uma ousadia proposta pelos donos do apartamento foi a possibilidade de circular entre os quartos e as salas junto das janelas da fachada principal, criando um circuito excepcional para a família. Os convencionais halls de elevadores e o hall interno foram integrados espacial e visualmente, com a oportunidade de trazer iluminação natural para o centro do edifício. Criar espaços de qualidade foi o objetivo em cada elemento pensado neste projeto.