Restrições aos arranha-céus de vidro em Nova Iorque. Que materiais alternativos poderiam tomar seu lugar?

Em abril passado, o prefeito Bill de Blasio, de Nova iorque, anunciou planos para introduzir um projeto de lei que proibiria a construção de novos edifícios totalmente envidraçados. Parte de um esforço maior para reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 30% da cidade, outras iniciativas incluíram o uso de energia limpa para abastecer as operações da cidade, a reciclagem obrigatória de resíduos orgânicos e a redução da compra de plásticos descartáveis e carne processada. O anúncio ocorreu logo após a aprovação da Lei de Mobilização Climática, uma resposta abrangente ao Acordo Climático de Paris que incluía telhados verdes necessários em novas construções e reduções de emissões em edifícios existentes.

© Bizzi & Partners

A decisão de De Blasio deriva da ineficiência energética conhecida das fachadas totalmente envidraçadas, comparadas a "estufas" e que, portanto, exigem quantidades gigantescas de ar-condicionado para serem resfriadas. Com a Agência Internacional de Energia estimando que 40% das emissões globais de CO2 provêm de edifícios e que o ar condicionado constitui 14% de todo o uso de energia, a redução desses números pode ter efeitos indeléveis.

Renderização do edifício de madeira de 73 metros de altura HAUT. Image Courtesy of Team V Architectuur

Mas o que substituiria o arranha-céu de vidro aparentemente onipresente, normalmente associado a enormes estruturas de aço e concreto? Para começar, é improvável que os arranha-céus de vidro sejam "banidos" de fato. Logo após o anúncio surpreendente de De Blasio, o diretor do Gabinete de Sustentabilidade do prefeito, Mark Chambers, esclareceu que novos edifícios, é claro, ainda poderiam usar vidro. O mais provável é que a medida de De Blasio imponha requisitos mais rigorosos ao uso do vidro para garantir eficiência energética e menores emissões. As estruturas de vidro existentes vêm utilizando vários métodos para atingir essas finalidades, desde vidros triplos, sistemas de aquecimento e refrigeração de alta tecnologia, até a incorporação de controle solar estático, móvel ou mesmo responsivo, melhorando o desempenho geral do edifício.

Foto de Brock Commons Tallwood House em construção. Image Courtesy of naturallywood.com

Apesar desse esclarecimento, restringir o uso das paredes cortina de vidro ainda pode ser uma direção desejável a seguir. O ArchDaily vem cobrindo o uso de madeira como material de construção de arranha-céus mais sustentável em várias ocasiões, e a medida de De Blasio, qualquer que seja a forma final, posde ser uma boa oportunidade para catalisar a evolução dos arranha-céus, dando lugar a outros materiais predominantes. Os benefícios da construção em madeira são inúmeros, com as emissões do ciclo de vida das construções em madeira chegando a 74% mais baixas do que as das construções em aço. Um material natural e renovável, a madeira não reduz apenas as emissões de gases de efeito estufa, mas armazena carbono por meio de um processo chamado sequestro de carbono. Ele também pode resistir ao fogo por meio de uma combinação das características naturais da madeira maciça e procedimentos à prova de fogo. A madeira também não é necessariamente mais fraca do que os materiais mais tradicionais, como aço ou concreto - a madeira laminada cruzada (CLT), por exemplo, oferece a mesma resistência estrutural que o concreto armado, mas é um material altamente flexível e, portanto, com menos probabilidade de quebrar. Um metro cúbico de CLT também pesa seis vezes menos que um metro cúbico de concreto, mas exibe o mesmo nível de resistência. Com o projeto de lei de De Blasio impondo restrições ainda mais pesadas às construções envoltas em vidro, arquitetos e desenvolvedores devem considerar procurar materiais de construção alternativos, como madeira.

Foto do Wood Innovation Design Center.Image © Ema Peter

Outra opção para os projetistas que desejam abandonar a tipologia de construção envolto em vidro, mas ainda manter ampla luz natural, é o concreto transparente, também chamado de concreto transmissor de luz. Produzido com a adição de fibras ópticas na mistura de concreto, o concreto transparente permite que a luz natural continue sendo filtrada em um edifício, mesmo sem vidro. Uma combinação de janelas de vidro reduzidas e paredes de concreto transparentes reduziria as necessidades de resfriamento, limitando o efeito estufa e as necessidades de iluminação, permitindo a entrada de luz natural. No entanto, aqueles que consideram a construção com concreto transparente devem lembrar que as emissões de carbono e o uso de energia na produção de concreto são muito maiores que os da madeira e nominalmente mais baixos que o do aço.

O painel de concreto translúcido 'i.light', desenvolvido pela empresa Italcementi, foi utilizado em larga escala no pavilhão italiano da Shanghai Expo 2010. Image © Daniele Mattioli / ANSA

Mudanças importantes estão sendo feitas na maneira como os prédios são projetados e construídos em Nova Iorque, estejam os desenvolvedores e arquitetos a bordo ou não. Mas com a emergência climática permanecendo uma questão mais urgente do que nunca, os projetistas não devem apenas ser coagidos à prática sustentável, mas devem abraçar a responsabilidade que têm com ela. Substituir a predominância de paredes cortinas por materiais alternativos e mais ecológicos é uma boa maneira de começar, e com a medida de Blasio como catalisadora, é possível que as práticas de construção mudem para melhor.

Sobre este autor
Cita: Cao, Lilly. "Restrições aos arranha-céus de vidro em Nova Iorque. Que materiais alternativos poderiam tomar seu lugar?" [De Blasio's Glass Skyscraper Ban: What Alternative Materials Could Take its Place?] 20 Jan 2020. ArchDaily Brasil. (Trad. Souza, Eduardo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/931807/restricoes-aos-arranha-ceus-de-vidro-em-nova-iorque-que-materiais-alternativos-poderiam-tomar-seu-lugar> ISSN 0719-8906

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