Gentrificação: 13 artigos para formar uma opinião sobre o tema

Os processos de transformação e desenvolvimento das cidades podem, muitas vezes, acarretar efeitos colaterais ou imprevistos quando o caráter desses movimentos é autônomo e não planejado. Esses resultados nem sempre são positivos, e podem representar o desencadeamento de fenômenos como a gentrificação, que pode se tornar um verdadeiro problema social, prejudicando diretamente a população de menor renda. Apesar disso, também é evidente que algumas transformações usualmente relacionadas a tal fenômeno podem significar melhorias e reativação de espaços subutilizados nos centros urbanos, e o limiar entre esse cenário enquanto virtude ou problema é um contínuo tema de debate entre arquitetos e urbanistas.

Por ser um tema que gera divergências e polêmicas e de difícil conceituação, é necessária uma constante atualização e leitura a respeito de como a gentrificação afeta as cidades ao redor do mundo e das formas possíveis de lidar com esse processo que parece irremediável nas discussões sobre cidade na atualidade. Para estimular o debate e contribuir com a formação de opinião a respeito do assunto, reunimos uma seleção de 13 artigos que apresentam visões diferentes a respeito do assunto, além de exemplos de suas causas e potenciais soluções adotadas em diferentes cidades.

Tudo o que causa a gentrificação, de A a Z

Transformações em São Paulo. Foto: sputnik 57 on VisualHunt / CC BY-NC-SA

O artigo explora um alfabeto inteiro de aspectos que podem ser entendidos como causadores da gentrificação. De cafés e galerias à internet e smartphones, da presença de artistas à influência do mercado financeiro, do declínio da criminalidade à influência simbólica do High Line de Nova Iorque, a lista inclui uma infinidade de causas para "apontar o dedo".

Placemaking vs gentrificação: a diferença entre requalificar e elitizar um espaço público

Requalificação do High Line, linha férrea desativada de Nova Iorque, elevou os preços dos imóveis da região. Image © Steven Severinghaus, via Flickr. CC

A noção por trás da placemaking foi originada nos anos 1960, quando escritores como Jane Jacobs e William H. Whyte passaram a desenvolver ideias inovadoras sobre a criação de cidades que atendiam às pessoas, focando na importância de bairros vivos e convidativos. Já o termo gentrificação foi cunhado em 1964 pela socióloga britânica Ruth Glass para descrever o fluxo de pessoas da classe média que deslocou moradores de classe baixa de bairros urbanos. A socióloga ilustra a gentrificação ao citar o exemplo do bairro de Islington, no norte de Londres, onde modestos e velhos chalés foram tomados quando suas licenças expiraram e transformados em residências elegantes e caras.

Dicionário Iphan do Patrimônio Cultural: o que é "gentrificação"

Greenwich Village, Nova Iorque, EUA. Foto: © Daniel Mennerich, via Flickr; Licença CC BY-NC-ND 2.0

O vocábulo “gentrificação” é um aportuguesamento do inglês gentrification, usado pela primeira vez, provavelmente, pela socióloga britânica Ruth Glass na obra London: aspects of change (1964), onde a autora descreveu e analisou determinadas mudanças na organização espacial da cidade de Londres. O termo ganhou popularidade após seu uso em trabalhos acadêmicos sobre a temática, acompanhando um fenômeno urbano presente em diversas temporalidades e espacialidades: o deslocamento, processual ou súbito, de residentes e usuários com condições de vida precárias de uma dada rua, mancha urbana ou bairro para outro local para dar lugar à apropriação de residentes e usuários com maior status econômico e cultural.

O perigo da “gentrificação verde”

Cortesia de CicloVivo

“Iniciativas de recuperação ambiental são sempre positivas, mas precisam ser analisadas de uma forma mais ampla. Elas melhoram as condições ambientais do bairro, mas geram a gentrificação verde, o que é extremamente negativo”, disse Tammy Lewis, professora de Sociologia e Ciências Ambientais e da Terra na City University of New York (CUNY).

Gentrificação: envergonhar-se não basta

"Gentrificação em processo - Haverá cupcakes!". Cartaz em Cheshire Street em Londres. Imagem © MsSaraKelly [Flickr CC]

Já falamos anteriormente sobre gentrificação, o "processo de expulsão de populações socialmente vulneráveis das regiões urbanas centrais", como coloca López Morales. Embora ocorra há décadas no hemisfério norte, a análise de seu impacto é relativamente nova na América Latina, assim como seus causadores e consequências variam em função de cada cidade.

“Gentrificação Latinoamericana”: uma oportunidade para a inclusão?

Via Plataforma Urbana

Nos primórdios, o uso desta palavra fazia alusão principalmente aqueles bairros que historicamente concentraram imigrantes, pobreza e criminalidade, e que dado a sua mutação sócio-espacial terminam convertidos em centros boêmios, onde abunda a arte, o design e a vida noturna. Exemplo deles são: o Soho, Nolita, Tribeca ou Village em Nova Iorque, East End em Londres, Pobleneu em Barcelona e San Telmo em Buenos Aires.

Precisamos falar sobre Gentrificação e Ecossistemas de Inovação

© The People Speak / Flickr licença CC BY 2.0

O objetivo deste post é refletir sobre como americanos e alemães estão enfrentando a questão, cada um à sua maneira. Além disso: que lições podemos tirar dessas experiências, visto que este pode vir a ser um problema de cidades brasileiras que vem se destacando no cenário nacional de empreendedorismo e inovação?

Gentrificação: os perigos da economia urbana hipster

Intervenção artística "Psychylustro". Imagem © Knight Foundation [Flickr]

Nesse artigo, publicado originalmente em Al Jazeera como "The peril of hipster economics", a escritora e pesquisadora estadunidense Sarah Kendzior escreve que a deterioração urbana em alguns bairros das principais cidades do mundo se converteu lamentavelmente em um conjunto de peças urbanas a serem "remodeladas ou idealizadas" pela gentrificação.

Ficção imobiliária 3: a gentrificação será televisionada

Screenshot de "Ficção imobiliária 3"

Nesta colaboração, o coletivo espanhol Left Hand Rotation apresenta o encerramento da trilogia Ficção Imobiliária, um relato cinematográfico sobre filmes de diversos estilos e diferentes épocas, mas todos relacionados com temas que tratam sobre moradia: especulação imobiliária, processos de gentrificação e consequências da globalização na cidade contemporânea.

Como os empreendedores transformaram o grafite em um Cavalo de Tróia para a gentrificação

5 Pointz. Imagem © Flickr user iamNigelMorris licença CC BY 2.0

Ultimamente, os grafites tornaram-se cada vez mais sancionados pelo governo. Iniciativas de arte pública protegidas, como Open Walls Baltimore eVenice (Beach) Public Art Walls , são pontos de referência dignos de peregrinação. Originalmente destinado a desencorajar a destruição de propriedades privadas, esses centros de arte de rua são os novos Cavalos de Tróia das revitalizações.

Barcelona aumentará a construção de habitação social para lutar contra a gentrificação

Habitações Sociais. Flores & Prats. Imagem © Alex García

A cidade de Barcelona permanece firme em sua luta contra os processos especulativos e a gentrificação que atualmente estão aumentando a desigualdade de oportunidades que a população encontra para acessar uma moradia digna e economicamente viável. Neste sentido, a Comissão de Ecologia, Urbanismo e Mobilidade da cidade de Barcelona aprovou inicialmente dois novos instrumentos urbanísticos para abordar o problema do acesso a moradia digna e proteger o equilíbrio social dos bairros, respondendo às demandas promovidas por entidades como a Federação das Associações de Moradores e Vizinhanças de Barcelona (FAVB), Plataforma de Atingidos pela Hipoteca (PAH), Observatório DESC, Assembleia de Bairros de Turismo Sustentável (ABTS) e Sindicato dos Inquilinos.

Bjarke Ingels: "Gentrificação não é só negativa, também é o motor para a redefinição do urbano”

Fotografia: Columbia GSAPP no Visual hunt / CC BY

Sobre as cidades do século XXI e o caso das grandes empresas de tecnologia que contratam escritórios - dentre os quais o BIG - para projetar suas sedes em áreas isoladas, Ingles advoga a favor de uma reinvenção do urbano, dizendo que "a cidade é muito mais. Uma porcentagem muito pequena mora no centro. Essas empresas não nasceram nas cidades, e isso abre um mundo a se explorar que me interessa."

É possível construir uma sociedade mais justa através da arquitetura?

Gijs Van Vaerenbergh's Labyrinth of Boolean Voids in Genk, Belgium. Imagem © Filip Dujardin

Uma cidade que oferece melhores oportunidades socioeconômicas, não deve preocupar-se apenas com regulamentação das dinâmicas das forças de trabalho, mas em garantir que a cidade  a qual se promove este acesso amplo e irrestrito-, seja capaz de suportar equilibradamente a convivência dos mais diversos padrões socioeconômicos, evitando o desdobramento de processos de gentrificação. Um espaço urbano compacto é geralmente mais eficiente e democrático, uma vez que a localização é o principal elemento integrante do valor do solo urbano e consequentemente, definidor das condições de acesso à cidade.

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Sobre este autor
Cita: Julia Daudén. "Gentrificação: 13 artigos para formar uma opinião sobre o tema" 28 Nov 2019. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/929221/gentrificacao-13-artigos-para-formar-uma-opiniao-sobre-o-tema> ISSN 0719-8906

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