As cidades do futuro têm dois caminhos possíveis: antropocêntrico ou ecocêntrico

Muitas das expectativas que projetamos para o futuro das cidades estão mudando, principalmente à medida que nos deparamos com os atuais, e cada dia mais urgentes, desafios globais—da crise climática a como viveremos juntos.

Ao especularmos sobre o futuro das cidades, não devemos deixar de mencionar o atual processo de crescimento populacional e urbano do planeta, especialmente sobre os possíveis impactos destes fenômenos no que se refere ao acesso à moradia digna, às oportunidades de emprego e à mobilidade urbana no contexto dos grandes centros. Em um intervalo de tempo de trinta anos, não apenas seremos quase 10 bilhões de pessoas vivendo simultaneamente sobre a superfície do planeta Terra, a grande maioria desta população estará concentrada em áreas urbanas e cada vez maiores—onde as consequências das pandemias que estão por vir possivelmente serão muito piores das que estamos testemunhando hoje.

Neste sentido, o tema central da Bienal de Veneza de 2020—transladada para 2021 exatamente por causa da pandemia—“como viveremos juntos?”, parece mais relevante que nunca. Dito isso, é evidente que o futuro se apresente aos nossos olhos hoje como um período de muitas incertezas, para o qual, ainda não encontramos todas as respostas. Fato é que, se há algo possível de se prever olhando para o futuro a partir do presente, é a necessidade de se construir edifícios e espaços urbanos para que estas pessoas possam viver.

Por outro lado, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) afirma que atualmente, o setor da construção civil sozinho é responsável por cerca de 30% de todas as emissões de gases de efeito estufa. Neste sentido, é previsível que a crise climática se agrave no futuro próximo, com desastres naturais cada dia mais frequentes e intensos. Dito isso, a pergunta que não quer calar é: qual será o papel das cidades do futuro, ou melhor, quais seriam os possíveis destinos para as cidades do futuro?

Aproveitando desta oportunidade, decidimos abrir a discussão e ouvir o que os nossos leitores tem a dizer sobre isso. Acompanhe a seguir a opinião de nossos leitores.

O impressionante número de respostas assim como o engajamento de nossos leitores evidencia a relevância da pergunta: como serão as cidades do futuro? Depois de ler e compilar todos os comentários enviados tanto por estudantes de arquitetura, arquitetos, engenheiros quanto por outros profissionais de áreas afins, podemos dizer que a grande maioria dos interessados aponta para uma só direção: precisamos urgentemente de mais espaços de diálogo para pensarmos juntos o futuro das cidades. A seguir, você encontrará diferentes pontos de vista trazidos para o debate por alguns de nossos leitores:

Ponto de vista 1: Antropocêntricas ou Ecocêntricas?

Potencialmente não existirá nenhuma cidade do futuro se não começarmos a mudar a maneira como olhamos para este futuro, devemos superar a ideia de que estas cidades devem ser apenas sustentáveis, precisamos conceber cidades que sejam também regenerativas e biofílicas: que além de verdes, as cidades do futuro devem incluir também espaços capazes de construir comunidades. Desde aspectos físicos e psicológicos à regeneração de toda uma sociedade; é preciso desenhar cidades para todos, eliminar e combater as lacunas sociais presentes nas nossas cidades hoje, projetar estruturas urbanas inclusivas e arquiteturas que respeitem o meio ambiente no qual encontram-se inseridas. Devemos pensar nas cidades do futuro a partir de um lado mais humano e não apenas do ponto de vista econômico. Graças à atual pandemia, passamos a revalorizar a importância do meio ambiente em nossa vida cotidiana. As cidades do futuro têm duas direções. Ou elas continuarão sendo antropocentricas—tais e quais são hoje—, ou assumirão um caráter ecocentrico, tudo dependerá de nós. – Estudante de arquitetura do México

Como serão nossas cidades do futuro? Elas serão passivamente ativas! Através da prática da arquitetura seremos capazes de ativar as nossas cidades, de reconecta-las ao nosso ritmo biológico ou circadiano, este é o maior desafio que todos os profissionais da industria da construção civil devem enfrentar no futuro próximo, em como seremos capazes de prever os possíveis cenários que se desenham para o nosso futuro e assim, poder projetar melhores soluções para poder enfrentá-los. Eu diria que nossas cidades estão em um processo de evolução consciente de um habitat urbano construído para um habitat urbano cultivado. – Arquiteto da Venezuela

Na minha opinião, embora o futuro possa ser muito desafiador, as cidades do futuro não serão muito diferentes daquelas nas quais vivemos hoje. A não ser que as grandes potências econômicas cheguem a um consenso, que consigam unir forças em busca do ideal comum de combater o agravamento das mudanças climáticas (o que parece infelizmente improvável). Esse é o problema que provavelmente terá um maior impacto na aparência das nossas cidades no futuro, em nossa busca por construir edifícios e espaços mais humanos e que resultem em um menor impacto ambiental. – Opinião de um arquiteto da Letônia

Enquanto as cidades dos países de primeiro mundo podem escolher avançar em direção a uma nova visão de futuro, mais segura, inclusiva e ambientalmente sustentável, a maioria das cidades em países de economias emergentes permanecerão reféns de suas tecnologias obsoletas e portanto, desprovidas de condições de escolha por mudanças. Considerando ainda o crescente aumento populacional que estes países testemunham no presente, a superpopulação das cidades somada a consequente difusão das soluções de autoconstrução continuarão a contribuir significativamente para o agravamento das desigualdades e da violência além do impacto ambiental dos processos de construção de nossas cidades. – Profissional da Colômbia

Ponto de vista 2: Construir ou não construir?

Acho que, embora as cidades do futuro possam ser muito parecidas com as cidades de hoje, elas serão melhores: a economia circular será a norma, não a exceção. As cidades se tornarão cada vez mais densas, muito porque as pessoas procuram viver próximas dos lugares onde há maior oferta de emprego e trabalho. A pesar disso, tanto os locais de trabalho quanto os espaços domésticos se tornarão mais flexíveis, adaptando-se às novas formas de vida e trabalho. Novos sistemas de transporte se estabelecerão, assim como os carros elétricos substituirão aqueles movidos a combustíveis fósseis (em alguns países isso já é uma realidade), o compartilhamento de veículos automotores se tornará o padrão e o transporte público se tornará mais sustentável e eficaz do que nunca. A construção civil, e isso não é de hoje, está passando por uma transformação em termos de materiais e processos, tornando-se cada vez mais sustentável e circular. – Arquiteto do México

As cidades do futuro serão literalmente construídas sobre as cidades do presente, processos de restauração e renovação serão a regra, estabelecendo um processo constante de atualização e adaptação dos nossos centros urbanos, os quais serão cada dia mais densos e eficientes. O processo de verticalização se acentuará, incrementando o aproveitamento do espaço e das infra-estruturas pré-existentes. Em contrapartida, para aqueles que procuram mais espaço e contato com a natureza, as paisagens rurais serão aquelas que sofrerão menos impactos e mudanças, onde a identidade cultural correrá menos riscos de desaparecer. Os métodos e sistemas construtivos desempenharão um papel cada vez mais importante no processo de construção de nossas cidades, assim como as novas tecnologias. – Arquiteto da Colômbia

Os processos de planejamento, crescimento e expansão urbana  podem até nos afastar da natureza, mas em contrapartida, a vida na cidade nos proporciona uma série de outros benefícios. Entretanto, o processo rápido e voraz de crescimento urbano pode resultar em um verdadeiro caos (que é exatamente o que eu, infelizmente, acho que irá acontecer); na verdade este é um processo que já está em curso, como podemos observar em cidades como Nairóbi, no Quênia, e Lagos, na Nigéria. Porém, quando tratamos da realidade das cidades do continente africano, imagino que testemunharemos algo muito parecido com o que aconteceu no Brasil das décadas de 60 e 70, quando passamos por um intenso processo de êxodo rural, quando nossas cidades estavam crescendo a um ritmo tão acelerado que era impossível absorver de forma digna todo o contingente humano que chegava naquele momento. Ao que tudo indica, é isso que irá acontecer na África. Este será o principal desafio dos futuros arquitetos e planejadores em contextos como este, os quais precisarão encontrar soluções práticas e também economicamente viáveis para lidar com estes fenômenos, ou então veremos os mesmos erros do passado se repetido no futuro. — Escreve entusiasta da arquitetura do Brasil

Não sei como serão as cidades do futuro, mas acredito que estas cidades deveriam ser construídas considerando aquilo que já existe e funciona, a partir de um conhecimento profundo dos sistemas e infra-estruturas pré-existentes. No chamado terceiro mundo, no contexto das grandes cidades e até megacidades, deveríamos estar pensando em despovoá-las e dar início a um movimento de descentralização da população. Nossa geração carrega consigo uma enorme responsabilidade para com o futuro. Cabe a cada um de nós, arquitetos e arquitetas, mudar o foco das cosias, deixarmos de nos preocupar com a beleza das formas e dar mais importância para questões sociais e  ambientais, para que possamos assim, construir cidades mais inclusivas e sustentáveis. – Arquiteto da Argentina

Sobre este autor
Cita: Dejtiar, Fabian. "As cidades do futuro têm dois caminhos possíveis: antropocêntrico ou ecocêntrico" [Las ciudades del futuro tienen dos rumbos: antropocéntricas o ecocéntricas (en opinión de nuestros lectores)] 13 Fev 2021. ArchDaily Brasil. (Trad. Libardoni, Vinicius) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/956483/as-cidades-do-futuro-tem-dois-caminhos-possiveis-antropocentrico-ou-ecocentrico> ISSN 0719-8906

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