Resgatando o passado: que futuro podem ter os gasômetros desativados?

Considerados marcos paisagísticos por suas imponentes dimensões, os gasômetros surgiram no contexto da Revolução Industrial e estiveram presentes em muitas cidades ao redor do mundo, acompanhando seu processo de urbanização. Com as mudanças na geração e distribuição de gás na segunda metade do século XX e surgimento de novas tecnologias, os gasômetros foram gradualmente desativados. Embora muitos tenham sido condenados à demolição nos últimos anos, muitos também ainda permanecem no tecido urbano e são testemunhas de um passado industrial. Seu potencial para intervenções arquitetônicas, artísticas e paisagísticas nos leva a questionar quais seriam as possibilidades para seu futuro.

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Os primeiros gasômetros surgiram no século XIX com o intuito de armazenar o gás produzido pela queima de carvão para suprir a demanda das cidades em crescimento. No entanto, começaram a ser desativados em diversas partes do mundo entre o final do século XX e início do século XXI, devido ao uso de materiais mais resistentes nas tubulações e à conversão do gás de carvão para gás natural, permitindo que o gás fosse armazenado no subsolo na própria rede distribuidora ou em esferas de alta pressão com volumes menores [1]. Como forma de manter o funcionamento das estruturas de gasômetros, algumas companhias as utilizam como forma de economizar nas instalações e tubulações ou ainda como centros operacionais. 

Gasômetro em West Ham, East London.Foto de Squiddy, via Wikimedia Commons

Apesar dos gasômetros serem considerados bens do período industrial, com valores históricos, paisagísticos e arquitetônicos próprios, decisões de empresas responsáveis por estas estruturas têm, nos últimos anos, determinado a sua demolição. Em 2013, três companhias no Reino Unido anunciaram planos para demolir um total de 187 gasômetros em 16 anos [2]. No entanto, projetos de intervenção realizados nas últimas décadas demonstram que existem outras possibilidades para estas emblemáticas estruturas, que têm diâmetro aproximado de 60 metros e alturas que podem ultrapassar 100 metros.

Um dos mais conhecidos projetos de reuso adaptativo em gasômetros é o complexo do Gasômetro de Viena, que foi adaptado pelos projetos de Jean Nouvel, Coop Himmelb(l)au, Manfred Wehdorn e Wilhelm Holzbauer. Dividido em usos comercial, residencial, escritórios e entretenimento, a nova estrutura foi finalizada em 2001, preservando o exterior em tijolos da estrutura que foi utilizada entre 1899 e 1984, mas desativada depois da mudança de gás de carvão para gás natural entre 1969 e 1978.

Gasômetro de Viena. Foto de tyrosin, via VisualHunt.com / CC BY-NC

Em um recente projeto para o Gasômetro de Estocolmo, Herzog & de Meuron e os paisagistas Piet Oudolf e LOLA intervêm nos edifícios industriais do século XIX projetados pelo arquiteto Ferdinand Boberg, incluindo dois gasômetros de tijolos, que serão preservados. O projeto arquitetônico principal cerca os dois suportes de aço adicionais do início do século 20: enquanto o menor deles abrigará um espaço de exposições, o maior, de 100 metros de altura, será transformado em uma torre de uso misto residencial com uma galeria de arte no térreo.

© Herzog & de Meuron

Com 117,5 metros de altura e diâmetro de 67,6 metros, o imponente Gasômetro de Oberhausen, na Alemanha, foi transformado em um espaço de exposições entre os anos 1993 e 1994, após uma discussão entre os cidadãos, a Câmara Municipal, o Governo Regional e a Emscher Park International Building Exhibition.

Montagem da instalação "Big Air Package" no Gasômetro de Oberhausen. © Wolfgang Volz, 2013 Christo

O gasômetro de Oberhausen, originalmente construído em 1927 - mas reconstruído em 1949 após bombardeios e incêndios -, foi desativado na década de 80 e hoje integra rotas de herança industrial do Vale do Ruhr e da Europa (ERIH). O local abriga instalações artísticas temporárias site specific que se beneficiam das grandes dimensões do gasômetro, como a "Big Air Package" de Christo, em 2013 e a “320° Licht” do URBANSCREEN em 2014.

© Wolfgang Volz, 2013 Christo

Os concursos de projeto são uma boa oportunidade para investigar as possibilidades para adaptação de uma estrutura, ao invés da sua demolição. Este foi o caso de uma competição realizada em 2005, para os Gasômetros de King’s Cross, em Londres. O projeto vencedor, do escritório Wilkinson Eyre Architects, foi realizado em 2017, e manteve a estrutura metálica vitoriana preexistente envolvendo os novos edifícios residenciais. O “esqueleto” remanescente é comum em muitos dos gasômetros desativados no Reino Unido.

Cortesia de Wilkinson Eyre Architects

As possibilidades de uso e de intervenções para gasômetros desativados são inúmeras e a adaptação da estrutura existente pode ter impactos positivos em termos econômicos, culturais, paisagísticos e urbanísticos. Na definição do seu futuro, tais possibilidades se apresentam como alternativas à demolição baseada unicamente na hiper-valorização do terreno onde estão localizados, e atuam de forma a manter uma herança industrial das localidades onde estão inseridos.

Notas:

[1] Gasholders: A History. Squire Energy. Disponível em: <https://squireenergy.co.uk/gasholders-a-history/>
[2] JOHNSON, Daniel. Gasometers: a brief history. The Telegraph. Disponível em: <https://www.telegraph.co.uk/finance/newsbysector/energy/oilandgas/10473071/Gasometers-a-brief-history.html>

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Sobre este autor
Cita: Susanna Moreira. "Resgatando o passado: que futuro podem ter os gasômetros desativados?" 27 Mar 2020. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/936147/resgatando-o-passado-que-futuro-podem-ter-os-gasometros-desativados> ISSN 0719-8906

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